Uma investigação editorial divulgou esta terça-feira novos documentos sobre a participação do Banco Espírito Santo Angola e do seu antigo presidente Álvaro Sobrinho num esquema para desviar milhões de dólares de um projeto de habitação social no país.
De acordo com um comunicado do Projeto de Reporte sobre Crime Organizado e Corrupção (OCCRP, na sigla em inglês), disponível no site da organização, que integra a equipa que investigou os “dossiês” Panama Papers e dos Suisse Secrets, “Álvaro Sobrinho — liderou um banco angolano que colapsou com milhares de milhões de dólares em dívidas por explicar — está ligado a um esquema para desviar centenas de milhões de dólares de um projeto de habitação social apoiado pelo governo de Angola”, em 2009.
Em causa está a participação do banco num financiamento para a construção de um bairro social que acabou por nunca acontecer, e que os investigadores dizem que envolve o desvio de 750 milhões de euros, inicialmente aprovados para o projeto que nunca chegou a acontecer.
“Os documentos revistos pelos repórteres indicam que o dinheiro, que era destinado ao construtor, foram para o Banco Espírito Santo Angola, de Álvaro Sobrinho, mas nunca foram enviados para a empresa“, lê-se no texto divulgado esta terça-feira, no qual se acrescenta que “mais ou menos na mesma altura em que o esquema de financiamento do projeto social foi tentado, Sobrinho criou contas no Credit Suisse no valor de pelo menos 78 milhões de francos suíços, mais de 72 milhões de dólares na altura”, ou 65,5 milhões de euros.
No documento, o OCCRP diz que “Sobrinho negou ter roubado quaisquer fundos e diz que o financiamento para o projeto foi cancelado e que nenhum empréstimo foi desembolsado”.
Entre os críticos deste projeto estão o antigo líder da Agência Nacional para o Investimento Privado Aguinaldo Jaime e o presidente da Jeosat Angola, a empresa que iria construir as casas.
Numa carta citada pelo OCCRP, Jaime mostra “preocupação legítima” sobre a forma como o BESA lidava com o dinheiro para o projeto e critica a tentativa do BESA de introduzir uma terceira parte no negócio, de forma “inapropriada”.
O presidente da Jeosat, Carlos Rodrigues, diz que apresentou queixa nas autoridades norte-americanas e europeias, alegando que “os líderes do BESA o tentaram convencer a criar uma empresa offshore nas Ilhas Virgens Britânicas para recber o dinheiro pela construção do projeto”.
Inicialmente, Rodrigues diz ter confiado em Sobrinho quando este lhe disse que era melhor usar estruturas financeiras em offshores, mas depois afirma, citado pelo OCCRP, que “deixaram de comunicar com ele, tomaram conta do offshore, roubaram a sua identidade e usaram-na para criar outras companhias fantasma e contas bancárias, sugando os 750 milhões de euros da linha de crédito“.
Na opinião de Carlos Rodrigues, este projeto nunca andou para a frente devido aos esforços deliberados do BESA para minar o seu acesso ao financiamento: “Usaram a linha de crédito toda e puseram-me a dever uma dívida que eu nem sequer sabia que existia”, afirmou aos investigadores do OCCRP.