Morreu a atriz norte-americana Nichelle Nichols, que interpretou a personagem Nyota Uhura na série de televisão e, posteriormente, saga de filmes “Star Trek” (em português, “O Caminho das Estrelas”). A atriz tinha 89 anos.
A notícia foi dada na própria conta oficial da atriz no Facebook. Em nota assinada pelo filho de Nichelle Nichols, Kyle Johnson, e publicada ao final da tarde de este domingo (hora de Portugal continental), lê-se:
“Na noite passada, a minha mãe, Nichelle Nichols, sucumbiu de causas naturais e faleceu. A sua luz, contudo, como a das antigas galáxias que hoje estão a ser vistas pela primeira vez, vai permanecer connosco e com as gerações futuras para que a possamos apreciar e aprender com ela e para nos inspirar.”
Nascida na pequena povoação de Robbins, nos subúrbios de Chicago, Nichelle Nichols começou por trabalhar no teatro como atriz e na música enquanto cantora, tendo chegado a fazer digressões pela Europa e pelo Canadá (além de pelos EUA) acompanhando formações lideradas pelo histórico compositor, pianista e líder de orquestra Duke Ellington e pelo multi-instrumentista Lionel Hampton.
Paralelamente ao teatro e à música, Nichelle Nichols fez também trabalhos como modelo e na área da dança. Mas foi na televisão, com a série “Star Trek”, que ganhou fama.
A interpretação de Nichols da personagem Nyota Uhura teve uma relevância particularmente significativa nos Estados Unidos. Na série, a atriz tinha o papel de uma oficial de comunicações especializada em linguística, criptografia e filologia — numa época em que a quase todos os atores negros norte-americanos estavam reservados papéis de mordomos, cozinheiros e personagens servis similares. Chegaria mesmo a ter o estatuto de “tenente Uhura” na série.
Para uma geração de norte-americanos negros que nasceu durante os anos 1950 e cresceu nos anos 1960, a personagem da atriz foi particularmente impactante, refere o jornal The Washington Post. A atriz Whoopi Goldberg, por exemplo, já referiu no passado que quando via “Star Trek” em adolescente, costumava gritar em casa: “Venham rápido, venham rápido. Há uma senhora negra na televisão e não é empregada!”
A personagem que Nichols interpretava em “Star Trek” teve outro fã particularmente famoso. Segundo contava a própria atriz, terá sido Martin Luther King, Jr. — líder do movimento pela igualdade racial e defesa dos direitos civis nos EUA — a persuadi-la a não abandonar o papel, quando Nichols ponderava optar antes por uma carreira na Broadway.
Luther King terá visto na personagem a capacidade de inspirar a população negra norte-americana a acreditar em melhores condições de vida (desde logo, de trabalho) e a lutar por elas, mas também o potencial de inspirar boa parte da população branca do país a rever a sua perceção dos norte-americanos negros.
A personagem interpretada por Nichelle Nichols na série de ficção científica chegou também a ser apontada como a primeira a protagonizar um beijo entre duas pessoas de diferentes cores de pele na televisão americana. Embora existam na realidade exemplos anteriores, o momento, com o ator James T. Kirk, foi historicamente e simbolicamente importante, até pela popularidade que a saga de ficção científica viria a granjear mais tarde, quando passou da televisão para o cinema. Não o foi, porém, imediatamente na altura, porque — refere o The Washington Post — a série de televisão não era um “blockbuster” à época e tal já fora visto em produções mais populares de Hollywood.
Posteriormente à participação em “Star Trek”, a atriz entraria ainda em produções televisivas como “The Young and the Restless” e em filmes como “Herança Canina”.