Foi uma dúvida que durou poucos minutos: foi esse o escasso tempo que passou entre António Costa avisar que festivais em zonas florestais terão de ser, esta semana e dado o risco de incêndios, “readaptados” e possivelmente deslocalizados ou adiados, e o anúncio de que o Super Bock Super Rock — que arrancava esta quinta-feira no Meco — vai ser transferido para o Parque das Nações.
No entanto, o primeiro-ministro, que falava a partir da sede da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, em Carnaxide — saiu minutos antes de ser conhecida a notícia do Super Bock Super Rock — fez questão de frisar: com os dias de grande risco que se vivem, dadas as perigosas condições meteorológicas, cancelamentos ou mudanças nos festivais serão “o menor dos problemas que vamos ter no país”.
Até porque os problemas sérios terão a ver com “o elevadíssimo risco de incêndio que cobre praticamente todo o território” português, e que podem levar a um prolongamento do estado de contingência.
Quanto aos festivais, Costa já tinha demorado largos minutos a explicar que, com a proibição de eventos em zonas florestais e os pareceres negativos tanto da GNR como da Proteção Civil, seria preciso estudar “soluções alternativas” com o “prejuízo mínimo” — sabe-se agora que no caso do festival do Meco a solução será mudar o local; quanto à concentração motard, o primeiro-ministro chegou a dizer, sem se referir explicitamente a ela, que num dos casos seria possível mudar a “arquitetura” do evento sem ter necessariamente de sair do local para onde estava previsto.
E irritou-se com as várias questões sobre se o Estado cobriria potenciais prejuízos decorrentes destas decisões: “A ideia de que o Estado tem de segurar qualquer eventualidade da vida para pessoas e empresas não existe. Não é a seguradora universal”.
“Quem nos dera a nós que a maior preocupação fosse o cancelamento desses dois eventos [o Super Bock Super Rock e a concentração motard de Faro] e não o estado de gravidade que temos”, atirou. Como tem feito nos últimos dias — em que se tem concentrado num périplo por várias zonas do país para falar dos incêndios, tendo para isso cancelado a visita oficial a Moçambique que constava da sua agenda — preferiu focar-se nos avisos. E nesses não poupou, falando do “elevadíssimo risco” e “enorme gravidade” da situação.
De resto, Costa manteve a mensagem que começou a lançar esta segunda-feira, quando esteve em Góis, Lousã e Viseu para chamar a atenção para os recursos de combate aos fogos: é preciso responsabilidade individual, prevenir ao máximo qualquer “descuido” e ter cuidado para proteger os outros — muito como na pandemia.
O paralelismo tem sido usado pelo primeiro-ministro por estes dias e foi o que voltou a acontecer: Costa sublinhou que “a vida e a segurança das pessoas” são o bem “superior” e que decisões como estas, sobre alterações nos festivais, não são uma “opção política”, antes uma “determinação técnica” que nenhum político deveria contrariar só para “ser muito simpático”.
Tal como na pandemia não contrariaria as decisões dos técnicos sobre os períodos de isolamento necessários, frisou. “O princípio”, em tempos de risco, “é o mesmo”.