Em condições normais, o ACCS Paris deveria estar fora da Final Four da Liga dos Campeões de futsal. E, em condições normais, não voltaria a encontrar o Sporting esta temporada depois do triunfo por 4-3 dos leões na Main Round da competição. No entanto, e depois da invasão da Ucrânia pela Rússia, o Tyumen, que ganhou de forma tranquila o seu grupo da Ronda de Elite, foi excluído da competição, promovendo assim uma quase repescagem dos franceses onde milita Ricardinho e que viveram na última época uma situação caricata de serem campeões e três dias depois descerem de divisão por irregularidades económicas e salários em atraso a jogadores e membros da equipa técnica com o respetivo impacto naquilo que era o plantel. No entanto, nem mesmo perante uma diferença natural de valias Nuno Dias assumia qualquer favoritismo.

“Foram o melhor segundo classificado na Ronda da Elite e garantiram a presença nesta fase final com mérito. A equipa tem muita qualidade individual e coletiva. O treinador também tem qualidade e espera-nos um jogo difícil. Vamos estar preparados, encarando este jogo como uma final. Não há final no domingo se não formos competentes na meia-final de amanhã [sexta-feira]. O nosso foco é só vencer o ACCS e nada mais, foi com esse intuito que preparámos essa competição”, comentara na antecâmara o técnico dos leões, que defendia o título ganho na última época e que chegava à quinta Final Four nos últimos seis anos. “Já os defrontámos esta época e temos algo para trabalhar em cima. Daremos tudo para conseguirmos a vitória. O Ricardinho é uma mais-valia mas não vai resolver o jogo sozinho”, acrescentara o capitão João Matos.

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O Sporting chegava a um dos dois pontos altos da época com todos os objetivos cumpridos. Conquistou logo a abrir a Supertaça, ganhou também a Taça da Liga, apurou-se para a Final Eight da Taça de Portugal, teve um trajeto que lhe permitiu ter “controlado” o primeiro lugar da fase regular da Liga e pelo meio viu sete dos seus jogadores sagrarem-se bicampeões europeus de seleções. No entanto, e em caso de triunfo com o ACCS que estava a fazer o “jogo de uma época”, sabia que iria sempre encontrar ou o adversário da última final europeia (Barcelona) ou o crónico adversário de qualquer final nacional (Benfica). Por isso, quis partilhar responsabilidades entre todos. No entanto, o favoritismo facilmente passou da teoria para a prática.

Depois de um início com muitos remates e a “abafar” o conjunto francês que pouco ou nada saída do meio-campo, os leões conseguiram inaugurar o marcador aos cinco minutos na sequência de um canto com remate de Erick e desvio do mais recente reforço Esteban Guerrero (leva cinco golos em quatro jogos, sendo que a primeira vez que tocou na bola como jogador dos verde e brancos o espanhol marcou frente ao Viseu 2001). Percebendo as dificuldades, o ACCS arriscou logo a partir daí o 5×4 com N’Gala como guarda-redes avançado e conseguiu com isso ter outra expressão no plano ofensivo, colocando outros problemas a Guitta e à própria organização verde e branca. No entanto, e após mais um canto, Tomás Paçó fez de cabeça o 2-0 (10′).

Nuno Dias ia rodando todos os jogadores de campo, com minutos para todos para ir mantendo a intensidade em campo e de certa forma poupando os elementos de campo a grandes desgastes. E os resultados dessa estratégia continuaram a aparecer, com Zicky Té a ter uma grande receção após passe longo de Tomás Paçó e a assistir Alex Merlim para o 3-0 (12′). O Sporting tinha o triunfo na mão perante a incapacidade do ACCS responder a esse golpe duplo quase em minutos consecutivos mas os franceses reentraram na partida perto do intervalo com a expulsão com vermelho direto de Pany Varela (que falha a final por um gesto irrefletido sem necessidade) e o 3-1 de Lutin apenas sete segundos após o início da vantagem numérica (18′).

A formação gaulesa conseguiu prolongar esse melhor momento até ao início da segunda parte, apostando na mesma no 5×4 e tendo alguns remates com perigo à baliza de Guitta até ao 4-1 marcado por Cavinato, após um roubo de bola de Zicky Té que avançou até assistir para o esquerdino fazer sozinho o golo (25′). O ACCS ainda conseguiu reduzir por Galmim, num lance que deixou Nuno Dias particularmente irritado pela forma como a equipa adormeceu a defender com menos um (28′), mas uma jogada individual de Alex Merlim no 1×1 a puxar a bola para fora com remate de pé esquerdo fez o 5-2 e voltou a esfumar esse esboço de reviravolta (30′). Cardinal aumentou de grande penalidade (33′) e sentenciou o 6-2 final no encontro.

Com este resultado, o Sporting consegue atingir a sexta final da principal competição europeia de clubes (só superadas pelas oito do Inter FS), a segunda consecutiva e a quinta nos últimos seis anos, tendo agora pela frente o vencedor do jogo entre Benfica e Barcelona. E, depois de três desaires nas primeiras finais em 2011 (Montesilvano), 2017 e 2018 (ambas com o Inter FS), seguiram-se duas vitórias frente a Kairat (2019) e Barcelona (2021). Só os espanhóis do Inter FS (cinco) e do Barcelona (três) têm mais troféus.

A sorte protege os audazes: Sporting vence Barcelona com reviravolta épica na segunda parte e é de novo campeão europeu de futsal