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Da coleção ao museu da Fundação

Este artigo tem mais de 1 ano

No derradeiro episódio do podcast Only the Best, Rui Ramos e João Carvalho Dias refletem sobre a intenção de Gulbenkian em formar um museu em Lisboa e como é gerido esse extraordinário espólio.

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Manuel Silveira Ramos

Manuel Silveira Ramos

Ao longo de 12 semanas, partilhámos histórias sobre a vida do filantropo arménio Calouste Sarkis Gulbenkian, em particular em relação à forma de como reuniu uma fantástica coleção de obras de arte.

Assim, neste derradeiro episódio do podcast Only the Best, “que resulta de uma colaboração entre o Museu Calouste Gulbenkian e a Rádio Observador, vamos, finalmente, falar sobre o Museu Calouste Gulbenkian. Isto é, a etapa final da coleção”, afirma o historiador Rui Ramos, anfitrião do programa que conta como habitualmente com a colaboração de João Carvalho Dias, diretor-adjunto da referida instituição.

União das obras reunidas

“O edifício onde está hoje instalado o Museu, em Lisboa, ficou pronto em 1969”, lembra Rui Ramos, tendo sido “um projeto dos arquitetos portugueses Ruy d’Athouguia, Pedro Cid e Alberto Pessoa, com colaboração de Daciano Costa no design do interior e de Gonçalo Ribeiro Telles e António Viana Barreto nos arranjos do exterior”. A esse respeito, o anfitrião do podcast Only the Best coloca um desafio em forma de pergunta a Carvalho Dias: “sabemos quando é que, na sua vida, Gulbenkian começou a ter ideia de um museu? Isto é, quando foi tentado pela possibilidade de impedir a sua coleção de voltar ao mercado e de se dispersar depois da sua morte, como aconteceu a tantas outras coleções?”.

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“Numa carta dirigida a John Walker, Conservador Principal da National Gallery of Art de Washington, Gulbenkian dá conta que a casa da avenue d’Iéna tinha sido reconstruída com a ideia de se tornar um Museu”, afirma o diretor-adjunto do Museu Calouste Gulbenkian, adiantando que “a ideia da casa-museu foi abandonada, mas nunca a vontade da coleção permanecer una, ‘museável’. Aliás, a ideia da dispersão das coleções após a morte dos seus proprietários era algo que o afligia, e, por isso, a partir de 1936, a ideia de um museu para albergar a sua coleção torna-se uma preocupação constante”.

Mas, Rui Ramos tem outra dúvida. “O museu, como aliás é sabido, corresponde muito às opções modernistas do pós-guerra em termos de novos edifícios, como os da autoria de Mies van der Rohe: a horizontalidade, a dimensão subterrânea, as paredes de vidro”, refere o historiador, questionando se “Gulbenkian teria gostado do museu tal como ele acabou por ser realizado em Lisboa na década de 1960, tanto em termos do edifício em si como da disposição das peças da coleção ao longo das salas”, e se “o arménio terá deixado “indicações de como imaginava que devia ser o museu”.

Assumindo essas dúvidas como muito interessantes, João Carvalho Dias, indica que “no discurso de inauguração do Museu Calouste Gulbenkian, em 1969, John Walker refere que duvidava que o edifício construído fosse do agrado do colecionador, mas que gostaria de pensar que acabaria por aprovar a solução encontrada”. De facto, continua o diretor-adjunto do Museu Calouste Gulbenkian, “como Gulbenkian não deixou planos para o seu museu, podemos apenas imaginar que o seu gosto eclético encontrou expressão na forma como a coleção se organizou na casa de Paris. Essa organização corresponde ao ideário de Gulbenkian, enquanto o museu resulta do entendimento da museologia das décadas de 1950-1960”.

Fotos: © Mário de Oliveira

Filosofia dinâmica

Quando o edifício do museu foi desenhado, “havia ideia já do que se tencionava ir mostrar, isto é, as salas e a sua disposição foram feitas a pensar na coleção e no que se queria revelar ao público?”, questiona Rui Ramos. “Imagino, por exemplo, que a pintura que já tinha estado exposta na National Gallery em Londres e na National Gallery of Art em Washington, fizesse obviamente parte das peças a expor”, continua o anfitrião do podcast Only the Best, mas “quais os critérios usados para selecionar, de entre as seis mil obras de arte da coleção, as que iriam ser mostradas ao público?”.

“Quando o edifício foi concebido, a coleção era conhecida”, lembra João Carvalho Dias, e “o anteprojeto de Maria de José de Mendonça, datado de 1958, referia que o museu devia conservar a intimidade de uma coleção particular, e criar um ambiente agradável, à escala humana”. Nesse sentido, “os consultores do museu, Henri Rivière, Marco Albini e Leslie Martin, apostavam na sobriedade da arquitetura para melhor revelar as obras, tendo a seleção das mesmas sido assente, sobretudo, na sua qualidade, ou seja, as melhores obras encontram-se expostas”.

Além disso, sabemos que é realizada uma “rodagem de peças em exposição, mas como é feita e definida?”, pergunta Rui Ramos.

As “questões de conservação condicionam a apresentação de alguns núcleos, como os de livros, desenhos e gravuras, cuja rotatividade é assegurada através de pequenas exposições temporárias nas vitrinas”, indica Carvalho Dias. Por sua vez, “os empréstimos, sobretudo de pintura, promovem substituições por obras em reserva e constituem verdadeiros desafios paras as equipas de conservadores e curadores”, acrescenta.

Noutra perspetiva, e em termos de organização, “Gulbenkian deixou três executores testamentários: o advogado português José de Azeredo Perdigão; o advogado inglês John Radcliffe, figura muito importante do establishment britânico, responsável pelo desenho da fronteira entre a Índia e o Paquistão, em 1947; e o diplomata iraniano de ascendência arménia, Kevork Loris Essayan, casado com Rita Gulbenkian, e, portanto, genro de Calouste Gulbenkian”, enumera Rui Ramos.

“Cada um destes homens deu algum contributo para o museu ou limitaram-se a confiar em especialistas em museologia? A dúvida surge, pois, Azeredo Perdigão é autor de um livro sobre Calouste Gulbenkian como colecionador, publicado em 1969, em que revela não ser apenas o advogado de um milionário, mas também alguém que de certo modo percebeu Gulbenkian na sua dimensão de amador de arte”, refere Rui Ramos.

João Carvalho Dias sublinha que “a equipa de museologia teve um papel fundamental, e, primeiro Maria José Mendonça, e depois Maria Teresa Gomes Ferreira, conceberam, com o apoio dos consultores já referidos, a programação do museu”, confirmando que “Azeredo Perdigão, primeiro presidente da Fundação, é o autor do livro Calouste Gulbenkian Colecionador, publicado em 1969, cujo contributo é ainda hoje significativo, ao identificar muitos dos tópicos principais do colecionismo de Gulbenkian”.

Falámos dos gestores da fundação, mas “temos também de referir os curadores, não apenas do museu, mas da coleção antes e depois de haver museu”, interpõe Rui Ramos, isso porque “houve quem tomasse conta da coleção antes, certo?”, pergunta o historiador.

Galeria do Extremo Oriente ; Foto: © Mário de Oliveira

“As coleções precisam de quem tome conta delas”, salvaguarda o diretor-adjunto do Museu Calouste Gulbenkian, e “Rita Essayan referia-se, com graça, ao facto de John Walker, nos tempos de Washington, fazer o papel de ‘nanny’ das obras de arte de seu pai”. A esse respeito, Carvalho Dias adianta ainda que “a coleção, a partir de 1927, esteve a cargo de Marcelle Chanet”, e, “quando Gulbenkian se mudou para Lisboa, enviava-lhe relatórios muito pormenorizados sobre as obras”, se bem que “todas as decisões eram tomadas por Gulbenkian”.

Ecletismo e bom gosto

Outra das características deste museu “é ter uma coleção extremamente diversa de pintura, escultura, mobiliário, tapetes, joias, moedas, cerâmica, e originária de várias regiões e várias épocas”, assinala Rui Ramos. “Isso exige um esforço maior do museu para contar com colaboradores especializados em muitas coisas ou cada um tem de se interessar por assuntos diversos?”.

“Há especialistas e não-especialistas”, explica João Carvalho Dias, e, por exemplo, “os conservadores/curadores têm de se interessar por coisas muito diferentes”, até porque “numa coleção tão diversificada não é possível ter especialistas em todas as áreas, e por isso também recorremos a consultores. No total, o Museu Calouste Gulbenkian tem 38 colaboradores com diferentes vínculos laborais”.

Além de expor as peças da coleção, “o museu também as estuda e tem publicado, por exemplo, catálogos e monografias bastante eruditas”, afirma Rui Ramos. Mas, “qual a importância dessa atividade para o museu?”.

Trata-se de “algo fundamental, que se insere num dos eixos estratégicos do museu, que é o estudo das suas coleções”, responde Carvalho Dias. “A investigação contínua é da maior importância para conhecermos melhor as peças que estão à nossa guarda e o riquíssimo arquivo que dispomos permite-nos obter respostas às nossas questões, que necessariamente cruzamos com outros arquivos internacionais. O estudo da coleção e do colecionador é um ‘work in progress’”.

Ao longo das 12 edições do programa, “falámos das viagens feitas pela coleção antes de se fixar no Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Hoje em dia, os museus do mundo emprestam, por vezes, peças uns aos outros para exposições temporárias. O Museu Calouste Gulbenkian tem também essa filosofia?”.

“O Museu Calouste Gulbenkian não foge à regra e dá resposta a muitos pedidos de empréstimo que nos chegam de museus e instituições, sobretudo internacionais”, confirma o diretor-adjunto do Museu Calouste Gulbenkian.

Ainda focados na organização do museu, “além da exposição permanente, também se promovem exposições temporárias?”, questiona o anfitrião do podcast Only the Best.

Fotos à esquerda e ao centro: Manuel Silveira Ramos ; Foto da direita: © Mário de Oliveira

“Faz parte da atividade do Museu a organização de exposições temporárias”, clarifica João Carvalho Dias. “Os diálogos que as exposições estabelecem com a coleção são fundamentais para aprofundar o conhecimento sobre as peças, através de novas abordagens, quer do ponto de vista científico, quer museográfico”.

Além disso, “as exposições são oportunidades de atualizar o nosso entendimento sobre a produção histórica trazendo-a para o palco da contemporaneidade e das suas possibilidades infinitas de questionamento. As exposições proporcionam momentos lúdicos, de aprendizagem e de evasão, tão necessários no mundo em que vivemos”, acrescenta.

E é assim que chegamos ao fim desta série de programas dedicados a Calouste Gulbenkian e ao seu museu. Em forma de despedida, Rui Ramos agradece a João Carvalho Dias, diretor-adjunto do Museu Calouste Gulbenkian, “que, durante estes doze programas, nos guiou através da coleção e também da vida de Calouste Sarkis Gulbenkian”.

“Foi um prazer e um privilégio tê-lo aqui, na Rádio Observador”, continua o historiador, lembrando que, “todas as peças de que falámos, desde a cabeça do faraó egípcio até ao grande biombo chinês, passando pela pintura dos séculos XVIII e XIX europeus, e pelas joias de René Lalique, estão no Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa, e justificam várias visitas”.

Até um dia!

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