Ainda antes do início do encontro, na antecâmara das conferências de imprensa da segunda meia-final da Taça das Nações Africanas, uma frase de Samuel Eto’o, antiga glória no futebol europeu que é hoje presidente da Federação de Futebol dos Camarões, provocou uma primeira troca de palavras. “Tudo o que têm feito tem de ser capitalizado. Preparem-se porque vai ser uma guerra meus homens, uma guerra”, disse o ex-avançado. “Espero que corrija as suas palavras. Essa não é a maneira de jogar, não se trata de uma guerra. A guerra é para evitar que as pessoas morram de fome ou nas portas dos estádios”, respondeu Carlos Queiroz.

Estava dado o mote para aquilo que, não sendo uma guerra, tornou-se uma batalha. Uma batalha física, com os jogadores a terem de aguentar um prolongamento depois da intensidade ao longo de 90 minutos. Uma batalha mental, num autêntico jogo de paciência entre quem assumia mais o encontro (Camarões) e quem queria sobretudo defender bem para procurar depois algo mais (Egito). Uma batalha de sofrimento de alguns elementos como Gabaski, guarda-redes que jogou condicionado depois do problema no adutor que contraiu na última partida, ou Hamdy, a atuar largos minutos com uma ligadura já novo com sangue na cabeça. Uma batalha de protestos na zona técnica dos bancos, que levou mesmo à expulsão de Carlos Queiroz no tempo regulamentar. Uma batalha que seria apenas decidida nas grandes penalidades.

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Salah quer, Queiroz pensa, a obra nasce: Egito vence Marrocos no prolongamento e CAN terá um português na final

Aí, à semelhança do que tinha acontecido com a Costa do Marfim, brilhou Gabaski. E não foi nem uma nem duas mas três vezes (duas defesas, um ao lado), esquecendo o problema muscular para se tornar herói nacional dos Faraós num 3-1 que eliminou os anfitriões de António Conceição e colocou os Faraós de novo na final, agora com o Senegal. Apesar de ter sido colocada no túmulo desde o encontro inaugural com a Nigéria (0-1), o Egito conseguiu ir superando adversários que seriam mais fortes no plano teórico e passou a parte complicada do quadro a eliminar após três prolongamentos com Costa do Marfim, Marrocos e Camarões.

Depois de uma primeira parte sem grandes ocasiões mas com uma bola na trave de Ngadeu-Ngadjui na sequência de um canto (18′) e com Carlos Queiroz a ter o primeiro lance mais invulgar quando acabou por ajoelhar-se na zona técnica com os braços apontados ao céu depois de uma decisão da arbitragem, a equipa de casa aumentou a pressão ao longo do segundo tempo, teve Ekambi a colocar Gabaski à prova num desvio ao primeiro poste após livre lateral (68′) e viu Samuel Gouet disparar um míssil ainda de muito longe que passou a raspar o poste da baliza dos egípcios (70′) mas o nulo não mais seria desfeito até a um prolongamento onde o défice físico se tornou evidente mas onde foram os Faraós a terem a última ameaça.

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Com este triunfo, o Egito tornou-se a seleção com mais finais da Taça das Nações Africanas (dez, mais uma do que o Gana) e pode reforçar o estatuto de equipa mais títulos na prova (sete contra cinco dos Camarões) contra um conjunto do Senegal liderado por Sadio Mané, que vai defrontar o seu companheiro de Liverpool Salah e que luta pelo primeiro troféu de sempre depois das finais perdidas de 2002 e 2019. Já Carlos Queiroz, ao eliminar António Conceição, tornou-se o primeiro português de sempre na final da CAN.