Allen Millyard é um apaixonado por motos, mas não daquelas que todos podem adquirir no stand das marcas. Para agradar a este engenheiro nuclear britânico, um veículo de duas rodas tem de ter um motor enorme, complexo e com muita força, mesmo que isso torne a moto muito pesada, o que obviamente não existe fabricado em série. Daí que Millyard opte por meter mãos à obra e produzir os seus próprios modelos, o que acontece com frequência.

Depois de construir motores V2 a partir de dois monocilíndricos, V6 com base em dois motores tricilíndricos e V8 tendo como ponto de partida dois motores tetracilíndicos, o que o levou a ser apontado como o Frankenstein das duas rodas, Millyard tinha até aqui na Kawasaki K2300 V12 o seu modelo mais exuberante. O seu motor V12 com “apenas 2,3 litros e 250 cv”, foi construído a partir de dois seis cilindros em linha que a marca nipónica instalava na K1300 de 1979.

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No seu mais recente projecto, Millyard construiu uma moto em torno de um imenso motor V10 com 8 litros de capacidade e 500 cv de potência. Esta imponente unidade motriz foi herdada de um Dodge Viper V10 GTS, de 1995, motor grande e pesado que foi adaptado e “puxado” pela Lamborghini e que, originalmente, estava montado num camião da marca americana. No Viper, o V10 atmosférico fornecia 506 cv e 712 Nm de força, o que lhe permitia ultrapassar os 100 km/h ao fim de somente 3,9 segundos, para depois continuar a ganhar velocidade até aos 306 km/h. Tivemos ocasião de conduzir este desportivo, que muitos apelidavam de monstro, e reconhecendo que não era um carro fácil de guiar depressa, foi decididamente um dos modelos mais impressionantes que já conduzimos, devido à potência e, sobretudo, ao binário do motor.

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Millyard pegou no V10 e se tinha cavalos de sobra, tinha igualmente um problema criado pelas generosas dimensões do 8.0 V10. Impossibilitado de conceber um quadro em torno do motor, o engenheiro britânico integrou o motor no chassi, aparafusando-lhe a frente e a traseira às duas extremidades do V10. E como também não existia espaço para a caixa, o motor foi ligado directamente à embraiagem e ao pinhão de ataque, com o movimento a passar pela corrente até à roda posterior, explorando o muito torque do motor, mesmo a baixo regime.

É claro que com um motor a pesar 340 kg, não havia qualquer hipótese de a moto ser leve, sendo bom recordar que as melhores motos desportivas japonesas pesam cerca de 200 kg e fornecem pouco mais de duas centenas de cavalos. Mas a moto de Millyard, com o imponente motor da Dodge, acusa 630 kg quando colocada sobre a balança. Porém, como não lhe falta potência nem força, a velocidade máxima pode variar entre 257 e 434 km/h, dependendo do número de dentes do carreto instalado atrás.

Numa exibição na Ilha de Man, nas mãos do jornalista Bruce Dunn, a Millyard V10 atingiu com alguma facilidade 322 km/h. Isto num circuito rápido, mas que não é propriamente um anel de velocidade ou uma auto-estrada sem fim.