O governador do Banco de Portugal não gostou de ver alguns colegas do Banco Central Europeu (BCE) dar a entender que está a ser preparada uma subida das taxas de juro em julho. Mário Centeno pediu “calma” e “ponderação” nas declarações públicas que forem feitas sobre o tema.

No início desta semana, Isabel Schnabel, membro da comissão executivo do BCE, disse em entrevista que, tendo em conta a “perspetiva atual”, na sua opinião um “aumento dos juros em julho é possível” como resposta à subida rápida da taxa de inflação. O economista italiano Fabio Panetta, membro da comissão executiva do BCE, também defendeu que as taxas de juro devem subir, mas não já em julho.

“Falar já não chega, temos de agir”. Responsável do BCE admite subida dos juros em julho para combater inflação “extremamente elevada”

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Questionado pelos jornalistas esta quinta-feira, numa apresentação do boletim económico de maio, sobre as declarações de membros do BCE quanto às taxas de juro, Mário Centeno disse que o banco central só age consoante os dados que tem disponíveis, considerando que são precisos mais dados para se agir.

“A menos que algum desses membros do conselho de governadores tenha acesso a dados que ainda não foram divulgados, eu recomendaria alguma calma e ponderação nessas comunicações, porque ou somos dependentes de dados ou alguém tem acesso a informação que não está disponível para todos e há aqui uma assimetria”, defendeu.

Pouco depois, perante as perguntas dos jornalistas, viria a acrescentar que as declarações dos membros do BCE foram feitas “antes do tempo”, “ou porque têm informação que não é pública” ou porque têm “uma grande convicção”.

Apesar desta posição, Centeno acredita que uma subida das taxas de juro seria “desejável”, mas apenas “quando for seguro fazê-lo”, ou seja, quando essa subida não for um risco para a recuperação da economia europeia. “Qualquer movimento nesta direção é desejável, mas só será tomado quando for seguro fazer”, afirmou.

O governador acredita que “o que mais preocupa” os agentes económicos é que o BCE “tome decisões de sobrereação que possam, de alguma forma, prejudicar a trajetória de recuperação da economia que não estava concluída”. É que “a estagnação da zona euro é um espetro, do ponto de vista económico, que não está afastado”.