O investigador Miguel Almeida, da Universidade de Coimbra (UC), destacou esta quinta-feira a complexidade do incêndio que lavra na serra da Estrela, devido à orografia e às condições meteorológicas, e lamentou a falta de acessos ao local.
Os incêndios explicam-se muitas vezes com base num triângulo, constituído pela topografia, os combustíveis (como vegetação) e as condições meteorológicas, e a verdade é que os três vértices do triângulo estão perfeitamente coadunados” neste caso, disse.
O investigador, que integra a Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI) da UC, a que pertence o Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, está esta quinta-feira na zona do fogo que eclodiu no sábado na Covilhã (distrito de Castelo Branco), estendendo-se depois ao distrito da Guarda, e que ainda não foi dominado.
Em declarações à agência Lusa, considerou que este fogo “é muito complexo e dominado pela topografia, visto que é uma zona de montanha, e pelo vento que se tem levantado durante as tardes”.
Por outro lado, temos uma sobrecarga de combustíveis e sobretudo combustíveis que estão muito secos. Todos sabemos a seca que o país atravessa e essa seca reflete-se aqui, na perda de humidade dos combustíveis, tornando-os muito disponíveis para arderem”, disse.
Questionado sobre críticas que têm sido feitas ao combate a este incêndio, Miguel Almeida escusou-se a comentar algumas e considerou que outras “não são justas”, nomeadamente as que se dirigem à estratégia definida para a operação.
Quando se critica a estratégia de combate, aí, não me parece que estejam a ser justos, porque me parece que o combate está a ser feito como pode ser feito, perante condições extremamente nocivas e difíceis”, argumentou.
Para o investigador, “há algumas coisas que poderiam ter sido feitas”, mas não “do lado do combate – sobretudo do lado da preparação para este tipo de cenários ou da prevenção”.
“De facto, é muito difícil chegar a determinadas encostas, porque não há acessos“, disse, reconhecendo tratar-se de uma zona de parque natural em que “as intervenções nem sempre são possíveis”. Ainda assim, acrescentou, “a verdade é que isso faz com que se criem muito menos acessos”.
Em “alturas de aflição” a tendência é olhar “para o combate e apontar sempre o dedo ao combate”, mas Portugal tem “um dos sistemas de combate mais robustos e mais desenvolvidos da Europa“, defendeu Miguel Almeida.
Com certeza, há coisas a melhorar, com certeza que a estratégia seguida não terá sido perfeita, mas o que eu tenho observado no terreno é que os meios estão bem posicionados, que há uma estratégia definida. Claro que não é fácil combater um incêndio com toda esta complexidade”, enfatizou.
O especialista considerou ainda que, em Portugal, nos últimos anos, “tem havido alguns ganhos” em termos de gestão da floresta, mas demasiados lentos, face à ‘corrida’ em curso: “Não estamos a ganhar terreno face às condições climatéricas que se agravam”.
O incêndio na serra da Estrela deflagrou no concelho da Covilhã na madrugada de sábado (dia 06) e estendeu-se a municípios do distrito da Guarda, tendo já ardido cerca de 10.000 hectares da serra, segundo o sistema de vigilância europeu Copernicus.
No combate às chamas estão esta quinta-feira à tarde mais de 1.500 operacionais, mais de 480 viaturas e 14 meios aéreos.