Ainda antes do início do encontro, na antecâmara das conferências de imprensa da segunda meia-final da Taça das Nações Africanas, uma frase de Samuel Eto’o, antiga glória no futebol europeu que é hoje presidente da Federação de Futebol dos Camarões, provocou uma primeira troca de palavras. “Tudo o que têm feito tem de ser capitalizado. Preparem-se porque vai ser uma guerra meus homens, uma guerra”, disse o ex-avançado. “Espero que corrija as suas palavras. Essa não é a maneira de jogar, não se trata de uma guerra. A guerra é para evitar que as pessoas morram de fome ou nas portas dos estádios”, respondeu Carlos Queiroz.
Egypt manager Carlos Queiroz was irate when he was sent off late in the second half ????
He’ll miss the AFCON final if Egypt progress. pic.twitter.com/up2Iz5Rp51
— B/R Football (@brfootball) February 3, 2022
Estava dado o mote para aquilo que, não sendo uma guerra, tornou-se uma batalha. Uma batalha física, com os jogadores a terem de aguentar um prolongamento depois da intensidade ao longo de 90 minutos. Uma batalha mental, num autêntico jogo de paciência entre quem assumia mais o encontro (Camarões) e quem queria sobretudo defender bem para procurar depois algo mais (Egito). Uma batalha de sofrimento de alguns elementos como Gabaski, guarda-redes que jogou condicionado depois do problema no adutor que contraiu na última partida, ou Hamdy, a atuar largos minutos com uma ligadura já novo com sangue na cabeça. Uma batalha de protestos na zona técnica dos bancos, que levou mesmo à expulsão de Carlos Queiroz no tempo regulamentar. Uma batalha que seria apenas decidida nas grandes penalidades.
Aí, à semelhança do que tinha acontecido com a Costa do Marfim, brilhou Gabaski. E não foi nem uma nem duas mas três vezes (duas defesas, um ao lado), esquecendo o problema muscular para se tornar herói nacional dos Faraós num 3-1 que eliminou os anfitriões de António Conceição e colocou os Faraós de novo na final, agora com o Senegal. Apesar de ter sido colocada no túmulo desde o encontro inaugural com a Nigéria (0-1), o Egito conseguiu ir superando adversários que seriam mais fortes no plano teórico e passou a parte complicada do quadro a eliminar após três prolongamentos com Costa do Marfim, Marrocos e Camarões.
▪️ Subbed in 88' vs. Ivory Coast
▪️ Saved Eric Bailly's penalty
▪️ One goal conceded in knockouts
▪️ Playing through injury
▪️ Two penalty saves vs. CameroonEgypt's backup keeper Gabaski has been CLUTCH ???? pic.twitter.com/SrXXms5uhc
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Depois de uma primeira parte sem grandes ocasiões mas com uma bola na trave de Ngadeu-Ngadjui na sequência de um canto (18′) e com Carlos Queiroz a ter o primeiro lance mais invulgar quando acabou por ajoelhar-se na zona técnica com os braços apontados ao céu depois de uma decisão da arbitragem, a equipa de casa aumentou a pressão ao longo do segundo tempo, teve Ekambi a colocar Gabaski à prova num desvio ao primeiro poste após livre lateral (68′) e viu Samuel Gouet disparar um míssil ainda de muito longe que passou a raspar o poste da baliza dos egípcios (70′) mas o nulo não mais seria desfeito até a um prolongamento onde o défice físico se tornou evidente mas onde foram os Faraós a terem a última ameaça.
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Com este triunfo, o Egito tornou-se a seleção com mais finais da Taça das Nações Africanas (dez, mais uma do que o Gana) e pode reforçar o estatuto de equipa mais títulos na prova (sete contra cinco dos Camarões) contra um conjunto do Senegal liderado por Sadio Mané, que vai defrontar o seu companheiro de Liverpool Salah e que luta pelo primeiro troféu de sempre depois das finais perdidas de 2002 e 2019. Já Carlos Queiroz, ao eliminar António Conceição, tornou-se o primeiro português de sempre na final da CAN.