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Florence matou-nos de tanto dançar, Jorja Smith seduziu-nos com subtileza: a crónica do segundo dia do NOS Alive

Este artigo tem mais de 1 ano

Ao segundo dia de NOS Alive, as temperaturas dispararam e Florence aproveitou para nos fazer suar. Já Jorja Smith foi a nossa musa, num dia com outros destaques femininos: Nilüfer Yanya e Celeste.

Florence Welch, a comandante e voz de Florence + The Machine, fotografada esta quinta-feira à noite no Passeio Marítimo de Algés
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Florence Welch, a comandante e voz de Florence + The Machine, fotografada esta quinta-feira à noite no Passeio Marítimo de Algés

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Florence Welch, a comandante e voz de Florence + The Machine, fotografada esta quinta-feira à noite no Passeio Marítimo de Algés

ANDRÉ DIAS NOBRE / OBSERVADOR

Um concerto de Florence + The Machine começa como se já estivesse a acabar, ou seja, em modo épico. É a prova dos 100 metros repetida em loop durante uma hora, sem falsas partidas ou tropeções. Foi assim no segundo dia do NOS Alive, no Passeio Marítimo de Algés.

Logo em “King”, Florence Welch já está a esvoaçar o seu cabelo intensamente ruivo, caído com a sensualidade de uma musa celta ou gótica sobre um vestido intensamente vermelho, com a urgência de mostrar todos os seus atributos na primeira faixa. É preciso estofo para acompanhar o ritmo desta londrina que se apresenta pela quinta vez em Portugal, mas a plateia não se intimida, bem pelo contrário.

Antes que consigamos respirar, já as guitarras e a bateria estão a cavalgar freneticamente em “Kiss with a Fist”. A multidão leva com estalos na cara, uns atrás dos outros, e gosta. Florence não para de se mexer e de rodopiar, não para de deixar as goelas de quem está nas primeiras filas bem abertas, elas que se posicionaram em campo precisamente para isto, para sorver a injeção de adrenalina que sai do palco como se o mundo fosse explodir no segundo seguinte.

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

“Sometimes I wonder if I should be medicated”, canta em “Free”, esse grito de libertação que está presente da primeira à última faixa do seu mais recente álbum, Dance Fever, um trabalho que nos remete para a peste da dança, a chamada de Choreomania – nome de faixa e tudo – que varreu a Europa entre os séculos XIV e XVII. Nessa altura, corpos caíam mortos de tanto dançar e, pela amostra, Florence não quer que ninguém saia vivo do Alive. Dúvidas houvesse, entra “Dog Days Are Over”, um uivo visceral a resgatar “Lungs” para o festival, essa estreia apoteótica do longínquo 2009.

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Para quem por esta altura ainda não está contagiado, Florence dá-lhes uma segunda oportunidade: quer que entremos todos num ritual. “Todos têm que o fazer, desde os que estão mais atrás até aos que estão mais à frente”, dita. E assim, antes de soltar os versos Run fast for your mother, run fast for our father, momento para o qual pede que saltemos tanto quanto pudermos, diz-nos para pousarmos os telemóveis. “Is everyone free?”, grita, impelindo-nos a abraçar o nosso próximo para uma experiência inteira, presente e intensamente coletiva. Os ecrãs baixam, a loucura sobe. Acabamos de entrar num ritual pagão sem que nos tenhamos apercebido e a fórmula resulta na perfeição: os Florence + The Machine não sabem dar concertos mortiços e são capazes de transformar míseros seres humanos em criaturas animalescas da noite.

Ali ao lado, no palco Clubbing, mais ou menos à mesma hora, o termómetro também bate nos píncaros, com as coladeiras aceleradas de Fogo Fogo. Testemunha-se outro modo de incendiar plateias e, convenhamos, qualquer um é válido desde que haja quem se deixe consumir pela chama. Nascidos e criados na Casa Independente, fazem questão de referir, trazem Cabo Verde no sangue. Só um pé muito carrancudo não se atreve a dançar ao som de “Hora Di Bai”, “Ca Ta Da” ou “È Si Propi”. Há garrafas de água a serem despejadas cabeça abaixo e já a meia noite vai alta. Não há horas mornas para Fogo Fogo, o frio aqui não entra.

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Temperatura tépida (será cansaço?) com alt-J

O mesmo que se diz de Fogo Fogo não se pode dizer de alt-J. A metade que está atrás da ilha do bar das cervejas, verdadeiro oásis durante o calor tórrido da tarde, deixa-se estar sentada a ouvir a turma de Joe Newman. À frente, os fãs mais acérrimos não desarmam e deixam bem claro, com os seus gritos audíveis, que foi para isto que pagaram bilhete. Os alt-J querem-lhes retribuir o carinho e lembram o quão bom é estar aqui pela quinta vez. It’s just you and me now, vamos a isto.

Em palco mostram-se pintados de negro (alguns floreados na camisa), bem alinhados e direitinhos, como rapazes do coro que se prepararam para o seu momento debutante. Atrás deles vão passando imagens cósmicas pensadas para enlevar a experiência de The Dream, o quarto álbum da carreira, lançado este ano. Mas é “Matilda” que arranca os primeiros coros da plateia, lembrança dessa aclamada estreia em 2012 com An Awesome Wave.

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Umas ondas aqui, outras acolá, Joe Newman a não errar uma nota, os solos todos no sítio, porém o concerto vai-se desenrolando com uma indisfarçável monotonia. O furacão Florence também não é meigo com as comparações, a bitola ficou lá bem no alto e com esta temperatura tépida não é fácil manter o público colado à banda.

Muitos vão abandonado, partem para “o outro palco”, o que daqui a nada terá Dino D’Santiago e que há bem pouco teve Nilufer Yanya, nome a acompanhar com muita atenção – já lá vamos. Os que ficam até ao fim e que não se deixam cair nas rodas de conversas que se vão acumulando no recinto – é impressionante a quantidade de falatório que as pessoas trazem para o festival, será que se deram conta de que há bandas a tocar em palco? – levam o docinho para casa. “Fitzpleasure” primeiro, tra la la tra la tra, “Left Hand Free” a puxar dos galões de uma boa malha rock e “Breezeblocks”, por fim, a despertar o clímax prometido e a fazer com que algumas almas já pouco dadas aos rapazes de Leeds se erguessem do chão. “I love you sooo” canta o público de mão erguida no ar. O ramalhete ficou composto, mas o concerto não ficou para a história.

Desculpa, Celeste, Jorja Smith é a musa de todos nós

Antes de Florence + The Machine e alt-J no palco principal, vimos uma mestre das artes da desaceleração e subtileza soul. Jorja Smith regressou esta quinta-feira ao Passeio Marítimo de Algés para provar que o seu lugar neste festival é no palco principal. Já o era até há três anos, em 2019, quando um dos palcos secundários (na altura, patrocinado por uma cerveja diferente daquela que hoje lhe dá nome) rebentou pelas costuras para a ver. Mais o foi agora, em 2022, com mais uma coleção de canções — o EP Be Right Back — entretanto lançada.

O concerto arranca com “Teenage Fantasy”, uma das 12 canções que Jorja Smith incluiu no seu disco de estreia, Lost & Found, revelado em 2018. Acompanhada por uma banda que incluía baterista, baixista, guitarrista, teclista e vocalistas de apoio, a compositora e intérprete britânica de 25 anos prova ao longo de uma hora (nem mais nem menos minuto) que é uma das melhores novas vozes da “neo soul”. Dito por outras palavras: se provas faltassem, eis Jorja Smith a confirmar ser uma das mais originais e certeiras escritoras de canções na junção de elementos soul com pós jazzísticos, funk pachorrento e novo R&B.

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A sensualidade das suas canções, que não são mornas mas amenas como o início daquela noite (indutora até de alguma letargia), vai-se sentindo num alinhamento quase perfeito das suas melhores canções: estão lá “Addicted” e “Gone”, num arranque portentoso, estão também “February 3rd”, “Wandering Romance”, “The One”, “Time” e “Bussdown” (canção que gravou com a nigeriana-britânica Shaybo) e, a fechar, “Blue Lights” e “On My Mind” — as últimas duas das quais, as mais cantadas e, no segundo caso, também mais dançada na plateia. Um bombom extra: uma versão de “Stronger Than Me”, de Amy Winehouse.

Apesar do som do microfone de Jorja parecer um pouco baixo para o que deveria estar, para o que a sua voz quente e as suas palavras pedem, foi um concerto mais adequado à popularidade e relevância artística da cantora do que a atuação de 2019 (que muitos não conseguiram sequer ver em boas condições) neste mesmo festival. Deu até para a sua afinada banda mostrar o que vale, com a britânica a sair de cena numa jam funky, e para Jorja Smith, com uma serenidade beatífica, balançar, dançar suavemente e espalhar charme para a plateia.

Ainda se pede encore mas nada feito. Venha agora um tão aguardado segundo disco, que pode elevar ainda mais um concerto de Jorja Smith num palco principal de um grande festival. Celeste, que a antecedeu, que nos perdoe — ela pode não querer ser a musa de ninguém mas Jorja Smith é a musa de todos nós.

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Dino D’Santiago foi o concerto certo, no tempo certo, no palco errado

Se em 2019 foi o concerto de Jorja Smith a pedir repetição futura num palco maior do festival, este ano o mesmo aconteceu a Dino D’Santiago. Quem chegou já nos primeiros minutos da atuação ter-se-á apercebido disso mesmo: era quase impossível (só mesmo furando, entre encontrões amigáveis e desculpes lá) entrar na tenda do palco patrocinado por uma cervejeira neerlandesa, que já estava à pinha e com muitas pessoas a assistir do lado de fora.

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Faz sentido, portanto, revermos Dino D’Santiago no principal palco do NOS Alive numa futura edição, porque o crescimento do seu impacto na música portuguesa tem sido demasiado exponencial para o vermos noutro lugar que não esse. A sua canção, feita de ritmos históricos de Cabo Verde e do continente africano mesclados com novas roupagens eletrónicas e dançantes, tem-se destacado sem espinhas pela singularidade.

Num ano em que teve um concerto marcante, o maior da sua carreira em nome próprio, no Coliseu dos Recreios, após uma trilogia de álbuns bem recebido com Mundu Nôbu, KRIOLA e BADIU (o último dos quais, arriscamos, ainda assim menos imaginativo), Dino D’Santiago teve no NOS Alive uma espécie de concerto de consagração festivaleira.

É isso que se sente quando canta temas como “Esquinas” (interpretando também ele mesmo a parte de Slow J na canção), a terminar com a expressão “nossos corpos também são pátria” entoada como grito de revolta, braço direito levantado, punho bem erguido no ar. Mas também, é claro, a otimista, porventura levemente ingénua, “Nova Lisboa” , as festivas e frenéticas “Brava (Carta Pa Tareza)” e “Krioulu” (sem Julinho KSD como convidado), uma “Como Seria” a pingar mel e a noctívaga — condimentada a batidas aceleradas de madrugada, mas pontuada com o canto emotivo de Dino — “Tudo Certo”.

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É bom, mas talvez seja preciso mais. Já o concerto ia adiantado quando o músico o sinalizava à própria organização do festival. Para bom entendedor, meia palavra basta: “Daqui a uns anos, tenho a certeza que o NOS Alive vai ser dos cartazes com mais música portuguesa, cantada em português e seus derivados. O que é isso do cabeça de cartaz?” Vemo-nos em 2023 ou em 2024, Dino?

Celeste: com a voz certa e canções intemporais, para quê encenar?

Celeste não foi, certamente, a cabeça de cartaz que tanto intrigava Dino D’Santiago: quando a norte-americana (de ascendência britânica) entrou no palco principal do festival, ainda o sol brilhava forte, ainda quase ninguém jantara, faltavam horas de música pela frente e festivaleiros por chegar eram ainda muitos.

E no entanto, terá sido uma das surpresas para aqueles que a não conheciam. Celeste tem uma postura melodramática que não é do seu tempo. É a diva que tem a sala cheia para a admirar e, ainda assim, canta como se intimamente estivesse mais sozinha do que nunca, como se Billie Holiday lhe tivesse tomado conta do corpo e dos maneirismos.

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De forma algo contida, com a banda composta por uma secção de sopros, violoncelo, teclados, bateria, congas e guitarra de blues a dar-lhe amparo sem se lhe sobrepor, Celeste começa a formar o seu concerto ao som de “Ideal Woman”. A faixa de abertura do álbum de estreia, Not Your Muse, é uma declaração de princípios que não dá azo a qualquer equívoco: ela pode não ser a mulher ideal para muitos, mas nem por um segundo isso lhe tira o sono. Não por acaso ganhou em 2019 o BRIT Award de Rising Star do ano.

Vestida como uma Supreme, saia às riscas diagonais verdes e brancas que acabam numa cinta redonda algo insólita, top com as mesmas riscas na direção oposta, desta feita pretas e brancas, luvas de couro verdes, botas camel até ao joelho, tudo em Celeste respira anos 60 e a própria admite, já o concerto vai a meio, que adora o old fashion.

Um pouco por toda a plateia começam a chover comparações com Amy Winehouse. É evidente a semelhança, como também a é com Etta Jones, que Celeste ouvia em adolescente em casa do avô. Foi aí, numa Brighton borbulhante, que começou a formar a sua identidade musical. Nela também encontramos Nina Simone, nos momentos em que a voz arranha uma tristeza própria de canções de amor que já ninguém mais canta nos dias de hoje. Quando se tem uma voz como a de Celeste, 28 anos feitos, filha de mãe britânica e pai jamaicano, vale a pena continuar a cantá-las e a chorá-las.

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O tom morno do início do concerto acabou por aquecer com a chegada de “Tell me something I don’t know”, groove vindo da Motown para sacudir os corpos. Seguiu-se “Stop This Flame”, todos quanto ainda permaneciam quietos cederam à cadência do piano, neste hino da cultura club ao qual Celeste empresta sem misericórdia o seu vozeirão. Ela lá se continuou a soltar com “Love is Back” cantada nas grades, depois de já ter apertado a mão à primeira fila que ali se esmagava para a ver. Logo de seguida enfiou-se sem medo pelo corredor que separa a plateia, qual cajado de Moisés, soltando-se da personagem que a própria veste.

A atuação, que ainda nos mostrou o novo tema “To love a man”, fecharia com “Strange”, apenas violoncelo e teclas no palco para uma balada romântica que todos nós, em algum momento da vida, certamente tivemos de cantar em soluços para expurgar um desgosto amoroso. É dos temas mais sentidos do seu reportório e a forma como o interpreta no álbum, sem adereços ou necessidade de grandes exibicionismos vocais, é o que o torna tão íntimo. Hoje, porém, talvez tenha faltado um pouco dessa depuração, desse fluir natural das águas.

Sentada teatralmente no palco, pareceu-nos que Celeste acabou por cair na sua própria armadilha, a de querer encenar uma profundidade emocional que não pedia qualquer encenação, apenas presença. A estreia em Portugal, muito aguardada – e bem – cumpriu com as expectativas, mas faltou alguma consistência para que tivesse sido uma atuação memorável. Ficamos a contar que ela volte.

Nilüfer Yanya: pouca gente para um concerto tão bom

Pode um dos grandes concertos de um festival ser dado para meia dúzia de gatos pingados? É só perguntar a Nilüfer Yanya que ela responde. Melhor ainda: faz isso sem grande converseta e sem rotundas, é pumba e vira de canções e quem quiser que as aproveite.

À hora exata para a qual o concerto estava marcado, 23h45, via-se tão pouca gente que a nosso lado ouvíamos alguém aventar a hipótese de este ter sido mais um concerto cancelado sem grande aviso (depois de Clairo no dia anterior). Afinal, não era nada disso, era só a grande família dos convertidos de Florence + The Machine a não arredar pé e a pequena família dos fiéis a Fogo Fogo incapaz de abandonar a festa quente e ritmada no Clubbing.

“A mim que me importa?”, já diz Bruno Aleixo e pode ter pensado Nilufer Yanya. Quem estivesse que lembre futuramente a ocasião: o momento em que uma artista britânica, filha de mãe irlandesa (com ascendência nos Barbados) e pai turco, não precisou de uma multidão para arrebatar com o seu indie-rock algo destrambelhado, ligeiramente neurótico, fecundado em canções que se entranham irresistivelmente.

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Atualmente com 27 anos, com dois álbuns que receberam loas da crítica — um dos quais, Painless, editado já este ano —, Nilüfer Yanya filtra as chatices e as dores todas pela guitarra elétrica, a azul e branca que toca com desenvoltura, e pela garganta, de onde lhe sai uma voz tantas vezes cortante, tantas vezes grave (quase dizendo as palavras, ao invés de as cantar) mas que impressiona também por ser igualmente capaz de desarmar com sussurros.

Acompanhada por uma baixista, uma teclista-saxofonista e um baterista, Nilüfer Yanya vai desfilando as suas canções, a recente “belong to you” primeiro, “The Unordained” (do primeiro disco) mais à frente, “L/R” e “stabilise” — com a mais antiga “Angels” pelo meio — adiante, a provarem que o sucessor de Miss Universe é mesmo candidato às listas de melhores álbuns de 2022. Como cereja no topo do bolo, uma versão de “Rid of Me”, de PJ Harvey.

Em muitos dos seus temas as canções rejeitam a verborreia, não são palavrosas, as palavras parecem até sair-lhe da boca como mera pontuação forte do ritmo da canção, vírgula absolutamente necessária aqui, ponto e vírgula acolá. A estrutura da canção sugere um gosto pelo indie-rock dos 90’s, pelo rock desconstruído quanto baste, mas as notas do teclado subvertem a fórmula e os sopros de saxofone fazem crescer a melodia, levam todo este embrulho para paragens que seriam épicas se não fossem deliciosamente misteriosas.

Quando damos por nós estamos no final do concerto e afinal já há filas retas sem fim à vista nas nossas costas, foi chegando tudo a conta-gotas mas quem veio, veio para ficar. Urge revê-la num outro palco, para um outro público.

Sem precisarem de voz, os Expresso Transatlântico viajam no futuro

Um festival, mesmo quando de grande dimensão, faz-se também de descobertas e de música emergente. Quando chegámos ao Passeio Marítimo de Algés durante a tarde, por volta das 18h40, preterimos o concerto de arranque no palco principal — dos portugueses Quatro e Meia, grupo pop de enorme sucesso que ainda há dias esgotara o Estádio de Coimbra — para rumarmos ao palco Clubbing, à procura de descobrir o futuro da música portuguesa.

Esse futuro não se esgotará neles, é claro, mas é altamente provável que não possa vir a ser contado sem os referir. Chamam-se Expresso Transatlântico, originalmente são três mas em palco tornam-se cinco. A Gaspar Varela (guitarra portuguesa), Sebastião Varela (guitarra elétrica) e Rafael Matos (bateria), juntaram-se esta quinta-feira, no NOS Alive, um baixista e um teclista-trompetista.

A música, predominantemente instrumental como ouvimos no primeiro EP homónimo (editado o ano passado, com seis temas no total), transporta-nos para vielas e esquinas, tanto remete em alguns momentos para o mundo musical cinematográfico dos Dead Combo como leva o ouvinte para festas patrocinadas por Kusturica (o trompete ajuda) — é Portugal, Brasil, África e costumes locais do mundo misturados num só caldeirão.

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Para a atenção que têm tido muito contribui, claro, o percurso e a biografia de Gaspar Varela, jovem prodígio da guitarra portuguesa e bisneto de Celeste Rodrigues, irmã de Amália, que encantou tanto Madonna que acabou chamado para a digressão de Madame X. Tanto o vemos sentado e curvado sobre a guitarra portuguesa, calças cinzentas e camisa aberta, pé esquerdo irrequieto a marcar o ritmo, como logo a seguir de pé a rockar, imaginando mundos elétricos e desassossegados para esse instrumento habitualmente associado apenas ao acompanhamento de fadistas.

O concerto acaba com Gaspar sozinho em palco, sentado, a provar o virtuosismo (mas um virtuosismo emotivo, mais sentido que exibicionista), antes de se atirar para as primeiras filas para um crowdsurf de encerramento, quiçá com o corpo apoiado em amigos. Ficamos espantados com a idade, só em 2022 faz os 18, e torna-se mais fácil apostar: não só os Expresso Transatlântico têm muito por onde crescer, em Portugal e fora do país, como Gaspar Varela será um dos protagonistas na nova música portuguesa já destes anos 20.

Ao longo do segundo dia e segunda noite-madrugada de festival viram-se ainda atuações dos talentos emergentes Pedro Mafama e Rita Vian, que já haviam atuado no NOS Primavera Sound, de Inhaler, de Bateu Matou e de Branko a dividir os comandos do motor dançante que é (para ele) a mesa de mistura com Batida. Esta sexta-feira, o festival prossegue com concertos de Metallica, Royal Blood, St. Vincent e M.I.A., entre outros.

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