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O documentário de Marco Martins sobre o Ballet Gulbenkian é também uma “história do corpo e da libertação do preconceito"

Este artigo tem mais de 2 anos

“Extraordinário documento, por vezes tocante”, com “sensibilidade, elegância e inteligência”, disse a presidente da Gulbenkian. Documentário de Marco Martins nas salas e na RTP nas próximas semanas.

Passagem do Ballet Gulbenkian por Sevilha em 2003, quando Iracity Cardoso era diretora artística
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Passagem do Ballet Gulbenkian por Sevilha em 2003, quando Iracity Cardoso era diretora artística

CRISTINA QUICLER/AFP

Passagem do Ballet Gulbenkian por Sevilha em 2003, quando Iracity Cardoso era diretora artística

CRISTINA QUICLER/AFP

Marco Martins descreve-o como um filme “sobre a história de Portugal no fim do século XX, através dos olhos de uma companhia de dança”. Mas há mais. “Um Corpo que Dança — Ballet Gulbenkian 1965-2005”, que o realizador apresentou em antestreia na terça-feira à noite no Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, é também “o retrato da transformação do corpo dos portugueses ao longo de quatro décadas”, incluindo “aspetos que continuam a ser prementes na nossa sociedade”.

O documentário tem a duração de cerca de duas horas e está dividido em 12 capítulos que reconstituem a história do Ballet Gulbenkian, ao mesmo tempo que relatam a evolução social, cultural e política do país. Com recurso a imagens de arquivo, algumas das quais inéditas — sobretudo imagens da RTP no período de 1965 a 1978 —, surgem excertos de coreografias célebres e são narrados os altos e baixos daquela que terá sido a mais importante companhia de dança portuguesa — cuja extinção, decidida pela Gulbenkian há quase 17 anos devido a “alterações profundas no panorama da dança”, ainda hoje causa espanto.

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Além do papel de Madalena Perdigão como figura tutelar da companhia, antes e depois do 25 de Abril de 1974, são destacados bailarinos e coreógrafos que por ali passaram ou tiveram um papel relevante na dança teatral portuguesa do século XX, como Walter Gore, Vasco Wellenkamp, Milko Sparemblek, Águeda Sena, Elisa Worm, Graça Barroso, Carlos Trincheiras, Isabel Santa Rosa, Armando Jorge, Anna Mascolo, Luna e Clara Andermatt, Olga Roriz, Filipa Mayer, Benvindo Fonseca, Paulo Ribeiro, Vera Mantero, Romeu Runa, Allan Falieri, muitos outros. Todos os depoimentos são apresentados em voz off, muitos deles recuperados da época e outros recolhidos agora de propósito para o filme.

“Não quis fazer um documentário laudatório das qualidades do Ballet Gulbenkian, apesar de elas estarem ali apresentes, nem quis dar voz a um historiador ou investigador específico. Quis que a narração viesse do testemunho direto”, explicou Marco Martins ao Observador, depois da exibição do filme. “Queria fazer um filme com o ponto de vista dos criadores, dos coreógrafos e dos bailarinos.”

Uma legenda final assinala que o documentário é dedicado a Jorge Salavisa (1939-2019), diretor artístico do Ballet Gulbenkian entre 1977 e 1996 e um dos mais influentes programadores culturais em Portugal. O nome de Salavisa é referido várias vezes e ganha preeminência num capítulo que lhe é inteiramente dedicado.

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“Um extraordinário documento, por vezes tocante”

A sessão de antestreia, na terça-feira, contou com a presença de vários nomes históricos da dança, além da ministra da Cultura, Graça Fonseca, e do presidente da RTP, Nicolau Santos. Houve uma longa ovação no fim e lágrimas de espectadores que se comoveram com as recordações que o documentário evoca.

A presidente da administração da Gulbenkian, Isabel Mota, fez um discurso inicial onde contou que num encontro com Jorge Salavisa em 2019 este lhe sugeriu de “forma muito convincente que a história do Ballet Gulbenkian fosse contada em filme e que Marco Martins fosse o realizador a convidar”. Classificou o filme como “um extraordinário documento, por vezes tocante”, feito com “sensibilidade, elegância e inteligência”.

“Estamos todos bem conscientes do papel central que o Ballet Gulbenkian desempenhou na construção do projeto artístico da Fundação e da sua relação com a sociedade portuguesa”, sublinhou a presidente da Gulbenkian. Esteve também presente no Grande Auditório o sucessor de Isabel Mota, António Feijó, que deverá iniciar funções a 3 de maio.

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“Paralelismo com o que se passava cá fora”

Marco Martins começou a trabalhar em “Um Corpo Que Dança…” a seguir à morte de Jorge Salavisa, em setembro de 2020. “Foi muito evidente que para fazer a história do Ballet Gulbenkian tinha de sair da cave de ensaios e do Grande Auditório, porque a importância enorme desta companhia só seria percetível se tivesse um paralelismo com o que se passava cá fora, principalmente nos seus primórdios”, assinalou.

“Achei importante fazer um trabalho ambicioso não só sobre a história do Ballet Gulbenkian, não só uma história da dança, mas uma história do corpo nos últimos 40 anos. A narrativa inclui também a ideia da libertação do corpo, da libertação do preconceito, da história do género, da libertação feminina, do fim do colonialismo, há muitos temas que atravessam o filme”, disse o realizador.

Daí as imagens de arquivo que narram o salazarismo, a censura, a Guerra Colonial, a religiosidade, a emigração, as crises e revoluções, a afirmação dos feminismos, dos negros e das minorias sexuais ou os grandes acontecimentos culturais dos anos 90.

O realizador notou ainda que, “como as artes e a sociedade estão em permanente comunicação”, o documentário mostra determinados períodos em que “o que estava na rua era mais vanguardista e provocador” do que aquilo que se passava na criação e na gestão do Ballet Gulbenkian, e outros períodos em que era o Ballet Gulbenkian que fazia a vanguarda.”

O filme é uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian, com produção da Vende-se Filmes e a participação da RTP. Deverá estrear-se até março nas salas de cinema e logo a seguir será exibido pela RTP em dois episódios, disse o realizador. A pesquisa e as entrevistas foram feitas pyro Marco Martins em colaboração com Ana Bigotte Vieira, João dos Santos Martins, Luiz Antunes e Maria José Fazenda. A música original é de Filipe Raposo.

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