O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, afirmou hoje que a instituição está empenhada em evitar a fragmentação injustificada nos mercados de dívida, depois de países como Itália e Espanha verem os prémios de risco dispararem nos últimos dias.
“Estamos totalmente comprometidos em desenvolver, projetar e aplicar rapidamente um instrumento para lidar com a fragmentação injustificada”, disse De Guindos durante uma conferência, em Milão.
O ex-ministro da economia espanhol sublinhou que o BCE quer evitar, por exemplo, que “uma família ou uma empresa, em Itália ou Espanha, com as mesmas condições de liquidez, pague mais por um empréstimo do que uma família ou uma empresa que pede o mesmo na Alemanha”.
“A principal mensagem é que estamos totalmente comprometidos com a luta contra a fragmentação financeira, porque seria prejudicial para a união bancária e para toda a Europa”, disse.
De Guindos também reconheceu que “todos” subestimaram o problema da inflação, quando a recuperação após a pandemia trouxe um aumento de preços, que as organizações mundiais considerariam circunstanciais.
Argumentou ainda que, se a inflação começar a cair, os rendimentos dos títulos europeus também se estabilizarão.
O prémio de risco italiano, que mede o ‘spread’ entre o título alemão e o título italiano de dez anos, está acima de 200 pontos base há dias, face aos 100 do ano passado.
As tensões no mercado de dívida italiano surgiram depois do BCE ter anunciou na semana passada que irá avançar com a a primeira subida da taxa de juros em onze anos e que será de 25 pontos base.
O prémio italiano chegou perto de 250 pontos na terça-feira, embora nesta quinta-feira esteja em torno de 214, enquanto o rendimento dos títulos de dez anos superou 4% na terça-feira, em níveis do início de 2014, e nesta quinta-feira caiu para 3,9%.
Na quarta-feira, o BCE anunciou, após uma reunião de emergência, que iria “acelerar” o projeto de um novo instrumento “anti-fragmentação” para impedir um afastamento muito grande entre as taxas de juro dos países do norte e os do sul na zona euro.
Ao mesmo tempo, o BCE prometeu “flexibilidade” na sua política monetária para acalmar a tensão no mercado de dívida.
Nesse dia, o governador do BdP, Mário Centeno, defendeu que o novo instrumento anti-fragmentação que o BCE está a preparar é paralelo à normalização da política monetária, criando as condições para a sua concretização.
Mário Centeno escusou-se a detalhar as características do novo instrumento, uma vez que ainda está a ser desenvolvido, mas afirmou que pretende criar as condições adequadas para que a normalização da política monetária anunciada pelo BCE possa avançar.
O governador sublinhou que esta “não é uma alteração de trajetória”, mas sim, pelo contrário, criar as condições para que a trajetória definida se possa materializar.
Já hoje o ministro das Finanças português, Fernando Medina, elogiou a “mensagem importante num momento importante” do BCE e rejeitou que as taxas de juro ascendam aos níveis registados “antes da grande mudança na política monetária europeia que Mario Draghi [anterior presidente do BCE] protagonizou e que, de facto, mudou o perfil da política monetária”.