A ideia de que Jannik Sinner iria chegar ao topo do ténis mundial não era propriamente uma quimera. Apesar de ter apenas 22 anos, o tenista italiano cimentou-se como uma das próximas next big things nas últimas duas temporadas, chegando aos quartos de final do US Open e de Roland Garros e às meias-finais de Wimbledon. Ainda assim, poucos esperavam que começasse desde já a conquistar o mundo — e na Austrália.

Com a impactante vitória deste domingo contra Daniil Medvedev, que lhe valeu o primeiro Grand Slam da carreira, Sinner assumiu definitivamente a posição de principal oponente de Carlos Alcaraz na corrida à herança de Djokovic, Federer e Nadal. Mais do que isso, o jovem italiano quebrou a ideia de que não conseguia apresentar-se ao mais alto nível contra os melhores tenistas do mundo — entre 2021 e 2022, só venceu um de 14 jogos contra o top 5 do ranking. Em 2023 e já 2024, desde que caiu na meia-final de Wimbledon com Djokovic, venceu 10 dos 11 jogos contra o top 5 do ranking, incluindo três triunfos perante o sérvio.

Começou no esqui e tem uma claque de cenouras: Sinner foi criado a -20.ºC e já mostrou onde consegue chegar com cabeça fria

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De forma natural, e até por ser o primeiro tenista italiano a conquistar um Grand Slam desde que Adriano Panatta ganhou Roland Garros em 1976, Jannik Sinner é o grande protagonista da comunicação social do país nesta segunda-feira. O jovem é dono e senhor das capas dos principais jornais, com o La Gazzetta dello Sport a chamar-lhe “menino de ouro” e o La Stampa a preferir a designação “homem de todos os sonhos”.

Pelo meio, vão surgindo notícias sobre alguns dos segredos do italiano — principalmente o segredo que leva sempre na mala de viagem quando se desloca para todos os torneios. Em conjunto com as raquetes, a roupa e tudo aquilo de que precisa, Jannik Sinner viaja sempre com uma pequena pasta que lhe foi dada por Riccardo Ceccarelli, um reputado médico italiano. Dentro da pasta estão um joystick e uma espécie de faixa para colocar na cabeça e medir o consumo de energia cerebral e o batimento cardíaco enquanto o tenista cumpre uma série de exercícios no computador.

“O nosso treino tem como objetivo gerar demasiadas situações que permitam analisar sensações como raiva, desânimo, cansaço, calma ou eficácia e que vai associá-las com os diferentes momentos de cada jogo. Nos últimos anos acrescentámos dois investigadores à nossa equipa, que trabalham os parâmetros cardíacos e cerebrais e criam um novo hardware e software para estudar e otimizar o rendimento”, explicou o médico numa entrevista ao Eurosport, indicando que a clínica Formula Medicine em Viareggio, conta atualmente com três médicos, três psicólogos e três preparados físicos.

O nome da clínica não é um acaso. Riccardo Ceccarelli trabalha há mais de 30 anos com pilotos de Fórmula 1, colaborando com Ayrton Senna, Fernando Alonso, Max Verstappen ou Charles Leclerc, sendo que o monegasco foi mesmo o nome mais recente a adotar o método do italiano. A ligação ao desporto motorizado também se estende ao MotoGP, onde trabalhou com Marco Melandri, Casey Stoner e Jorge Martín, sendo que a relação com Jannik Sinner começou em 2020 e quando Riccardo Piatti, então treinador do tenista, decidiu que este precisava de uma ajuda extra do ponto de vista mental.

“No ténis, tal como na Fórmula 1, o rendimento depende mais do cérebro do que dos músculos. Bater bolas a um centímetro da linha durante três horas, uma vez que o corpo está treinado, é sobretudo uma questão de cabeça. Diz-se ‘mente sã, corpo são’, mas também acontece o contrário. O nosso método é o resultado de centenas de testes sob stress. Treinamos os nossos atletas para que consigam reduzir a carga emocional durante um erro, um arrependimento, um pensamento negativo, uma derrota”, acrescentou Riccardo Ceccarelli.