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Pouco mais de duas horas depois de ser libertado pelo tribunal, no seguimento da decisão favorável que teve na manhã de segunda-feira, Novak Djokovic já estava com toda a sua equipa na Rod Laver Arena, o palco de todas as decisões no Open da Austrália. Transpirado, confiante, com um ar quase de alívio depois de uma novela que o “adversário” Rafa Nadal descreveu de forma pragmática como “um circo” que teve tanto de mediático como de desnecessário. No entanto, a novela pode não ter ainda chegado ao fim. E se também o tenista espanhol falava num ponto final depois de haver uma decisão da Justiça, o facto de haver essa mesma decisão assente em factos que podem não ser aquilo que pareciam vem reabrir o risco de deportação.

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Primeira contradição: o alegado teste PCR positivo apresentado pelo jogador, um teste que foi realizado a 16 de dezembro às 13h05 e que teve o seu resultado nesse mesmo dia às 20h19. Olhando para o que se passou até dia 22, altura em que foi feito um teste PCR negativo, Djokovic esteve presente sem máscara em vários eventos entre os quais uma cerimónia em que foi homenageado com a criação de selos postais no país natal com a sua imagem em reconhecimento pelos feitos desportivos (dia 17), uma passagem pelo centro de treinos da sua Fundação para entregar taças aos melhores jovens jogadores (dia 17) e uma entrevista com respetiva produção fotográfica ao jornal francês L’Équipe (dia 18). No mínimo, um paradoxo. Mas não fica por aí.

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De acordo com o Der Spiegel e o The New York Times, através do especialista em ténis Ben Rothenberg, o QR Code que era apresentado no supracitado teste apresentava sempre um resultado negativo e só nas últimas horas é que mudou, passando a apresentar um resultado positivo como era referido no papel. Perante essa dúvida, o irmão do jogador, Djorde Djokovic, referiu apenas que “o processo era público e os documentos que tinham sido apresentados eram legais”. No entanto, questionado sobre o aparecimento em eventos públicos após o dito teste positivo, a família do número 1 do ranking ATP terminou a conferência.

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Segunda contradição: o preenchimento dos formulários que pediam a entrada no país. Sendo certo que o jogador viajou do Dubai para Melbourne com a “isenção médica” consentida, escreveu na burocracia que era exigida que não tinha feito qualquer viagem nos últimos 14 dias antes de 4 de janeiro. As imagens nas redes sociais, essas, mostram outra realidade. E uma das fotografias que provam o contrário é com um jogador de andebol do Benfica, Petar Djordjic, em Belgrado, a 25 de dezembro, existindo também imagens num treino feito numa academia em Marbella. Mais: de acordo com as leis fronteiriças australianas, prestar uma informação falsa neste contexto é considerado um delito grave punível com ações civis.

A Sérvia continua a defender o jogador, expoente máximo a nível desportivo do país, e a primeira-ministra, Ana Brnabic, ligou mesmo ao homólogo australiano Scott Morrison pedindo aquilo que descreve como uma tratamento de respeito e justo ao tenista. “Brnabic pediu ao seu homólogo australiano que faça tudo o que puder para que Djokovic tenha um tratamento humano e digno na Austrália”, destacou numa nota emitida pelo seu gabinete onde falava também nas condições de treino que lhe foram inicialmente negadas.