A primeira dúvida, nos tempos do deep fake, é se é verdade ou se não passa de simulação. As imagens não foram manipuladas com técnicas de inteligência artificial e o vídeo do jornalista (que se tornou viral, claro) é tão verdadeiro como outros partilhados na sua conta de Twitter antes deste. Seja a falar sobre os Jogos Olímpicos, seja a falar sobre o ataque ao Capitólio norte-americano ou, agora, sobre o conflito na Ucrânia, o repórter Philip Crowther fala mesmo seis línguas. Português incluído.

Philip Crowther nasceu no Luxemburgo, filho de pai inglês e mãe alemã. Hoje, é comum aparecer em televisões de diferentes pontos do globo a dar a mesma notícia, só que em seis línguas diferentes. O repórter da Associated Press fala inglês, francês, alemão, luxemburguês, espanhol e português. Algo que o próprio não considera nada de especial, já que num programa televisivo espanhol explicou ser essa a realidade no seu país natal.

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“O Luxemburgo é muito pequeno e temos de ser capazes de falar com os nossos vizinhos”, disse, em janeiro de 2021. Dessa vez, falava em castelhano. Para além disso, considerou ser normal que no final do liceu, os cidadãos do Luxemburgo sejam capazes de falar fluentemente quatro línguas. Ele fala seis.

O alemão e o inglês aprendeu a falar com os pais, o luxemburguês, um idioma que poucos dominam, usou durante a infância para falar com os amigos. “É uma espécie de língua secreta”, disse numa entrevista a uma rádio espanhola, já que sabe que se a usar na rua, dificilmente alguém o perceberá. Depois ainda fala francês, uma das três línguas oficiais do seu país.

Depois do Luxemburgo, Crowther estudou em Londres, no King’s College onde se graduou em Estudos Hispânicos, foi repórter da France 24 em Paris, e cobriu eventos no Gana, em Angola, África do Sul, Alemanha e Reino Unido. Também seguiu de perto a revolução na Líbia, antes de se mudar para Washington, Estados Unidos, em 2011.

O castelhano aprendeu na escola, durante quatro anos, mas não considerou suficiente e quando se mudou para Barcelona percebeu que precisava de aprender mais. Por essa altura, conta na mesma entrevista, também aprendeu um pouco de catalão, mas, como queria seguir com os estudos de português, aperfeiçou-se antes na língua de Camões.

“O cérebro não tem espaço suficiente para um monte de línguas tão parecidas. Por isso só falo um pouco de catalão, e pronto”, admitiu. “No máximo, posso fazer um pedido num restaurante e falar sobre futebol, mas pouco mais.”

Crowther, que trabalha para a AP, já fez diretos para mais de 20 canais, já que a agência noticiosa oferece esse serviço aos seus assinantes. Ao falar seis línguas diferentes, o jornalista é quase sempre a escolha óbvia.

No ano passado, a 6 de janeiro, durante a Invasão do Capitólio dos Estados Unidos, quando apoiantes do então presidente Donald Trump se reuniram em Washington, DC para protestar contra os resultados das eleições presidenciais, Philip Crowther fez aquilo que melhor faz: deu a notícia em seis línguas diferentes, sempre a falar fluentemente.

O jornalista esteve em Portugal em 2019 para participar da WebSummit num painel que discutiu o impacto do Brexit nos mercados económicos.