Quando olha para a imagem de capa deste artigo, a mancha negra parece estar a crescer, assemelhando-se a um buraco negro? Se respondeu que sim, fique a saber que tudo não passa de uma ilusão de ótica. E não fique a achar que é uma pessoa fácil de enganar: esta é a resposta de 86% da população, concluiu um estudo publicado na última semana na revista Frontiers in Human Neuroscience.

Os restantes 14% – que, claro, pode ser o seu caso – não se apercebem de nenhum movimento, vendo-a em duas dimensões. A equipa pretende, agora, compreender o motivo pelo qual o cérebro destes inquiridos está a funcionar de uma forma diferente da maioria dos participantes.

Os cientistas mostraram esta imagem estática a 50 participantes e, através de um rastreador ocular infravermelho, descobriram que, quanto mais expressiva é a resposta à ilusão de ótica (os que visualizaram um buraco negro maior), mais forte é a dilatação da pupila — a abertura no centro da íris que se ajusta à luz ao redor, “abrindo” quando está escuro para entrar mais luz e “fechando” em espaços bem iluminados para prevenir a superexposição.

Na ilusão de ótica que está a ser analisada, contudo, o buraco não está a escurecer. “Não há razão intrínseca para que a pupila mude nesta situação, porque nada está a mudar no mundo”, justificou Bruno Laeng, professor de psicologia da Universidade de Oslo (Noruega) e autor do estudo. “Mas algo claramente mudou dentro da mente [de quem o estava a observar]”, acrescentou ao The New York Times.

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A região preta central imita a entrada de uma caverna ou de um túnel — sítios associados à escuridão — e o padrão envolvente dá ao espetador a impressão de que está a mover-se em direção a essa entrada. O cérebro, ao registar uma potencial mudança na intensidade da luz (como entrar numa caverna), faz com que as pupilas dos participantes fiquem dilatadas para preparar antecipadamente o observador para a perturbação que está por vir. A pupila reage “mesmo que a luz seja imaginária”, salientou Laeng.

Já quando as cores foram invertidas — elipses brancas num fundo preto –, as pupilas contraíram-se (em vez de se expandirem), como se o espetador estivesse a deslocar-se rumo a uma luz brilhante, realçou o ABC Ciência.

O efeito da ilusão varia igualmente consoante as cores do fundo onde estão as elipses negras, sendo o mais intenso quando o buraco negro está sobre um fundo magenta.

Este estudo aborda uma limitação com a qual todos os seres vivos lidam, assegurou ao jornal norte-americano o neurobiólogo e professor emérito da Duke University, Dale Purves. Enquanto uma câmara consegue medir a quantidade de luz que está a captar, o ser humano não possui “esse instrumento físico”. Em vez dessa ferramenta, existe “um olho ligado a um cérebro”, complementou Laeng.

Outro conhecido exemplo que desmonstrou esta problemática é a fotografia do vestido, que se tornou viral em 2015, desencadeando debates sobre se a peça de roupa era branca e amarela ou azul e preta. Para Laeng, “é provavelmente o maior ensaio da História, pelo menos até agora”.

Afinal de que cor é este vestido? Espere, não há uma resposta única

Tanto no exemplo do vestido como no do buraco em expansão, os cérebros estão a fazer suposições sobre o que é visto, tendo em conta experiências passadas.

As informações que recebemos do mundo são bastante indefinidas. O cérebro entra num modo de adivinhação constante”, sublinhou o cientista.

Desta forma, alimenta-se o debate se a perceção não será, fundamentalmente, uma ilusão. “Tudo o que percebemos é inconsistente com a realidade física do mundo”, fez questão de salientar Purves. Uma hipótese, levantada por Laeng, é que o cérebro está a tentar prever o futuro. O processo de um estímulo exterior chegar ao cérebro e este dar-lhe sentido leva tempo. Finalizado o mecanismo, o tempo já avançou e o presente já mudou.

O cérebro necessita aproximadamente de 100 milissegundos para conseguir conferir algum sentido aos dados gerados quando a luz chega à retina — o tempo para alguém a andar devagar percorrer dez centímetros, distância já considerável. Este intervalo, como explica a Gizmodo — publicação que enfatizou ainda que há pessoas que, ao olhar para esta ilusão de ótica, julgam estar a cair dentro do buraco –, demonstra a razão do cérebro ter desenvolvido mecanismos de compensação e frequentemente fazer previsões sobre, por exemplo, o que irá acontecer no futuro imediato.

“Ver a ilusão do buraco em expansão não é uma falha [do ser humano], mas uma característica: é o resultado da estratégia do cérebro para navegar num mundo incerto e em constante mudança”, escreveu o The New York Times, sublinhando que é “provavelmente” reflexo da História evolutiva e uma maneira de sobrevivência.