LINA (Lunar Infrastructure Asset) é o nome do primeiro habitat de humanos no satélite natural da Terra. Não é um bairro mas também não é só uma casa. Localizado no polo sul, na Cratera Shackleton, será desenvolvido conjuntamente pela NASA com a empresa de Inteligência Artificial AI SpaceFactory.
Já se sabe como é que vai ser a casa dos astronautas que chegarão à Lua em 2025, levados pela missão Artemis. 50 anos depois da última visita, o homem volta, e desta vez para viver num espaço hipertecnológico e com luz adequada como divulgou a NASA no início deste mês.
O projeto será construído por robôs autónomos, que farão uma estrutura de arcos semicirculares impressos em 3D — cobertos com materiais têxteis e minerais da superfície da lua, explicou a NASA.
Cada unidade, com 75 metros quadrados, será como uma tenda que inclui uma casa, um escritório de telecomunicações e um espaço dedicado a veículos. Uma divisão intermédia, de 2,7 metros, entre o interior habitado e a fachada, irá garantir o isolamento dos habitantes.
A estrutura está pensada para resistir pelo menos 50 anos, protegendo os seus habitantes de radiação, de impacto dos micro meteoritos, de atividade sísmica e de mudanças térmicas extremas.
Uma luz certa, que não queima
A escolha do local não foi aleatório. A Cratera Shackleton tem condições ideais para instalar a “colónia” terrestre.
É um lugar onde a luz é quase permanente, e onde a produção de energia solar é melhor, mas em que os raios chegam com um grande ângulo e, portanto, queimam menos. No polo sul da Lua há grandes crateras, onde o objetivo de extrair água da subsuperfície é muito plausível. O material mineral, em princípio, é adequado para a construção”, afirma Eva Villaver, física e professora, no seu livro “As mil caras da lua”.
Resta saber se é possível “criar as condições para construir ali”, o que não é um pormenor, tendo em conta que “o custo de levar as estruturas da Terra é incomportável”, salientou a investigadora.
Este projeto tem um alcance que ultrapassa a Lua. O que a NASA aprender com esta experiência em solo lunar vai servir para dar o próximo salto gigante: enviar os primeiros astronautas para Marte. Têm sido desenvolvidos vários projetos de várias dimensões a pensar nesse planeta, e, como diz o jornal El Mundo, não apenas ao nível simbólico como de uma cúpula geodésica. Há pouco tempo houve mesmo um concurso para a construção de uma cidade de um milhão de habitantes em Marte.
Tal como na literatura e no cinema, a arquitetura da Lua e de Marte tem sido tradicionalmente baseada numa ideia de utopia. Conhece as cúpulas geodésicas do Buckminster Fuller dos anos 60? Bem, poderíamos tomar essa imagem como um guia que explica dezenas de projetos para a colonização do espaço”, explica DanielePorretta — arquiteto italiano, professor na escola de design Elisava em Barcelona e autor do ensaio Marte (Siruela), um estudo do utopianismo marciano na cultura terrena, do século XIX até ao presente — citado pelo El Mundo.
A cúpula geodésica pode ocupar o imaginário de muitos, mas não o da equipa dinamarquesa que concorreu com o um dos projetos nesse concurso, chamado NOA. O desenho baseia-se numa rede de galerias com 20 metros de diâmetro, explica o El Mundo, com geradores de energia nuclear e cultivo de alimentos industrializados para os colonizadores, entre outros pormenores.
O desafio é conseguir concretizar o projeto, pois, “nunca poderemos viajar até Marte com escavadoras para fazer túneis”, admitiu ao jornal espanhol Miguel Sureda, um dos engenheiros aeroespaciais do NOA. Por isso, o exemplo de LINA é fundamental: experimentar construir para um número mínimo de habitantes, antes de passar para uma grande cidade.
Ainda não se sabe quem serão os moradores de LINA. Para já a NASA informou apenas que o programa Artemis III incluirá a primeira mulher e a primeira pessoa negra a pisar na superfície do satélite natural da Terra.