A investigadora do Centro de Ética, Política e Sociedade (CEPS) da Universidade do Minho (UMinho) Patrícia Fernandes — também colunista do Observador — venceu o Prémio Res Publica 2021, com o ensaio “A Nova Direita no século XXI: identitária, nacionalista e cristã”, foi nesta terça-feria anunciado.
Em comunicado, a UMinho acrescenta que a distinção, no valor de 2500 euros, vai ser entregue na quarta-feira, 25 de maio, na sede da Fundação Res Publica, em Lisboa.
“Analisei as bases ideológicas da Nova Direita contemporânea e as ligações à Nova Direita francesa surgida nos anos 1970. Por outro lado, mostrei as razões que levam os partidos e movimentos associados à Nova-Nova Direita a cativarem um número crescente de eleitores. A junção destas duas perspetivas é pouco trabalhada em Portugal e o júri decidiu reconhecer-me o mérito”, resumiu Patrícia Fernandes.
Os seus estudos nos últimos anos mostram como os discursos políticos hegemónicos tendem a silenciar os discursos que estão nas margens.
“Mas esse silenciamento acaba por fracassar com o tempo, pois os projetos políticos têm um prazo-limite de eficácia e, além disso, o silenciamento reforça o sentimento de revolta de quem é silenciado“, explicou, citada no comunicado.
Para a investigadora, “o consenso que nasceu com o final da II Guerra Mundial tendeu a silenciar uma margem da população menos globalista, mais nacionalista, mais religiosa e mais identitária, mas os efeitos económicos e sociais desse consenso político têm vindo a engrossar as margens”.
“As elites políticas estão a optar por intensificar o silenciamento, mas hoje isso é infrutífero, já que nas redes sociais e nas plataformas mais obscuras da internet as margens reforçam o sentimento de revolta e, também, o de pertença a um grupo, sentem que não estão sozinhas”, sustenta.
Acrescenta que essa realidade foi evidente nos EUA, com a eleição e o mandato de Donald Trump, e nas recentes eleições em França, com o crescimento sustentado dos “enraizados”, como define o autor britânico David Goodhart.
A parte final do ensaio de Patrícia Fernandes debruça-se sobre o contexto em Portugal, onde “o fenómeno está a chegar com atraso, mas o crescimento e a afirmação do Chega como terceira força política demonstram a mesma dinâmica”.
“Será que as nossas elites políticas vão reconhecer a legitimidade democrática dessas vozes ou, então, vão repetir a tentativa de silenciamento de outros países? É essa a análise que vou continuar a desenvolver”, disse ainda.
A Fundação Res Publica galardoa a cada ano um ensaio inédito sobre temas políticos e económico-sociais.
O júri desta terceira edição foi composto por Edite Estrela (presidente), Constança Urbano de Sousa, Pedro Bacelar de Vasconcelos, Filipe Nunes e Rui Pena Pires.
Esta é a segunda distinção do CEPS na iniciativa, já que a edição inaugural laureou Roberto Merrill e o seu ensaio sobre rendimento básico.