Centenas de adeptos do Liverpool foram atingidos com gás lacrimogéneo lançado pela polícia francesa à entrada do Stade de France, onde pouco depois se iria jogar a final da Liga dos Campeões entre o clube inglês e o espanhol Real Madrid. Uma mistura de falta de organização em Saint Denis (e um pouco em toda a cidade de Paris) com os ânimos exaltados dos britânicos culminou num caos incomum na competição.

Segundo os relatos que chegam do local, as autoridades lançaram gás lacrimogéneo para dispersar uma multidão de apoiantes do Liverpool que tentava entrar no estádio sem bilhete. O jogo, que estava marcado para as 21h de Paris (menos uma hora em Lisboa), acabou mesmo por começar 30 minutos mais tarde.

A UEFA, responsável do evento, atribuiu os atrasos à “chegada tardia dos adeptos”. Mas a jornalista Kelly Cates, da Sky Sports, desmentiu: “Esta não é de todo a minha experiência. Eu estava no exterior, no caos, bem mais de uma hora antes do pontapé inicial e, de facto, estava a algumas centenas de metros duas horas antes. Simplesmente não me conseguia aproximar. Nada de sinalização, nada de direções, nada de apresentação antecipada”.

Outro jornalista inglês, Andy Kelly, classificou a organização no Stade de France de “absolutamente terrível”. “Estou aqui duas horas e meia mais cedo, milhares ainda cá fora. A polícia encaminhou os fãs para um gargalo perigoso numa passagem subterrânea. Agora os portões estão fechados com fãs que têm bilhetes presos cá fora. Uma desgraça, UEFA”.

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Um jornalista da Associated Press, Steve Douglas, afirmou nas redes sociais que foi colocado numa cabana por um segurança, obrigado a retirar a acreditação que confirma que é repórter e forçado a apagar todos os vídeos que mostrariam o caos à entrada do Stade de France. Caso contrário, seria impedido de regressar ao Stade de France, descreve o jornalista.

Em declarações à Associated Press, citadas pelo Daily Mail, um adepto descreveu a situação como “absolutamente horrível”: “Criou-se um estrangulamento lá em baixo e há literalmente um espaço de 1,80 metros para talvez 20 mil apoiantes do Liverpool entrarem”.

Alguns adeptos garantem ter chegado quatro horas antes do apito inicial, mas as portas do estádio em Saint Denis só abriram às 18h. Enquanto os 20 mil fãs do Real Madrid entravam no estádio sem complicações, ocupando uma ala do Stade de França com uma hora antecedência — nessa altura, já a equipa espanhola aquecia no relvado —, uma conjugação de falta de organização dos dinamizadores com a exaltação dos adeptos ingleses culminou no caos.

José Luis Martínez Almeida, autarca de Madrid que assistiu ao caso no estádio, confirmou que a confusão esteve relacionada com “um problema de segurança para os adeptos do Liverpool porque milhares vieram sem bilhete”. A própria equipa do Liverpool ficou presa no trânsito, impossibilitada de chegar ao estádio, por causa da grande afluência de adeptos britânicos que estão em Paris este fim de semana.

É que, além dos 20 mil adeptos que compraram bilhete para assistir ao Liverpool-Real Madrid, estima-se que outros 40 mil tenha viajado para Paris para se concentrarem junto ao estádio durante a partida — um número que terá surpreendido as autoridades de segurança francesas. Mesmo após o início da partida, já com atraso, alguns destes fãs terão tentado saltar as cercas para chegar ao interior do estádio. À conta da desorganização no local e dos desacatos provocados pelos adeptos, alguns dos fãs que tinham bilhetes para o jogo ficaram retidos do lado de fora do estádio.

A própria organização de todo o evento fora do estádio não ajudou: enquanto a zona de fãs de Liverpool era no centro da cidade, a oeste de Champs Elysées; a zona reservada aos madrilenos ficava num jardim junto ao estádio. Ou seja, os britânicos tinham de andar 45 minutos de metro para chegar à estação Saint-Denis, o que provocou perturbações nos transportes públicos parisienses; e os espanhóis só precisavam de 20 minutos a pé.