Élisabeth Borne, segunda mulher a assumir o controlo do governo francês (e a primeira desde abril de 1991), já discursou pela primeira vez desde que se tornou a primeira-ministra de França. As primeiras palavras foram dirigidas ao homem que vai agora substituir, Jean Castex: “Obrigada pelo seu compromisso inabalável em servir o nosso país. Obrigada pelas suas palavras e obrigada pelas muitas batalhas que travamos juntos”.
“Muitas mulheres e homens franceses, como eu, sentem uma pontada no coração agora que deixa o seu posto. Conquistou os corações dos franceses em todo o país”, considerou a nova primeira-ministra. Élisabeth Borne recordou que tem “muitas diferenças” em relação a Jean Castex, mas também “muito em comum”: “Acreditamos que as políticas públicas devem ser construídas por meio do diálogo”, sobretudo as que estão relacionadas com a ecologia. “Este é todo o sentido do novo método desejado pelo Presidente da República”.
Num curto discurso, Élisabeth Borne deixou “um pensamento” à primeira mulher a assumir o cargo de primeira-ministra — Edith Cresson, que governou entre maio de 1991 e abril de 1992. “Gostaria de dedicar esta nomeação a todas as raparigas. Corram atrás dos vossos sonhos! Nada pode parar a luta pelo lugar da mulher na nossa sociedade”.
Jean Castex está “particularmente feliz” em receber Élisabeth Borne: “Confio em si”
O primeiro a discursar foi Jean Castex, agora ex-primeiro-ministro francês, que disse estar “particularmente feliz” em receber a antiga ministra do Trabalho como sua sucessora. “Eu confio em si. Desde julho de 2020, tenho observado as suas imensas qualidades: retidão, integridade, habilidades, voluntarismo“, classificou: “A transição ecológica, a igualdade de territórios, a aspiração por justiça e igualdade. Todos esses valores que ancorou em si mesma. Eu estarei lá para si quanto quiser”, prometeu.
Jean Castex também deixou uma mensagem aos deputados franceses, ao Presidente da República, Emmanuel Macron, e aos cidadãos franceses. “Gostaria desde já de expressar toda a minha gratidão após estes meses que me levaram, como chefe do governo da República, a enfrentar com o povo francês uma série de acontecimentos bastante excecionais“, começou por dizer.
Focando-se principalmente na pandemia de Covid-19, dirigiu-se a Emmanuel Macron, reeleito recentemente, e disse: “Tivemos que tomar medidas duras. Mas aqui quero saudar a resiliência dos nossos concidadãos. A solidariedade que expressaram para além das disputas. Enfrentamos juntos. Tentei, com o governo, com todos os serviços públicos, remar estes barco. Com um único objetivo: proteger, apaziguar, explicar, reunir, federar. Esses agradecimentos obviamente também devo à equipa governamental da qual fez parte”.
Deixando um recado a Élisabeth Borne, o chefe do executivo cessante lembrou que “a guerra, que não terminou de revelar as suas consequências, sei que será uma das vossas prioridades”: “A sociedade está a sofrer. Alguns dos nossos concidadãos encontram dificuldades. O povo francês é um povo exigente, pesa tudo. Mas ele quer enfrentar. É um grande povo. Um povo político”.
Depois do conselho, ainda brincou com a nova primeira-ministra: referindo-se ao modo como o cargo é tantas vezes criticado, recordou como “às vezes se diz que foi criado para isso”. “Mas temo que uma dessas críticas lhe seja poupada”, antecipou Jean Castex: “Aquela relativa ao seu sotaque”. O ex-primeiro-ministro referia-se às apreciações de que costuma ser alvo por ter um ataque típico do sul de França — muito diferente do que habitualmente se ouve em Paris.