O Instituto de Higiene e Medicina Tropical, que completa este mês 120 anos, está focado na ajuda aos países africanos lusófonos, ameaçados por novas pandemias devido ao atraso nas respostas a outras doenças, imposto pela Covid-19, segundo o diretor.

“Há pandemias que podem surgir nos próximos tempos, se não houver um trabalho multidisciplinar, interdisciplinar de cooperação entre os vários países”, afirmou Filomeno Fortes à agência Lusa, exemplificando com o caso do vírus Ébola, que “acabou por se agravar”.

O médico e especialista em saúde pública referiu que todos os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), exceto Cabo Verde, que tem uma cobertura sanitária “razoável”, viram as suas deficitárias estruturas sanitárias serem mobilizadas, com prioridade, para a pandemia de Covid-19.

“Isso teve impacto em relação às coberturas vacinais de outras doenças. A poliomielite, por exemplo, é uma dessas doenças. O sarampo é outra doença que é muito importante nesses países e cuja cobertura baixou automaticamente”, adiantou.

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Segundo Filomeno Fortes, a Covid-19 teve ainda impacto no “despiste de doentes com tuberculose e VIH/Sida, em doentes que já estavam diagnosticados com tuberculose e com sida e que deixaram de fazer o tratamento regularmente”.

Perante este cenário, Filomeno Fortes advertiu: “Corremos o risco de, se nos próximos tempos não houver uma cobertura rápida destas perdas, ter situações epidémicas”.

A este propósito, revelou que o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) está atualmente a negociar com Angola, que assumiu a presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua portuguesa (CPLP), a realização, ainda este ano, no mês de outubro, de um seminário/workshop sobre cuidados de saúde primários, que envolva participantes de todos os países da CPLP.

O objetivo é “atualizar indicadores sanitários e estratégias para reduzir este impacto” na saúde, provocado pela Covid-19.

O IHMT também está a preparar a organização, a nível da CPLP, de um curso sobre a epidemiologia molecular.

“Esta epidemiologia molecular aparece como uma prioridade, depois do exemplo que tivemos desta pandemia de Covid-19 e vai ser um instrumento muito importante para os nossos países na resposta, prevenção, deteção precoce de epidemias ou pandemias no futuro”, explicou Filomeno Fortes.

“Também estamos envolvidos no projeto de pesquisa com alguns destes países — Angola, Cabo Verde, Moçambique — em relação à própria Covid-19 e em relação a doenças tropicais negligenciadas, que naturalmente se poderão agravar também devido a esta contingência“, adiantou.

No dia 24 de abril de 1902 foi criada, por carta de lei, a Escola de Medicina Tropical, que viria a ser o IHMT, e que foi a quarta escola de medicina tropical a ser criada no mundo.

Na véspera de uma cerimónia que vai assinalar os 120 anos desta instituição, Filomeno Fortes sublinhou que o instituto acumulou um acervo museológico e bibliográfico muito forte que tem mais de 120 anos e que representa todo um trabalho científico que foi desenvolvido nas ex-colónias portuguesas.

“A missão inicial deste instituto, desta escola de medicina tropical, foi estudar as doenças tropicais que durante o período de colonização afetavam os portugueses que se dirigiam para as ex-colónias”, disse.

Esta quinta-feira, a missão do IHMT é prestar serviços à comunidade, no âmbito das doenças tropicais.