Em 1985, 1986 e 1989, Boris Becker venceu em Wimbledon. Nas décadas seguintes, já depois de acabar a carreira, Boris Becker comprou uma casa em Wimbledon, onde ficava sempre que se deslocava ao Reino Unido, mantendo a residência oficial na Suíça. Até há pouco tempo, Boris Becker esteve preso em Wandsworth, a menos de 20 minutos de carro de Wimbledon.
Apesar de ter sido recentemente transferido, estando agora num estabelecimento prisional exclusivo para reclusos estrangeiros, a verdade é que o antigo tenista continua a menos de hora e meia de Wimbledon. Ou seja, mesmo a cumprir metade dos dois anos e meio de prisão a que foi condenado em Huntercombe — a outra metade será passada em liberdade condicional –, Boris Becker parece continuar a gravitar à volta de Wimbledon. E este ano, mesmo tendo sido considerado culpado de crimes de remoção de propriedade, ocultação de propriedade e ocultação de dívida no passado mês de abril, continua a ser um dos temas centrais do Grand Slam.
Nem que seja porque outros, igualmente importantes para a história recente do ténis, o recordam. Esta segunda-feira, os antigos tenistas John McEnroe e Sue Barker foram amplamente criticados por terem expressado uma espécie de apoio ao alemão durante as primeiras horas da transmissão de Wimbledon por parte da BBC, onde são comentadores. “Boris, adoramos-te. Temos saudades tuas”, disse McEnroe, com Barker a acrescentar um simples “temos mesmo”. Muitos espectadores criticaram a cadeia britânica por ter permitido que a dupla “enviasse cumprimentos a um criminoso condenado” mas a BBC, por seu lado, decidiu não comentar o caso.
O episódio, porém, surge uma semana depois de John McEnroe ter assumido que planeia visitar Becker enquanto estiver em Londres para assistir às partidas de Wimbledon. “O Boris é meu amigo. Isto é horrível. Quero vê-lo, se for possível e se ele quiser receber visitas. Sinto-me terrível. Ele é um dos melhores jogadores de sempre e sei que isso significava muito para o Boris. Ele está a passar por muito há já muito tempo”, disse o norte-americano sobre o antigo número 1 do mundo, que para além dos três títulos em Wimbledon também conquistou um US Open e dois Open da Austrália.
O antigo tenista alemão, agora com 54 anos, foi considerado culpado de ocultar ou transferir ilicitamente centenas de milhares de euros e libras para não pagar as dívidas que tinha após ter sido declarado insolvente: transferiu centenas de milhares de uma conta profissional para outras contas, incluindo cerca de 465 mil euros para as ex-mulheres, não declarou vários bens na Alemanha e ocultou um empréstimo de 825 mil euros, assim como as ações que detinha numa empresa. Adicionalmente, usava a conta profissional como uma espécie de porta-moedas para o dia a dia, utilizando esse dinheiro para pagar os gastos diários e recorrentes e também as despesas escolares dos filhos.
Ainda assim, e apesar de estar naturalmente afastado do ténis em particular e do desporto no geral, Boris Becker continua a ser recordado — por McEnroe, por Barker e pela própria família, com a mulher Lilian Monteiro e o filho Noah a surgirem nas bancadas no dia inaugural de Wimbledon para assistir à partida entre Novak Djokovic e Soonwoo Kwon. Djokovic, que foi treinado pelo alemão durante três temporadas, venceu. Ele que também pode tornar-se um dos assuntos do Grand Slam britânico e não necessariamente pelos melhores motivos.
Esta segunda-feira, tanto Marin Cilic como Matteo Berrettini anunciaram que testaram positivo à Covid-19, ficando assim arredados da competição em Wimbledon. O problema? Cilic treinou com Djokovic, já no court central do All England Club, há poucos dias — o que significa que já poderia estar infetado quando partilhou o campo com o sérvio, sendo que ambos foram vistos em momentos de grande cumplicidade. Assim, e no torneio em que procurava reagir à ausência do Open da Austrália e à derrota com Nadal em Roland Garros, o não vacinado Djokovic pode ver o percurso ser encurtado pelo risco de um teste positivo.
Quanto a Boris Becker, apesar da teimosa atração por Wimbledon, o futuro poderá passar pela deportação. A prisão de Huntercombe é uma de apenas duas, em todo o Reino Unido, que só recebe reclusos estrangeiros — atualmente, alberga cerca de 400 homens, sendo que um relatório de 2017 indica que 185 de 197 pessoas libertadas no espaço de seis meses foram deportadas. Com residência em Londres há mais de uma década mas sem nunca ter solicitado a nacionalidade britânica, o antigo tenista deve agora ser considerado para sair do país.
“Qualquer cidadão estrangeiro que tenha sido considerado culpado de um crime e tenha recebido uma sentença é considerado para deportação assim que possível”, referiu o Ministério do Interior em resposta ao Daily Mirror. Quase 40 anos depois de ter vencido pela primeira vez em Wimbledon, Boris Becker está perto de ser expulso do país onde foi mais feliz.