Fazendo uma retrospetiva sobre aquilo que foi o Giro em 2020, o ano em que João Almeida se mostrou ao mundo andando com a camisola rosa durante duas semanas antes de terminar na quarta posição, ainda hoje se pode colocar em equação a estratégia da Team Sunweb que acabou de mãos a abanar. E a explicação é simples: com Wilco Kelderman na frente, a equipa deu prioridade a Jai Hindley sobretudo na etapa do Stelvio, ainda colocou o australiano na frente antes do contrarrelógio final mas Tao Geoghegan Hart, da Ineos, aproveitou a superioridade teórica para ficar com a vitória. Hindley ficou a 39 segundos, Kelderman acabou a 1.29 e a teoria dos dois galos para o mesmo poleiro foi a galinha dos ovos de ouro para o britânico.
Esse foi o grande momento de Hindley no pelotão internacional, sendo que o regresso à Volta a Itália foi marcado por uma lesão que o fez desistir no final da segunda semana. Aliás, depois do 18.º lugar na Paris-Nice, o ano de 2021 foi um ano de problemas físicos para o australiano, que abdicou também já em prova da Volta à Catalunha, do Tour dos Alpes e do Tour da Eslováquia, fazendo pelo meio uma sétima posição na Volta à Polónia onde antes já acabara no pódio. Ainda assim, a Bora, que contava com Kelderman desde 2021, não teve dúvidas do potencial que estava ali e este Giro foi a prova disso mesmo após um início em que a quinta posição na Tirreno-Adriático foi o único resultado mais positivo do corredor.
Depois de um início muito discreto à semelhança dos principais candidatos em etapas que não eram para ganhar na classificação geral, Hindley deu a sua primeira demonstração de força na subida ao Blockhaus pela forma inteligente como acreditou que a saída de Carapaz, Bardet e Mikel Landa não teria sucesso e que todos chegariam ao sprint para depois conseguir a vitória e mostrou que seria o grande adversário de Carapaz na geral em Turim, quando chegou com o equatoriano. Havia apenas sete segundos entre ambos, três depois da terceira posição em Aprica, e até mesmo quando a tática da Bora falhou como aconteceu em Lavarone o australiano nunca cedeu. Quase parecia estar à espera do momento de fazer o xeque-mate ao líder da Ineos e essa oportunidade chegou e foi aproveitada nos últimos quilómetros de Marmolada.
⏱️ Jai Hindley set today the 2nd fastest ever climbing time on Passo Fedaia: 18 min 52 sec, smashing Carapaz at ~6,5 w/kg! ???? Previously, only in 2008 Fedaia was used as finishing climb though, important to mention. Huge performance by Jai anyway. #Giro https://t.co/KeD5OPImLE pic.twitter.com/Nflw4tozep
— Mihai Simion (@faustocoppi60) May 28, 2022
“Era um dia crucial, a última subida era muito dura e sabia que, querendo algo mais da corrida, tinha de ser ali quaisquer que fossem as condições das minhas pernas. Dei tudo o que tinha e quando ouvi que o Carapaz estava a passar dificuldades, foi a motivação que precisava para me dar gás até à linha da meta. A forma como se corre hoje no ciclismo é muito calculada, temos de salvar as balas para o momento certo. Na véspera tinha tentado apenas mexer um pouco as coisas mas não foi um bom dia”, comentou após resgatar a camisola rosa na penúltima etapa como tinha acontecido em 2020. “Tivemos um grande dia e o final acabou por ser perfeito. Agora vou morrer por esta camisola no contrarrelógio”, acrescentou.
Fighting for every second ????????
In-car with @BORAHansgrohe as @JaiHindley goes into the Maglia Rosa on La Marmolada ????
_____
???????? #Giro pic.twitter.com/1IR5wZhSVC— Velon CC (@VelonCC) May 28, 2022
Cada um à sua maneira, a Bora teve corredores com trabalhos fantásticos para o sucesso de Jai Hindley. Kämna foi o melhor exemplo disso mesmo, rebocando o australiano nos últimos dois quilómetros quando Carapaz não tinha pernas para responder. Mas antes já tinha havido Emanuel Buchamann e o próprio Wilco Kelderman, agora assumidamente um homem de equipa a jogar pela vitória na geral do companheiro de equipa com quem tinha protagonizado o caso do Giro de 2020. Era 1.25 minutos de distância para o equatoriano e quase dois para Mikel Landa, o pior do trio em contrarrelógio. E o final dos pouco mais de 17 quilómetros em Verona trouxe a tão desejada consagração, sucedendo a Egan Bernal, da Ineos.
Il momento che ha deciso il @giroditalia 2022 ????
Jai Hindley stacca il leader della generale (fino a quel momento) Carapaz sul Fedaia, rifilandogli oltre un minuto: che attacco!!! ????#Giro | #EurosportCICLISMO pic.twitter.com/VEkkwVUrKk
— Eurosport IT (@Eurosport_IT) May 28, 2022
Aos 26 anos, Jai Hindley, nascido em Perth, tornou-se apenas o segundo australiano a conseguir ganhar uma grande volta, depois do sucesso de Cadel Evans no Tour de 2011, e o primeiro a ganhar a Volta a Itália. No contrarrelógio, o corredor da Bora não foi além do 15.º melhor tempo, com sete segundos a mais do que Richard Carapaz (décimo). Matteo Sobrero ganhou em Verona com o registo canhão de 22.24, menos 23 segundos do que Thymen Aresman e menos 40 do que Mathieu van der Poel. Landa acabou a última etapa deste Giro no 76.º posto, a mais de três minutos do que o vencedor da BikeExchange (3.04). Na geral individual, que acabou com Carapaz a 1.18 de Hindley, Hugh Carthy conseguiu ainda subir à nona posição depois do contrarrelógio, trocando de lugar com Juan Pedro López, que ganhou a camisola da juventude.
Jai, the Rose from down-under.@JaiHindley – @BORAhansgrohe#Giro pic.twitter.com/vVHZWwGh5U
— Giro d'Italia (@giroditalia) May 29, 2022