Não há Mbemba, aposta-se em Marcano e oferece-se quase um prémio a alguém que trabalhou e muito nas férias para chegar ao ponto onde estava antes da grave lesão contraída. Não há Vitinha, aposta-se em Grujic mudando as dinâmicas da equipa a meio-campo por haver mais capacidade de recuperação e menor de construção em primeira e segunda fase. Não há Fábio Vieira e Francisco Conceição (nem Otávio, neste caso por castigo), aposta-se em Loader e mexe-se nos posicionamentos base do ataque sem mexer na habitual mobilidade fazendo descair também Evanilson na direita antes de fazer os movimentos interiores para o lateral João Mário dar largura. Onde se podiam adivinhar crises, Sérgio Conceição vê oportunidades.

O arranque de época do FC Porto, com a conquista da Supertaça frente ao Tondela e uma goleada a abrir o Campeonato no Dragão frente ao Marítimo, mais não foi do que um prolongamento de uma das impressões digitais mais vincadas do técnico desde que voltou ao clube no verão de 2017. E tanto assim é que, estando ainda à espera de mais reforços depois da chegada de David Carmo, Gabriel Veron e André Franco, voltou a ter uma equipa de tal forma competitiva que fez esquecer as duas grandes ausências nos dois primeiros jogos da temporada, Otávio e o próprio David Carmo. Na deslocação a Vizela, que antecede a receção ao Sporting, essa era uma das dúvidas em relação às apostas iniciais de Sérgio Conceição.

“Há a probabilidade de entrarem 11 jogadores no jogo com o Vizela, só se ficarem doentes é que não estarão 11… Faz parte do meu trabalho analisar quem está melhor para entrar. Trata-se de um jogo difícil, cabe-nos ter as despesas do jogo para conquistarmos os três pontos nesta maratona que é o Campeonato”, fintara Sérgio Conceição, antes de abordar não só a importância de Otávio e as diferenças que há com Grujic.

“Os jogadores são diferentes uns dos outros, a origem deles é diferente. O que me deixa satisfeito é sempre o que eles me dão diariamente, a seriedade no trabalho, a dedicação, o trabalharem sempre no limite. Estou aqui há cinco anos e penso que em todos os anos o grupo é bom, a dedicação deles é grande. Seja o Otávio, que é um excelente jogador como todos reconhecem, seja o David Carmo ou o Veron. Importante é ter esse estado de espírito, depois cabe-me a mim escolher. Alguns precisam de um período de adaptação maior, outros vêm do nosso Campeonato e percebem o que é ser Porto. Grujic e Vitinha? São jogadores diferentes. Temos de ajustar o nosso modelo, a nossa estrutura, o que queremos para a equipa em termos de dinâmica em função dos jogadores que temos à disposição. É potenciando ao máximo as caraterísticas dos jogadores que formamos um onze forte. O Grujic não tem de ser o Vitinha”, destacara na antevisão do jogo.

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Apesar de manter o tabu, havia a ideia de que pelo menos Otávio poderia recuperar lugar na equipa inicial. Afinal, não foi isso que aconteceu. Sérgio Conceição deu um voto de confiança aos onze titulares desde o início da temporada, mostrou a unidades como Marcano, Grujic ou Danny Loader que não esquece o que deram à equipa nos dois jogos iniciais e com isso enviou também um sinal para toda a equipa. No entanto, ficava na mesma a dúvida do que seria capaz de fazer esta base num desafio sempre complicado.

No final, literalmente no final, foi. No entanto, o FC Porto encontrou muito mais problemas do que se poderia esperar, dando de avanço uma primeira parte onde esteve muito abaixo do normal a todos os níveis numa exibição descaracterizada da forma habitual de jogar e correndo atrás do prejuízo num segundo tempo melhor mas ainda assim sem grandes oportunidades. Até a entrada de Otávio ao intervalo, que deu mais critério ao jogo ofensivo, foi suficiente para desbloquear a partida. Depois, ao minuto 90, valeu um herói improvável chamado Marcano. E se Sérgio Conceição tinha dado um voto de confiança ao central em vez do regressado David Carmo, quer no onze inicial quer depois de uma primeira parte onde teve alguns problemas com a mobilidade do ataque contrário, Marcano devolveu esse mesmo voto em vésperas de clássico com o Sporting na liderança partilhada do Campeonato com Benfica e Boavista.

Os minutos iniciais comprovaram as preocupações de Sérgio Conceição na antevisão, com o FC Porto a sentir dificuldades em chegar ao último terço apesar da colocação mais uma vez de Pepê mais pelo corredor central para conseguir servir de elo de ligação ao ataque e haver também mais espaço para os laterais darem largura ao jogo ofensivo dos azuis e brancos. Em termos defensivos, apesar da qualidade de Diego Rosa a meio-campo e da colocação de Kiki Bondoso na frente que levou a algumas correções de posicionamento a Marcano, os dragões conseguiam controlar as saídas do Vizela. Na frente, lances de relativo perigo só de bola parada: Uribe, numa segunda bola após canto, atirou por cima (8′); Taremi, na sequência de um lançamento com desvio de Evanilson, tentou de cabeça para defesa fácil de Buntic (12′).

Em determinados momentos, o FC Porto parecia conseguir empurrar de vez o Vizela para o seu meio-campo mesmo que isso depois não se traduzisse em oportunidades; noutras, o conjunto visitado conseguia ter mais bola no reduto contrário, falhando muitas vezes no passe decisivo para o último terço que podia criar a oportunidade. Até no plano tático o Vizela conseguia “encaixar” sem bola no FC Porto sem ter a capacidade de desencaixar quando saía com bola. E era assim que os minutos iam passando até à meia hora sem uma única chance flagrante e com Uribe e Grujic a terem mais ações na área do adversário, grande parte na sequência de bolas paradas, do que os próprios avançados Taremi e Evanilson.

Até ao intervalo, Pepê ainda teria um remate de meia distância sem grande perigo ao lado (37′), pouco depois daquele que acabou por ser o lance mais perigoso do primeiro tempo com Nuno Moreira a receber na profundidade e a fazer o movimento da esquerda para o meio para um remate que saiu perto da baliza de Diogo Costa (35′). Aproveitando uma paragem por lesão de Zaidu, Sérgio Conceição pedia mais saídas de João Mário pela direita mas havia outros problemas óbvios na estrutura portista, a começar pela falta de recuperações de bola no meio-campo contrário que é uma das principais características dos campeões nacionais. E foi também por isso que Otávio e Toni Martínez já aqueciam antes do intervalo.

Taremi, com um desvio de cabeça para defesa de Buntic, e Nuno Moreira, de novo num movimento em diagonal a rematar para Diogo Costa encaixar de forma segura, deram nos descontos aquilo que seria o mote para uma segunda parte bem mais movimentada e interessante, também pelas substituições logo a abrir de Sérgio Conceição mas sobretudo pela alteração de mentalidade dos dois conjuntos – se o FC Porto ouviu (literalmente) a mensagem do técnico no descanso, também Álvaro Pacheco conseguiu incutir um outro pragmatismo na forma como equipa da casa conseguia sair nas transições rápidas.

Com as entradas de Otávio e Gabriel Veron para os lugares de Uribe e Danny Loader, os azuis e brancos (a jogar com o equipamento alternativo) ganharam outro critério na construção e maior criatividade perto da área. Aliás, logo na primeira vez que Veron tocou na bola falhou a melhor oportunidade do FC Porto, com Buntic a evitar o golo após assistência de João Mário (46′). Logo de seguida, Kiki Bondoso conseguiu sair bem descaindo sobre a direita, levou até à linha de fundo mas Nuno Moreira falhou a bola quando estava em situação privilegiada na área (47′). Os campeões apareciam revigorados na partida, capazes de terem outros resultados na pressão mais alta mas os minutos passavam sem o golo aparecer.

Numa primeira instância, Galeno iria também entrar em campo com Toni Martínez mas foi preciso um compasso de espera devido a um problema físico de Grujic que motivou o lançamento de Eustáquio. A meio do segundo tempo, o ala entrou mesmo para o lugar de João Mário (Pepê voltou a ser lateral direito) e foi com o brasileiro que o jogo virou de vez, com uma capacidade de desequilíbrio à esquerda e pelo meio que deixou uma ameaça inicial num remate de meia distância que passou muito perto do poste da baliza de Buntic antes do momento decisivo da partida, num livre lateral cobrado de forma rápida para Galeno que pouco para dentro, cruzou de pé direito e encontrou a cabeça de Marcano para a vitória (90′).