Os Mundiais de Pista Coberta não costumam por norma ser um terreno pródigo em grandes marcas e, num ano de 2022 que marca o completo virar de página a nível de grandes competições no atletismo mas que tem ainda além da prova em Belgrado uns Mundiais e uns Europeus ao Ar Livre mais à frente em julho e agosto, não eram esperados propriamente grandes saltos. No entanto, e naquele que é um dos maiores predicados que o conduziu ao ouro olímpico em Tóquio, Pedro Pablo Pichardo nunca se contenta “apenas” com uma vitória ou um lugar mais alto no pódio. Quer mais. Se saltar a 17,30, como aconteceu no triunfo nos Europeus de Pista Coberta do ano passado, quer 17,50. Se chegar a 17,50, quer 17,60 ou 17,70. Se ganhar com 17,98, como aconteceu nos últimos Jogos, não lhe chega a coroação com 40 centímetros a mais do que o segundo – quer passar a fasquia dos 18 metros. E era na marca que estava agora a grande incógnita.

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Se a nível de recorde pessoal Pichardo estava nos 18,08, apenas superado pela melhor versão do americano Will Claye que chegou a saltar a 18,14 (ambos ao Ar Livre) e com grande margem para o terceiro melhor, na Pista a realidade era diferente e o luso-cubano nunca passara dos 17,36, numa das poucas marcas onde não conseguiu ainda bater Nelson Évora a nível nacional. Mais: chegava aos Mundiais de Belgrado com um modesto registo máximo de 16,57 nos Nacionais de Pista Coberta, no Pombal (onde faria depois três nulos com tanta vontade de melhorar essa marca que ainda assim lhe deu vitória). No entanto, e com aquela tranquilidade com que falara antes da final de Tóquio, relativizava esse salto e mostrava confiança.

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Pedro Pichardo começou a época sem grande salto, mas a cumprir

“Sinto-me muito bem. Temos de esperar que chegue sexta-feira, o dia da prova, para ver o que sai. Tive uma pequena lesão, mas já estou recuperado e consegui fazer grandes saltos no treino. É um ano novo e quero sempre conquistar títulos. Sinto-me muito orgulhoso por representar o país que me apoiou e me deu oportunidade de continuar. É sempre bom contar com o apoio dos portugueses. Para mim, é muito gratificante”, tinha destacado o atleta antes da partida para a Sérvia integrado na comitiva nacional, por sinal a segunda maior de sempre em Mundiais de Pista Coberta (12) apenas superada por Lisboa em 2001 (17).

“Qualquer suplente no futebol ganha mais do que eu. É o que me choca”. As confissões de Pichardo, um campeão olímpico (ainda) de férias

“Temos expectativa de muito bons resultados, com a possibilidade de ter três atletas no pódio com bastante realismo. Essa é a perspetiva mais sólida que temos, com os nossos três ‘cabeças de cartaz’. Temos outros de quem esperamos bons resultados, num Campeonato do Mundo que sirva para se habituarem cada vez mais à alta roda e conseguirem aqui a pontinha de resultado que gera uma maior autoconfiança para o futuro”, comentara Jorge Vieira, presidente da Federação de Atletismo. E o primeiro pódio estava focado no campeão olímpico, que entrava numa final como líder do ranking mundial mas com a tal marca modesta tendo Lázaro Martínez (Cuba), Jean-Marc Pontvianne (França), Yasser Mohammed Triki (Argélia) e os dois americanos Will Claye e Donald Scott como principais adversários numa prova que tinha Tiago Pereira.

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Chegando a 2022 com apenas uma medalha em Mundiais de Pista Coberta e por Cuba (prata em 2014, atrás do compatriota Ernesto Revé), sabendo que Portugal tinha ganho na última edição uma medalha mas por Nelson Évora (bronze em 2018, a três centímetros de Will Claye e a um do brasileiro Almir dos Santos), Pedro Pablo Pichardo encontrava o primeiro grande desafio da temporada após o título olímpico. E acabou por ser um pódio que soube a pouco, como se percebia pelas imagens dos três medalhados no final, depois de um problema no pé esquerdo que impediu que cumprisse a última metade da competição.

A primeira tentativa quase que definiu aquilo que viria a ser o concurso: o cubano Lázaro Martínez, que tinha como melhor registo pessoal 17,28 feitos ao Ar Livre e o máximo pessoal do ano de 17,21 em Pista Coberta, teve um salto inicial a 17,64, pulverizando por completo o concurso com o melhor registo desde 2012, quando Will Claye se sagrou campeão com 17,70. No entanto, Pichardo mostrou que estava apostado em dar luta, iniciando a prova a marcar 17,42, um grande registo em Pista Coberta. Will Claye (17,05) e Donald Scott (16,80) colocavam-se também na luta pelas medalhas com boa margem para a concorrência.

O atleta português já tinha batido o recorde nacional em Pista Coberta que pertencia a Nelson Évora, quando fez 17,40 nos Mundiais de Birmingham em 2018, e voltou a melhorar essa marca com um 17,46 na segunda tentativa. Na terceira, antes do corte que deixou Tiago Pereira de fora na nona posição a dois centímetros do apuramento (16,46), teve o primeiro nulo. E teve porque não estava a gerir marcas para ficar com a prata mas sim a arriscar para chegar ao ouro, tendo ainda mais três saltos numa fase em que Martínez não melhorara o 17,64, Donald Scott tinha subido para terceiro com 17,21, Will Claye melhorara para 17,10 e Jahnhai Perinchief, das Bermudas, ameaçava dar luta com uma tentativa a 16,95. Jean-Marc Pontvianne (França, 16,62), Nazim Babayev (Azerbaijão, 16,55) e Melvin Raffin (França, 16,48) foram os outros três atletas a seguir para os três saltos finais, sem Yasser Mohammed Triki (Argélia, 16,42).

O quarto salto não trouxe alterações na classificação, mostrando apenas que Will Claye se podia chegar um pouco mais a Donald Scott na luta pelo bronze (17,15) e que Lázaro Martínez poderia melhorar ainda o 17,64 fazendo uma tentativa a 17,62. Pichardo não teve um salto nulo mas foi como se não tivesse contado (14,94), deixando uma imagem ainda mais preocupante nessa altura pela forma como se deslocou para a zona onde estava o pai e treinador, apontou para o pé esquerdo e tirou a sapatilha, tendo mesmo abdicado da sua quinta tentativa para tentar recuperar forças eventualmente para uma aposta total no sexto salto, algo que não viria a acontecer numa fase em que o atleta nacional já estava com esse mesmo pé ligado.