Quanto mais jogos, maior pressão. Quanto mais pressão, melhores jogos. Quantos melhores jogos, mais possibilidade de manter o sonho de conquistar a Taça das Nações Africanas, mesmo havendo um playoff de apuramento para o Campeonato do Mundo em março que é a grande prioridade e mesmo tendo um leque de jogadores sem a experiência internacional de outros conjuntos. Depois da vitória dos Camarões frente à Gâmbia, era a vez da outra equipa comandada por um português procurar também um lugar nas meias e com mais um encontro de grau de dificuldade elevado contra outro dos conjuntos com possibilidades de chegar à final da CAN. No entanto, o Egito chegava no melhor momento a esse confronto, depois de uma passagem com a Costa do Marfim nas grandes penalidades onde deixara uma excelente imagem.
“A pressão faz parte, não podemos viver sem pressão. Quando estamos em competição isto é um negócio de ganhar, de pressão. Mas para mim a pressão é uma fonte de inspiração e é isso que tento passar aos jogadores, tento que os jogadores percebam que a pressão de fazer milhões de adeptos felizes é boa para nós porque não ficamos felizes se não formos bem sucedidos. Os jogadores levam isso muito a sério. A pressão dá-nos força para jogar para o povo. Muitos falam de pressão como elemento de perturbação mas sem pressão o futebol não existe”, comentara o técnico. “Mas pressão é uma coisa, outra são as agendas pessoais, interesses e pessoas que não têm interesse que a equipa ganhe, que tentam matar tudo quando chegam novos jogadores, novas decisões e há algo de novo…. Mudar, para essas pessoas, dá muito trabalho. Odeiam trabalho e mudança. Há muita gente para quem a mudança não interessa”, acrescentara.
Apesar do forte apoio dos muitos adeptos egípcios que superaram e muito os apoiantes marfinenses, e que foi reconhecido por Queiroz, o treinador não esquecera as críticas internas perante as decisões tomadas e voltava a apostar neste encontro com Marrocos depois da excelente resposta dada pela equipa diante da Costa do Marfim mesmo partindo na teoria como outsider na eliminatória. E era por isso também que mantinha a estrutura da equipa em relação ao último jogo, num 4x3x3 sem uma referência definida a fazer ligação ao ataque no meio-campo, o tal número 10 muito reivindicado pela imprensa local.
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Frente a Marrocos, o Egito vestiu uma série de peles táticas distintas. Começou como é habitual em 4x3x3, testou depois em 4x4x2, passou ainda pelo 3x4x3. Tudo a ler os momentos de um jogo que voltou a ir para prolongamento e que terminou outra vez com vitória dos Faraós por 2-1. Assim, existe já uma certeza: seja António Conceição, seja Carlos Queiroz, haverá um treinador português na final da CAN.
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O encontro não poderia ter começado pior para os Faraós, com Ashraf a carregar Hakimi na área e o VAR a confirmar a grande penalidade que seria convertida sem hipóteses por Boufal logo aos seis minutos. No entanto, o Egito foi tentando reagir da melhor forma e foi o próprio Ashraf a dar o mote depois da falta que originou o 1-0, num remate de fora da área para defesa de Bono (18′). Fattoh tentaria também o golo de meia distância mas o intervalo chegaria com o conjunto de Marrocos ainda na frente, mesmo não tendo nenhuma oportunidade de perigo a não ser um livre direto ao lado do inevitável Hakimi (33′).
No segundo tempo a história mudou e bastaram poucos minutos para o Egito conseguir criar perigo junto da área contrária, com Trezeguet a entrar para deixar logo uma ameaça. O conjunto de Queiroz dominava e esse ascendente teria mesmo resultados práticos na sequência de um canto, com Bono a evitar o primeiro cabeceamento mas a não conseguir ir a tempo da recarga de Salah (53′). O encontro entrou depois numa fase mais quezilenta, com várias faltas a motivarem protestos (sobretudo dos egípcios) e um momento chave até aos 90 minutos com Aguerd a cabecear, Gabaski a desviar para a trave e a sair também lesionado.
O encontro seguia mesmo para o prolongamento e com os problemas nos adutores a voltarem a fazer mossa, tirando da partida Hegazy antes do intervalo e obrigando depois à entrada do terceiro guarda-redes com El Shenawy de fora por lesão e Gabaski a não resistir também. Mohamed Sobhy teve a oportunidade de uma vida e não mais vai esquecer a partida, que acabou por ser decidida por Trezeguet após assistência do inevitável Salah (100′). Com sofrimento à mistura, o Egito que muitos tinham colocado de fora dos possíveis vencedores desta edição da Taça das Nações Africanas já vai nas meias. Seguem-se os Camarões.