Em 2017, Chris Rock foi escolhido pela Variety para integrar a sua lista das 500 figuras mais influentes da indústria global do entretenimento. A revista justificou a decisão com a longa e premiada carreira de Rock, “um dos comediantes mais influentes e respeitados do país”, classificando-o como um dos melhores artistas de comédia do mundo. “Um comediante arrogante, sem medo de ser controverso, sobretudo quando fala sobre raça na América, ele tem sido uma voz consistentemente irreverente na comédia desde o momento em que pisou o palco”, descreveu a Variety.

Ao longo de mais de 30 anos de carreira, Chris Rock nunca deixou de ser apreciado e respeitado num país que nem sempre lida bem com quem não tem papas na língua. Mas isso não significa que a sua atitude descomprometida e irreverente não lhe tenha causado alguns dissabores. O mais recente aconteceu durante a madrugada desta segunda-feira, na 94.ª cerimónia dos Óscares da Academia. Quando se preparava para anunciar os nomeados à categoria de “Melhor Documentário”, Rock, um dos atores escolhidos para atribuir os prémios, fez uma piada dirigida a Jada Pinkett Smith que não foi bem recebida pelo marido, Will Smith, que o agrediu em direto.

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Não foi a primeira vez que Chris Rock, de 57 anos, brincou com a atriz ou com a família Smith. Em 2016, quando apresentou a cerimónia, o também ator fez uma piada sobre o boicote de Jada Pinkett Smith, que faltou ao evento juntamente com outros atores afroamericanos num protesto contra a falta de diversidade na atribuição dos prémios: “A Jada boicotar os Óscares é como eu boicotar as cuecas da Rihanna. Não fui convidado”. Rock, que tinha sido incentivado a desistir de apresentar a cerimónia na sequência do mesmo protesto, também brincou com o facto de Will Smith não ter sido nomeado naquele ano, apesar de ter recebido “20 milhões de dólares por ‘Wild Wild West’”. A anedota não terá caído bem, assim como uma piada sobre asiáticos, que o obrigou a dar algumas explicações e a emitir um pedido de desculpas.

Apesar de tudo, a atuação recebeu maioritariamente boas críticas — o que não se pode dizer da performance de Rock em 2005, quando apresentou pela primeira vez a cerimónia. Nesse ano, o comediante foi alvo de censura depois de ter dito que os Óscares eram estúpidos e que nenhum heterossexual assistia ao evento.

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A carreira de Chris Rock na comédia arrancou em meados dos anos 80, quando se lançou no circuito de stand-up de Nova Iorque. Depois de alguns papéis em séries de televisão, em 1987 foi escolhido para participar na sequela de “O Caça Polícias”, ao lado de Eddie Murphy. Entre 1990 e 1993, integrou o elenco do “Saturday Night Live” (“SNL”), que o tornou conhecido do grande público. Foi durante este período que lançou o primeiro álbum de comédia, “Born Suspect”. Desde então, voltou três vezes ao “SNL”, sempre na qualidade de apresentador, em 1996, 2014 e 2020.

Em 1994, um ano após a saída do “SNL”, estreou-se na HBO com “Big Ass Jokes”, que integrava o “HBO Comedy Half-Hour”, um especial de stand-up que juntava vários comediantes. Em 1996, lançou na mesma estação de televisão “Bring the Pain”, que o consolidou como um dos mais aclamados e bem sucedidos comediantes dos Estados Unidos da América, mas também como um dos mais polémicos. Foi no âmbito de “Bring the Pain” que Rock lançou um dos seus números mais conhecidos, “Nigga vs. Black People”, que veio a integrar o seu segundo álbum, “Roll with the New”, de 1997. O disco recebeu o Grammy de “Melhor Álbum de Comédia” em 1998. O comediante venceu na mesma categoria outras duas vezes, em 200 e 2006.

“Nigga vs. Black People” é um monólogo de 12 minutos sobre um conjunto de comportamentos que o comediante considera serem característicos da comunidade afroamericana. O número causou controvérsia devido ao uso da palavra “nigger”, associada a discursos racistas. As críticas levaram Rock a retirar o termo do guião. Numa entrevista dada vários anos depois, o ator revelou nunca mais ter feito a piada, “porque algumas pessoas que são racistas pensaram que tinham licença” para usar a expressão.

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Apesar das críticas, “Bring the Pain” foi aclamado pela crítica, valeu a Chris Rock dois Emmy (os primeiros de vários) e levou à criação do seu próprio programa de televisão, “The Chris Rock Show”, que teve sete temporadas, entre 1997 e 2000. O programa recebeu um Emmy pela melhor atuação num programa de variedades ou de música em 1999. Em 2005, Rock estreou “Everybody Hates Chris”, uma das suas sitcoms mais bem sucedidas e uma das muitas produções em que esteve envolvido depois do ano 2000. Ator e produtor, Rock realizou ainda três filmes, que incluem a comédia “Top Five” (2014), em que também participou.

Em 2016, o comediante foi notícia após ter assinado um contrato de 40 milhões de dólares (cerca de 37 milhões de euros) com a Netflix para dois especiais de stand-up comedy. O primeiro, “Chris Rock: Tamborine”, foi lançado em fevereiro de 2018. O ator e realizador, que teve Covid-19 em setembro do ano passado, o que o levou a apelar à vacinação no Twitter, tem atualmente duas digressões marcadas para este verão, uma mundial e a solo, com material que descreve como “muito pessoal e muito engraçado”, e outra com Kevin Hart no estado de Nova Iorque.

Chris Rock foi um dos atores convidados para participar na anunciar e atribuir os prémios da 94.ª cerimónia dos Óscares, que decorreu durante a madrugada desta segunda-feira no Dolby Theatre, em Los Angeles. A curta participação de Rock teria passado despercebida se Will Smith não se tivesse levantado da cadeira e dado uma bofetada ao comediante depois de este ter feito uma piada sobre a mulher do ator, Jada Pinkett Smith. O episódio, que foi descrito como “o mais feio da história dos Óscares”, ficará para a história do evento e de Rock, que, apesar do extenso currículo, certamente será lembrado por ele por muitos e muitos anos.