A Câmara Municipal da Calheta, nos Açores, já tem preparados espaços para receber as pessoas afetadas pela recente crise sísmica na ilha de São Jorge. “São sobretudo centros recreativos e espaços de filarmónicas”, descreveu esta quinta-feira ao Observador Décio Pereira, autarca da região, que também indicou já ter conhecimento de insulares que já foram para a autarquia.
Nenhuma pessoa pediu ainda ajuda diretamente à autarquia, mas Décio Pereira tem conhecimento de que algumas já “foram para casa de familiares, amigos” e até já “alugaram casas”. “Trata-se de uma ação que é particular.”
Contudo, o município da Calheta refere ter preparado espaços com “infraestruturas sanitárias”, havendo “equipas preparadas para cozinhar em diferentes pontos do concelho”. Décio Pereira revelou também que foram transportados 400 colchões “para espalhar” nestes locais.
Os habitantes das fajãs do concelho das Velas vão começar a ser retirados, passando a ser proibido ir para aquelas zonas devido à crise sismovulcânica, referiu o presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, não se sabendo se serão deslocados para a Calheta.
“Foi declarada situação de alerta para uma referência muito especifica para garantir que haja condicionamentos de acesso às fajãs do concelho de Velas na ilha de são Jorge, bem como retirada dos residentes das mesmas”, afirmou aos jornalistas, nas Velas, no balanço da visita à ilha. A interdição e evacuação das fajãs justifica-se pelos níveis de sismicidade e pela “perigosidade prevista para sábado e domingo de manhã” devido às condições meteorológicas, explicou José Manuel Bolieiro.
A medida, que até aqui era uma recomendação, vai ter caráter obrigatório: “A declaração de alerta tem, no termo da lei de bases de proteção civil, bem como do decreto legislativo regional que regulamenta nos Açores a proteção civil, esta eficácia que é determinativa e por isso obrigatória. Quem não fizer esse cumprimento está em desobediência”, avançou o chefe do executivo açoriano.
Esta decisão surge depois de o presidente do Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA), Rui Marques, alertar que a chuva prevista para sexta-feira e sábado, conjugada com a crise sísmica, pode provocar desabamentos em São Jorge.
A atividade sísmica na ilha de São Jorge “continua acima do normal” e nas últimas horas “foram sentidos 11 sismos”, o Centro de Informação e Vigilância Sismovulcânica dos Açores (CIVISA).
Na quarta-feira, o CIVISA elevou o nível de alerta vulcânico na ilha de São Jorge para V4 (de um total de cinco), o que significa “possibilidade real de erupção”.
Perante este cenário, o executivo açoriano recomendou à população com maiores vulnerabilidades da principal zona afetada na ilha de São Jorge que abandone as suas casas.
Também na quarta-feira, a Proteção Civil dos Açores ativou o Plano Regional de Emergência devido à elevada atividade sísmica que se regista em São Jorge desde sábado.
Os planos de emergência municipais dos dois concelhos da ilha, Calheta e Velas, também já foram ativados.
A ilha está organizada administrativamente em dois concelhos, Velas e Calheta, onde vivem, respetivamente, 4.936 e 3.437 pessoas, segundo os dados provisórios dos censos da população de 2021.
A ilha de São Jorge tem mais de sete dezenas de fajãs – pequenas planícies junto ao mar que tiveram origem em desabamentos de terras ou lava — que são, desde 2016, Reserva da Biosfera da UNESCO — Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura e dos locais mais procurados pelos turistas.
Idosos da Casa de Repouso das Velas transportados para o concelho da Calheta
Os 85 utentes da Casa de Repouso João Inácio de Sousa, localizada nas Velas, em São Jorge, Açores, foram retirados do lar e levados para a Calheta devido à crise sismovulcânica, revelou o presidente da instituição.
Em declarações aos jornalistas, Paulo Silveira, presidente da Casa de Repouso, revelou que a operação foi “preparada” com a Proteção Civil e com a Câmara Municipal de Velas. Os idosos, a “maior parte com mais de 80 anos”, seguiram para a Calheta, o outro concelho da ilha.
“26 utentes seguiram para a Santa Casa da Misericórdia da Calheta, para o lar. Os restantes foram para a pousada da juventude”, especificou.
Paulo Silveira avançou ainda que os utentes estão a ser acompanhados pela psicóloga da instituição.
“Os idosos estão receosos, mas têm uma certa calma. Temos tido um diálogo permanente com eles e tivemos o cuidado de explicar a situação. Como sabe, com a idade que têm, não é fácil. Ficaram ressentidos, estão calmos e esperamos que corra tudo bem”, assinalou.
E acrescentou: “A maior parte deles tem a memória do sismo de 1964 e têm a memória do sismo de 1980. E agora [têm presente] o sismo que recentemente houve nas Canárias. Portanto, as pessoas estão preocupadas com a situação. É natural”.
Notícia atualizada às 00h33 com a informação dos utentes da Casa de Repouso das Velas