A associação Proteger Grândola (Setúbal) pediu esclarecimentos ao município sobre a realização de obras que estão a dificultar o acesso de viaturas à praia da Aberta Nova, considerando que pode estar em causa a sua “privatização encapotada”.
Numa carta aberta enviada ao presidente da Câmara Municipal de Grândola, António Figueira Mendes, no passado dia 16, a associação de defesa do ambiente revelou que estão a decorrer, desde julho, obras na estrada de acesso à praia da Aberta Nova, “dificultando a passagem de viaturas”.
No documento, consultado pela agência Lusa, o movimento denunciou que, em simultâneo, “foram erguidos postes para vedação de ambos os lados da estrada, num trecho de aproximadamente dois quilómetros”.
Por isso, quer saber junto do autarca, eleito pela CDU, se as obras nesta estrada pública estão a cargo da Câmara de Grândola ou de uma entidade privada e se, caso as obras nesta via pública estejam a ser executadas por iniciativa privada, existe acordo firmado em protocolo, entre a autarquia e a entidade privada, e com que contrapartidas.
Na carta, a associação pediu também esclarecimentos sobre a autorização de uma obra em plena época balnear, quando a estrada é utilizada diariamente por centenas de carros, se a câmara fiscalizou a colocação dos postes de vedação ao longo da estrada e se a distância dos postes ao eixo da estrada cumpre com as disposições legais.
E solicitou que o município “tome urgentemente as medidas necessárias para interditar a colocação da vedação até que estejam criadas as condições para os utentes da praia estacionarem as suas viaturas de forma segura e adequada, a uma distância razoável para ser percorrida a pé tal como existe nas outras praias do concelho”.
Não entendemos o que está efetivamente a acontecer e como é que as pessoas que vão à praia vão poder continuar a estacionar os seus carros, que é algo que fazem desde sempre”, disse à agência Lusa o presidente da associação Proteger Grândola (PG), Guy Villax.
No documento, a associação, criada há um ano, chega a questionar “se o objetivo da vedação não será mesmo tornar impossível o estacionamento de carros e obrigar os utentes regulares a deixarem de utilizar esta praia?”.
“Ao dificultar ao máximo o acesso do público estamos a assistir à privatização encapotada da praia da Aberta Nova, que fica assim quase “exclusiva” para os futuros clientes do empreendimento de luxo Costa Terra”, argumentou o grupo de cidadãos que conta com cerca de 80 associados.
No entender de Guy Villax existem “outras indicações de que, aquilo que era um equipamento que o público tinha acesso, começa crescentemente a ser reservado para quem esteja mais ligado aos empreendimentos turísticos”.
Estas coisas são feitas pouco a pouco e, de repente, as coisas mudam radicalmente e gostaríamos de saber o que é que o presidente da câmara sabe do assunto, qual a posição da câmara e como é que vai garantir que, quem vai à praia, pode continuar a ir à praia”, sublinhou.
Segundo a PG, a praia da Aberta Nova tem “dois pequenos parques de estacionamento que estão muito subdimensionados para o número de utentes da praia, que ultrapassa as 1.000 pessoas por dia em época alta”.
No entanto, sublinhou, no plano de intervenção previsto no novo Plano da Orla Costeira Espichel-Odeceixe (POC) está a construção de um novo parque de estacionamento de retaguarda para 220 lugares, a criação de acesso pedonal até à praia e a requalificação do acesso viário”.
“Nas obras em curso não se vislumbra a localização do novo estacionamento, tal como previsto no POC”, lê-se no documento.