O momento era diferente, o número de ausências de vulto era maior, a própria forma como os adversários prepararam os jogos mudou. Na “ressaca” daquele que foi o ano e meio mais marcante de sempre do andebol nacional, com as melhores classificações de sempre num Mundial (décimo lugar) e num Europeu (sexta posição) além de uma inédita qualificação para os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020, o último Campeonato da Europa acabou por interromper essa espiral de sucesso com uma eliminação na fase inicial de grupos com a decisão final a ser discutida frente aos Países Baixos. Agora, era altura de tentar o “acerto de contas”.

Gustavo deu-lhes a mão mas desta vez o milagre ficou a meio: Portugal perde com Países Baixos e está fora do Europeu

“Acho que não estivemos no nosso melhor. Por isso, acredito que vamos fazer um jogo superior, tanto a nível defensivo como a ofensivo. Também o facto de termos neste momento tanto o Belone [Moreira] como o Francisco Costa ajudam bastante no ataque porque no Europeu acabámos por adaptar o Fábio Magalhães e o Miguel Martins no lado direito. Acredito que vamos estar num nível superior ao que tivemos no Europeu. Partimos para este jogo 50/50, com duas seleções num bom momento. Acabámos por fazer com a Suíça um bom playoff e aparecemos fortes e com vontade de estar presentes no Campeonato do Mundo”, explicara Rui Silva, capitão da Seleção, sobre esse mesmo encontro no Europeu e aquilo que poderia agora ser diferente em Portimão na primeira mão do playoff decisivo de apuramento para o Mundial de 2023.

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As ausências continuavam a ser uma realidade, desta vez com André Gomes, Alexandre Cavalcanti, Daymaro Salina e Salvador Salvador de fora, mas, como se viu recentemente nos encontros europeus disputados não só pelos principais clubes nacionais na Champions (FC Porto) e na EHF (Benfica e Sporting) mas também pelas formações onde militam jogadores portugueses lá fora, os momentos eram diferentes e davam justificação à confiança revelada por Paulo Jorge Pereira, selecionador nacional, após a eliminação da Suíça na primeira fase do playoff. “Acho que já sabemos aquilo que temos de fazer contra os Países Baixos, já sabemos quais são os pontos fortes e aquilo que temos de anular. É simples para nós identificar o que temos de fazer e corrigir. Tivemos uma série de reuniões individuais com os jogadores para falar sobre estas questões e aquilo que temos de melhorar em relação à cooperação e a uma série de coisas, sobretudo nos aspetos defensivos. Conseguimos situar muito bem os problemas que tivemos com os Países Baixos, além de tudo o que nos aconteceu. Nessa identificação do caminho, acho que vai ser mais fácil”, referira.

Era neste contexto que chegava o oitavo e último jogo da primeira mão do playoff final de apuramento, após sete partidas em que apenas Alemanha (34-26 com Ilhas Faroé) e Croácia (34-21 frente à Finlândia) tiveram vantagens que praticamente encerraram a questão do apuramento. E se é verdade que o jogo foi bem mais equilibrado do que tinha sido no Europeu, o resultado acabou por ser pior do que aquele que se registou em janeiro (33-30, depois do 32-31), sendo agora necessário mais uma exibição de superação em Eindhoven no domingo (13h) para assegurar a quinta participação num Mundial depois de 1997, 2001, 2003 e 2021.

O encontro começou equilibrado e assim se manteve até ao intervalo, que chegou com a vantagem dos Países Baixos por apenas um golo (17-16) depois de um período em que foi Portugal a andar na frente antes de uma maior fase de 1/2 golos de avanço dos neerlandeses. Victor Iturriza, com seis golos em sete remates, e Miguel Martins, com uma grande entrada que teve quatro golos, foram os grandes destaques individuais a disfarçar algumas precipitações no plano ofensivo mas era na defesa que estava a grande dor de cabeça nacional, bem aproveitada por Luc Steins, Dani Baijens e Smits em ataque organizado e pelo ponta Jeffrey Boomhouwer (quatro golos) nas transições rápidas. O espaço entre primeiro e segundo defensor, sobretudo do lado direito da defesa nacional, foi o fator diferenciador que permitiu o ligeiro ascendente aos visitantes.

Apesar de algumas melhorias no segundo tempo, levando a que os Países Baixos tivessem de procurar outras formas de visar a baliza que já tinha passado de Gustavo Capdeville para Manuel Gaspar antes de voltar à forma original mantendo sempre a mesma primeira linha, Portugal voltou a estar de novo na frente do marcador com o primeiro golo do jovem estreante Kiko Costa (20-19) mas a toada do equilíbrio manteve-se até a um parcial de 4-0 que recolocou os visitantes na frente por 25-22, naquela que era até esse momento a maior vantagem do jogo. A Seleção enfrentava dificuldades em ligar de novo ao jogo quando já perdia por quatro mas conseguiu agigantar-se na parte final, aproveitando três grande defesas de Capdeville para voltar a empatar a 30 numa combinação aérea entre Miguel Martins e Leonel Fernandes antes do 33-30 final.