Há não muito tempo, o AC Milan-Atalanta seria um jogo de tripla. Porque o AC Milan teve sempre um bom rendimento no San Siro, porque a Atalanta tinha para muitos o futebol mais evoluído em termos ofensivos da Serie A, porque o jogo podia cair para qualquer lado ou para nenhum deles. Este domingo, o jogo podia ser menos de tripla tendo em conta o rendimento decrescente da equipa de Bérgamo e o crescendo até à liderança do conjunto de Milão mas havia uma outra tripla que prendia o futebol italiano: a formação rossoneri podia acabar o dia como campeã, a adiar decisões dependendo de outros ou a depender de si.

“Aquela derrota que tivemos em Bérgamo serviu para entender muitas coisas mas não considero que este jogo seja o fecho de um ciclo. É um jogo muito importante, por isso não vamos mudar a nossa mentalidade. Jogámos bem na primeira volta desta época mas sei que teremos um adversário e de quem espero algumas coisas diferentes”, comentara Stefano Piolo, a propósito da goleada sofrida pelo AC Milan em janeiro de 2020, num dos pontos mais baixos da passagem do técnico pela equipa, que ao mesmo tempo teve o condão de convencer Zlatan Ibrahimovic a voltar a San Siro apesar de ter outras propostas vantajosas.

“Andamos a jogar partidas de mata-mata desde a viagem a Roma contra a Lazio. Ultrapassámos muitos obstáculos desde aí, agora temos mais um. A Atalanta tem sido mais forte fora do que em casa. Hipóteses de sermos campeões? Temos é de nos preparar bem, concentrar apenas no jogo e é isso que a seguir vai determinar o que pode acontecer. Não penso no jogo com o Inter, não precisamos de uma motivação maior do que aquela que já temos estando na liderança. A semana foi normal, com reuniões coletivas e individuais normais, com os mesmos sorrisos e o mesmo compromisso”, acrescentara o técnico rossoneri.

Ibrahimovic, que foi campeão há mais de uma década pelo AC Milan e procura agora novo título, voltou a começar no banco à semelhança de Brahim Díaz, Saelemaekers e Krunic continuavam como apostas no apoio a Giroud. Depois, havia Rafael Leão. E o português, que leva 14 golos e dez assistências, voltou a ser decisivo pelo quinto jogo consecutivo: marcou no triunfo com o Génova (2-0), assistiu na vitória frente à Lazio (2-1), marcou diante da Fiorentina (1-0), fez duas assistências frente ao Verona e voltou agora a marcar no triunfo com a Atalanta (2-0). Cinco jogos, três golos, três assistências, cinco vitórias.

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Os visitados tiveram uma entrada a todo o gás com um lance em que Saelemaekers ganhou espaço na área, não conseguiu rematar nas devidas condições mas a bola continuou em zona de perigo sem que ninguém encostasse para a baliza, mas a Atalanta foi conseguindo travar esse arranque, estabilizou o seu jogo, foi fechando todos os espaços para as transições dos rossoneri e teve ainda duas chegadas sem finalização mas com perigo à baliza de Maignan. Com isso, e na primeira meia hora, Rafael Leão teve o único remate que foi enquadrado com a baliza, numa tentativa em arco ao poste mais distante defendida por Juan Musso. E foi Muriel a criar a primeira situação de verdadeiro perigo, com um remate bem travado de fora da área.

As coisas não iriam melhorar muito até ao intervalo para o AC Milan, a falhar mais passes do que é normal e a revelar um excesso de ansiedade que muitas vezes atrapalhava o jogo organizado com bola da equipa. Rafael Leão ainda tentou visar a baliza de fora mas o remate saiu muito ao lado antes de um lance muito contestado em cima do intervalo, com Giroud a pedir penálti por falta de Djimsiti mas nem o árbitro nem o VAR a atenderem a essa pretensão até porque, na repetição, a infração parece ter sido fora da área.

Após o reatamento, com Theo Hernández a marcar um livre direto às malhas laterais que deixou sensação de golo a muitos adeptos em San Siro, Pioli não demorou a mexer. E Rafael Leão, pela exibição menos conseguida, até estava entre os candidatos à saída. Saíram Saelemaekers e Giroud para as entradas de Rebic e Júnior Messias, o português ficou. E bastaram pouco mais de dois minutos para ter razão nessa opção: num lance em que a equipa da Atalanta ficou a pedir falta no início da jogada, Messias lançou a velocidade do jogador formado no Sporting e Leão inaugurou mesmo o marcador aos 56′. 

O AC Milan tinha feito o mais complicado mas tinha ainda de sofrer para aguentar a reação da Atalanta, que já tinha trocado Muriel e Pasalic por Zapata e Malinovskyi. E o inevitável Zapata, que foi deixando de ter a influência que tinha na equipa esta temporada, ainda visou por duas vezes a baliza de Maignan, de bola corrida (por cima) e de bola parada (ao lado). No entanto, estava para chegar o momento do jogo, que foi protagonizado por Theo Hernández: o lateral ficou com a bola pouco à frente da sua área, acelerou, desenhou uma espécie de “s” sempre com bola controlada e foi à área rematar cruzado para o 2-0, num golo que ficou como uma obra-prima a lembrar os tempos de Maradona e que fechou o jogo (77′).

Com este triunfo, e com a vitória do Inter frente ao Cagliari, o AC Milan ficou a um ponto do título, tendo agora de pontuar na última ronda fora com o Sassuolo ou esperar que o rival não vença a Sampdória (nesta altura têm 83-81 pontos, com vantagem no confronto para os rossoneri). De recordar que o conjunto de Pioli já não ganha qualquer título desde 2016 (Supertaça) e não conquista a Serie A desde 2011.