António Costa diz que uma das suas “maiores frustrações” dos últimos seis anos, como primeiro-ministro, é “saber-se sempre, à partida, que a CGTP nunca assina” contratos coletivos de trabalho. Numa conferência organizada pela CNN Portugal, em Lisboa, o primeiro-ministro diz que a CGTP “não compreendeu a oportunidade histórica que teve para fazer um reposicionamento”. Sobre a inflação, Costa diz que o Governo está a gerir “com tranquilidade” e diz que irá haver novas medidas extraordinárias de apoio nas próximas semanas – sem necessidade de mexer no Orçamento do Estado que acaba de ser promulgado.
O primeiro-ministro diz ser um “desequilíbrio” que apenas se consiga a assinatura das organizações patronais e de uma das confederações sindicais (a UGT), ao passo que “se sabe, à partida, que a CGTP nunca assina”. António Costa deseja que a CGTP “passe a adotar uma atitude em que as pessoas percebessem que só há um verdadeiro acordo quando todos assinam“.
Aliás, diz António Costa, idealmente o Governo nem teria de se envolver nestes processos de negociação salarial. “Em países nórdicos, como a Noruega e a Suécia, os patrões e os sindicatos disseram logo, sobre o salário mínimo, ao Estado para não se meter. Mas, por razões culturais, infelizmente não somos um país nórdico e exige-se que haja sempre, por parte do Estado, uma intervenção – o Governo não pode ser neutro”.
São acusações rejeitadas pela CGTP. Ouvida pela Rádio Observador, Isabel Camarinha garante que “nada é mais falso” e desafia o primeiro-ministro a fazer essas declarações apenas quando a central sindical está presente para se defender.
Isabel Camarinha garante que a CGTP está aberta a “negociar a todos os níveis” com o Governo e com os patrões, mas ressalva que a negociação está dependente do “conteúdo das propostas”.
Ouça aqui a entrevista na íntegra à secretária-geral da CGTP na Rádio Observador.
António Costa sublinhou, também que irá haver um “grande aumento das pensões de reforma” no próximo ano devido à conjugação, nos termos da lei, do crescimento elevado e da inflação também historicamente alta.
O primeiro-ministro acrescentou que serão nas próximas semanas anunciadas medidas extraordinárias de apoio às famílias no contexto de elevada inflação – o Governo está a gerir “com tranquilidade” este momento de incerteza, afirmou António Costa.
Essas medidas extraordinárias não irão, porém, implicar qualquer ajuste orçamental: António Costa recusa completamente a ideia de que o Orçamento do Estado seja revisto, ainda mais depois de ter sido promulgado na sexta-feira para estar em vigor só meio ano. Achar que o Orçamento do Estado pode ter de ser retificado é sinal da “doença nacional que é o ceticismo”, diz António Costa.
“Empresas ou se adaptam às novas gerações ou fecham”
O primeiro-ministro assinalou, também, que as empresas têm de adaptar aos novos tempos já que os jovens não aceitam estilos de liderança “autoritários” e “pouco envolventes e criativos”. “E se os jovens têm sempre alternativa, essas empresas não terão – ou fazem estas alterações ou fecham“.
Já na questão salarial, António Costa diz ter ficado “surpreendido” pelo facto de “muita gente ter ficado surpreendida” pelo primeiro-ministro ter pedido que subam em 20% os salários nos próximos anos.
“Nós fixámos no programa do Governo um conjunto de metas designadamente que o peso dos salários no PIB em linha com a média europeia, de 45% para 48%”, diz António Costa, contextualizando com o facto de os “salários terem vindo a perder peso PIB em detrimento de outros rendimentos, como os rendimentos de capitais”.
Fico um pouco surpreendido pela surpresa pela minha afirmação e fiquei surpreendido porque o salário médio nos últimos seis anos subiu 22% 23%”, afirmou António Costa, recorrendo aos mesmos números que Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, tinha referido anteriormente (e já na última quarta-feira).
“Aquilo que é preciso é manter o ritmo de crescimento salarial que tivemos nos últimos seis anos”, diz António Costa, acrescentando que, na verdade, a partir do contacto que tem com os empresários esse esforço de aumento de salários já está a ser feito, tendo em conta o esforço que as empresas têm de fazer para reter talento mais qualificado e perante a taxa de desemprego em mínimos.
“Se as empresas querem ser competitivas a vender têm de ser competitivas a contratar“, remata o primeiro-ministro.