“Criar pontes”, ser “intermediário da inovação para criar um casamento entre projetos distintos” e ligar projetos de investigação científica às empresas. São alguns objetivos do projeto europeu S3E (Southern European Entrepreneurship Engine), que vai ser coordenado pela organização portuguesa HiSeedTech.

“Desenvolver um motor de crescimento que contribua para melhorar a conetividade e eficiência dos ecossistemas de inovação de base científica dos países do sul da Europa” é a ideia principal da iniciativa aprovada recentemente pela União Europeia e esta quarta-feira oficialmente apresentada num evento em Lisboa.

Com um financiamento do projeto Horizonte Europa na ordem de um milhão de euros e o arranque oficial marcado já para esta quinta-feira, o projeto europeu tem uma duração prevista de 30 meses para “melhorar a conectividade entre empresas e a ciência nos países do Sul da Europa”. O Horizonte Europa, projeto que financiou o S3E, é promovido pela União Europeia e decorre até 2027. Com um orçamento de mais de 95 mil milhões de euros, presta apoio na submissão de projetos e na procura de parceiros para integrar as iniciativas.

Esperámos por um longo tempo antes de encontrarmos um projeto europeu que tinha uma ligação exata com o que fazemos. Finalmente encontrámos este”, disse Pedro Vilarinho, diretor-geral da HiSeedTech, no evento de apresentação do S3E em Lisboa.

A HiSeedTech é uma associação portuguesa sem fins lucrativos — que pretende facilitar a interação entre projetos de investigação tecnológica e as empresas — composta por 24 companhias de diferentes setores de atividade, como a Renova, a BBVA Portugal ou CIN. Agora, com o projeto europeu que vai coordenar, o objetivo da associação é “estender o alcance” do que faz “a outros países do Sul da Europa” e dar um novo “boost” à ligação entre a ciência e as empresas.

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É sair de Portugal e fazer isto [esta ligação] a uma escala europeia porque isso depois vai favorecer as empresas portuguesas. O nosso maior valor é a nossa rede de investigadores”, afirmou Pedro Vilarinho em declarações ao Observador após o evento.

O foco do S3E está na deep tech

O S3E foi descrito por Pedro Vilarinho como “a HiSeedTech numa escala europeia”. O projeto com aprovação da União Europeia centra-se “na aceleração de projetos e startups que atuam no domínio da deep tech, ajudando a tornar tangível a inovação com base em ciência e a materializá-la em soluções pioneiras, duradouras e resilientes, com elevado potencial de criação de valor e de geração de mudança na sociedade”.

Desta forma, será estabelecida “uma ponte entre o conhecimento de base científica produzido pelas atividades de investigação com as empresas”. O objetivo é fazer um “casamento” entre empresas, que precisem de tecnologia e de investigação científica para resolver problemas, e equipas de investigação.

Considerando que os projetos e startups na deep tech são alimentados por pesquisas, na maioria dos casos, desenvolvidas dentro do ecossistema científico” o programa quer “trazer este conhecimento à luz do dia”, lê-se num comunicado enviado pela HiSeedTech ao Observador.

Para desenvolver projetos de investigação com potencial de mercado, incluindo a criação ou o auxílio de startups em fase de crescimento, o S3E terá uma “operação de 50 equipas multidisciplinares criadas pelos parceiros” e “orientadas por 60 mentores”. A iniciativa europeia, que será coordenada pela HiSeedTech, propõe-se a “contactar cerca de mil grupos de investigação e acionar uma ampla rede que conduza aos objetivos” principais do projeto — que prevê também a obtenção de financiamento a nível nacional ou europeu, público ou privado.

Os parceiros da HiSeedTech

O projeto quer potenciar a inovação de base científica entre todos os países do sul da Europa, sem nenhuma exceção. Para tal, a HiSeedTech conta com a ‘ajuda’ de três outras entidades europeias para desenvolver o S3E:

  • European Public Law Organization (ELPO), organização com estatuto de observador na Assembleia Geral das Nações Unidas que criou uma rede de profissionais nas áreas de direito público e governança.
  • International Development Ireland (IDI), empresa sediada na Irlanda especializada em gestão de inovação e atração de investimento estrangeiro direto.
  • Australo Interinnov Marketing Lab Sl (AUS), empresa de marketing que pretende acelerar o potencial de descobertas científicas para criar e entregar valor.

A HiSeedTech e estes seus parceiros vão abrir “chamadas para participação” — uma focada nos projetos com impacto social e a outro focada nas necessidades do desenvolvimento sustentável — foi revelado no evento desta quarta-feira. Pedro Vilarinho indicou em conversa com o Observador que espera que em cada chamada “25 equipas de investigação” estejam envolvidas. Por sua vez, as startups serão “recrutadas em toda a Europa” existindo “uma chamada específica” só para estes negócios.

O diretor-geral da HiSeedTech revelou ainda que com o projeto a organização irá “às incubadoras em Portugal e nos países do sul da Europa”. “Nós vamos focar-nos um bocadinho nos países menos favorecidos. Em França nós não vamos porque há lá gente que sabe fazer muitas coisas, mas na Grécia ou na Tunísia já sabemos que vamos ajudar muito”, indicou Pedro Vilarinho.

Contribuir para mudar o paradigma de desenvolvimento socioeconómico em países com ecossistema de inovação menos desenvolvidos” é uma “linha orientadora que faz o projeto ser inovador”, referiu a HiSeedTech na nota enviada ao Observador.