Portugal entrava em campo, era um encontro de uma fase de grupos do Campeonato da Europa, mas nada poderia ser pensado, escrito ou analisado sem esperar pelo desfecho da partida anterior, que colocava em confronto a Islândia e a Hungria. E as contas, na perspetiva nacional, eram fáceis de fazer: tudo o que não fosse uma derrota dos magiares fazia com que o encontro frente aos Países Baixos servisse apenas para um mero cumprir de calendário (ao contrário do que se passaria com os neerlandeses). Mais uma vez, havia um desafio ao quase impossível de uma Seleção com vários exemplos recentes até extra desportivos do que é capacidade de superação mas com a nuance a que tentou sempre fugir: não dependia apenas de si.

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Ainda antes do início da terceira e última jornada do grupo B da primeira fase, ficava na memória aquela jogada ofensiva desenhada por Rui Silva num desconto de tempo que deu golo a 12 segundos do final e a reação húngara ainda capaz de fazer o 31-30 ao cair do pano – e com um empate as contas do encontro com os Países Baixos mudavam de forma radical. Assim, era uma questão de fé na Islândia que, pelo modelo competitivo da prova, teria também de vencer para não entrar na main round com Dinamarca, França, Croácia e Montenegro já com uma derrota. E o primeiro “milagre” aconteceu mesmo, num encontro que foi disputado até ao último segundo e que terminou mesmo com o desaire dos anfitriões por 31-30.

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“A eliminação da Hungria foi uma grande deceção. Todos esperavam que a seleção passasse a primeira fase, temos de trabalhar mais, pois os adeptos mereciam. Agora, vou puxar pelos meus antigos companheiros portugueses no encontro frente aos Países Baixos”, confidenciou Márton Székely, guarda-redes que passou pelo FC Porto depois do desaparecimento de Quintana. Depois da Eslováquia, o outro organizador estava também de fora e Portugal ficava apenas a uma vitória (por dois golos) do apuramento.

“Acredito que vamos estar melhores e, independentemente do que acontecer no jogo anterior, temos sempre que jogar para ganhar. Estamos a falar do nosso orgulho e de algo que pode contribuir para o playoff de apuramento para o Mundial. Joga um andebol muito rápido e tem em dois jogadores uma qualidade acima da média, principalmente. Acredito que pode ser o jogo mais parecido com o da Islândia, devido às características dos próprios jogadores”, apontara Rui Silva, um dos melhores jogadores nacionais neste Europeu que olhava para Luc Steins (do PSG) e Kay Smits (do Magdeburgo) como principais armas.

Além de poder saltar uma das fases de apuramento para o Campeonato do Mundo de 2023, Portugal ia jogar também a possibilidade de manter o sonho de melhorar ainda o sexto lugar num Europeu mesmo com duas derrotas a abrir a competição frente a Islândia e Hungria. E, mesmo entre os condicionamentos existentes na preparação entre casos de Covid-19 e lesões que motivaram ausências de esteios como Luís Frade, Pedro Portela, André Gomes ou João Ferraz, a Seleção voltava a depender apenas de si. Contudo, 30 minutos iniciais falhados onde Portugal foi uma sombra pesaram depois numa recuperação com muita alma e coração mas que já não chegou a tempo, levando a uma derrota por 32-31 e à eliminação.

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A primeira parte até começou da melhor forma, com uma vantagem de 2-0 com golos de Iturriza, defesas de Capdeville e um grande bloco de Gilberto Borges, mas a partir do momento em que os Países Baixos conseguiram perceber como desmontar a defesa nacional e acertaram no plano defensivo com um 6:0 que subia em bloco conseguiram disparar no resultado, aproveitando um longo período sem ataques marcados do conjunto de Paulo Pereira para chegar ao 5-2 só desfeito com um golo de Leonel Fernandes. Gustavo Capdeville continuava a somar defesas naquela que foi a melhor exibição no Europeu mas as falhas nas ações defensivas, a ansiedade que levou a perder vários ataques e o andamento vertiginoso que os Países Baixos davam no recomeço de jogo levaram o encontro para intervalo com o resultado de 17-13.

No segundo tempo, e apesar de ter ficado pela primeira vez com uma desvantagem de cinco golos, Portugal esboçou uma resposta, teve algumas oportunidades de colocar o jogo empatado ou a um golo mas perdeu aquela que poderia ter sido uma janela de oportunidade para nova reviravolta épica como aconteceu com a França no último jogo de qualificação para os Jogos Olímpicos. Houve uma exclusão incompreensível a Gilberto Duarte, houve lances de detalhe em que bolas perdidas caíam para o adversário, mas o milagre ficou a meio com muita culpa própria à mistura perante uma formação dos Países Baixos que no final acusou a falta de experiência em grandes provas internacionais e só ganhou no último ataque (32-31).