As críticas têm sido recorrentes, consistentes e repetitivas: o Manchester United não tem uma ideia clara de jogo, não tem um fio condutor e não tem um projeto sólido a partir do qual seja possível construir o presente e o futuro com base no passado. Ainda assim, os problemas do clube são um autêntico elefante na sala: ninguém sabe se a culpa é do treinador, dos jogadores ou da direção, ninguém sabe o que falta e ninguém sabe o que está a mais. Ninguém, ao que parece, à exceção de Cristiano Ronaldo.
Numa manobra pouco habitual, o avançado português deu uma longa entrevista à Sky Sports, assumiu os problemas internos e desportivos do Manchester United e garantiu que é preciso mudar alguma coisa para que Old Trafford volte a ser um local para celebrar vitórias. “Não aceito que a nossa mentalidade seja pensar abaixo do terceiro lugar da Premier League. Para se construir coisas boas, às vezes é preciso destruir. Por que não? Estamos num novo ano, uma nova vida, e espero que o Manchester United possa estar ao nível que os adeptos querem. Eles merecem isso. Somos capazes de fazer coisas boas. Conheço o caminho mas não o vou explicar porque não seria ético da minha parte. O que posso dizer é que podemos fazer melhor. O Manchester United está destinado a grandes feitos e temos de mudar isto. Não quero estar aqui para estar em sexto, em sétimo ou mesmo em quinto. Estou aqui para ganhar”, explicou Ronaldo, garantindo que Ralf Rangnick precisa de “tempo” para implementar ideias mas reconhecendo que a ideia de ter um treinador a prazo não é ideal.
Cristiano Ronaldo: 'I don’t want to be here…to fight to be in sixth place or seventh place or fifth place'
(via @SkySportsNews)pic.twitter.com/InRd2A1erf
— B/R Football (@brfootball) January 13, 2022
“Não tem sido fácil, para ser honesto. Ele nunca esteve na liderança de um clube grande e pode estar a tentar encontrar-se num clube como o Manchester United, porque certamente que é o maior onde já esteve. Ainda não conseguiu causar um grande efeito. A esperança era de que conseguisse aguentar o barco, garantir o quarto lugar na Premier League e depois trazer um novo treinador mas as coisas não estão a sair bem neste momento. Ter um treinador interino afeta alguns jogadores, as suas atitudes e desempenhos, porque sabem que estão a receber indicações de alguém que vai embora no final da época. Até pode sair-se bem e dar a volta a isto mas penso que tem um efeito psicológico em alguns jogadores. Não é a situação ideal quando se sabe que ele está a prazo, porque o treinador tem de se sentir seguro da sua posição para comandar com autoridade e respeito. Um treinador ficar por apenas quatro meses não é bom”, acrescentou, arrasando por completo a estratégia seguida pela cúpula dos red devils para o resta da temporada.
Contudo, era ainda neste contexto que o Manchester United visitava este sábado o Aston Villa para a Premier League — defrontando os villains de forma consecutiva, já que venceu a equipa de Steven Gerrard na segunda-feira na terceira ronda da Taça de Inglaterra. Ainda sem Cristiano Ronaldo, que voltava a ficar de fora devido a um problema muscular na coxa depois de também já ter falhado essa partida no início da semana devido a uma questão na anca, Ralf Rangnick também não tinha o lesionado Rashford e os castigados Luke Shaw e McTominay. Assim, Alex Telles era titular na esquerda da defesa, Matic aparecia no meio-campo ao lado de Fred e o jovem Anthony Elanga, de apenas 19 anos, aparecia no apoio a Cavani, para além dos portugueses Diogo Dalot e Bruno Fernandes. Do outro lado, o grande destaque era Philippe Coutinho, o grande reforço de inverno do Aston Villa que ainda não surgia no onze mas já aparecia no banco de suplentes de Gerrard.
A big opportunity for Anthony Elanga today ????#MUFC | #AVLMUN pic.twitter.com/xFPIXOb1wR
— Manchester United (@ManUtd) January 15, 2022
O Manchester United entrou melhor e acabou por abrir o marcador ainda nos instantes iniciais — ainda que graças a um enorme infortúnio do Aston Villa. Bruno Fernandes apareceu tombado na esquerda, atirou rasteiro de fora de área, Cavani desviou-se do caminho da bola e Emiliano Martínez foi totalmente traído, sendo completamente responsável por um golo em que ficou muito mal na fotografia (6′). O guarda-redes argentino redimiu-se ao parar um remate de Greenwood (18′), evitando o avolumar da vantagem, e De Gea respondeu na baliza contrária com defesas a tentativas de Buendía (36′) e Digne (43′). Na ida para o intervalo, os red devils estavam longe de uma exibição brilhante mas iam fazendo o suficiente para resguardar a vantagem alcançada numa fase embrionária da partida e evitar as investidas dos villains.
Na segunda parte, Gerrard tirou Konsa e lançou Hause e o Aston Villa correu atrás do prejuízo. Os visitantes subiram as linhas, tiveram mais bola e instalaram-se no meio-campo adversário — mas era o Manchester United quem criava as principais oportunidades de golo. O jovem Elanga ficou muito perto de aumentar a vantagem (47′), Greenwood falhou o alvo em duas ocasiões quase consecutivas (59′ e 61′) e Bruno Fernandes só precisou de mais uma brecha para bisar e deixar a equipa de Ralf Rangnick bem mais confortável. Na sequência de um passe errado da defesa dos villains, Fred aproveitou para recuperar a bola e assistiu o médio português, que atirou em força para bater Martínez (67′).
Mas o conforto, neste Manchester United, nunca pode ser levado a sério. Jacob Ramsey reduziu a desvantagem com um grande remate que não deu hipótese a De Gea (77′), Rangnick ainda tentou evitar o mais previsível com a entrada de Jadon Sancho mas não soube evitar a noite poética de Philippe Coutinho: o brasileiro entrou na segunda parte, regressou à Premier League cinco anos depois e foi a tempo de empatar o encontro e resgatar um ponto para o Aston Villa (82′). Os red devils desperdiçaram uma vantagem de dois golos, voltaram a tropeçar na Premier League e estão cada vez mais longe dos lugares de acesso à Liga dos Campeões, adivinhando-se uma época muito cinzenta.