Desde meados dos anos 60, altura em que começou a publicar os seus primeiros contos, que o nome de Stephen King não mais deixou de estar presente na cultura popular. O norte-americano é autor de algumas das histórias de terror mais bem-sucedidas da literatura, mas também de outros géneros de ficção, tendo vendido mais de 400 milhões de exemplares de livros em todo o mundo.

De origens modestas, Stephen Edwin King, nascido em Portland, no estado de Oregon, teve, no entanto, uma infância difícil e marcada por dramas familiares. Desde cedo, com os seus pais separados, teve de passar uma parte substancial da infância em Fort Wayne, Indiana, com a família do pai. Bom aluno na escola, só mais tarde voltaria ao Maine, Nova Inglaterra, e para junto da mãe, para fazer o ensino secundário e entrar na universidade onde estudou Literatura Inglesa. Ainda que estivesse excluído do recrutamento devido a problemas de visão, fez parte dos grupos de estudantes e ativistas que estavam contra a Guerra do Vietname, numa época em que já escrevia pequenas histórias para revistas locais.

Um ano depois de terminares, em 1971, começa a lecionar inglês na Hampden Academy e casa-se com Tabitha Spruce, uma antiga colega de faculdade. Entre dificuldades financeiras e problemas com alcoolismo, escreveu nas horas vagas aquele que se tornaria o seu primeiro romance aceite por uma editora, Carrie, publicado em 1973. O sucesso não parou desde então. Nos anos seguintes publicou títulos como Salem’s Lot (1975) ou The Shining (1977), que o consagraram entre as principais vozes da nova ficção norte-americana. Ao longo dos anos, as diversas adaptações cinematográficas produzidas – muitas delas verdadeiros sucessos de bilheteira – foram e têm sido igualmente um fator que completa a sua influência e legado, que se mantém até hoje. Nunca aceitou o rótulo de escritor de terror, ainda que esse seja um dos géneros que mais abordou, além do thriller, do policial, da fantástico ou da ficção científica. Nos mais diversos géneros, Stephen King publicou contos, romances e novelas. São mais de 60 títulos publicados até hoje. No dia em que celebram os seus 75 anos, sugerimos 10 que já passaram por algum ecrã e um extra, a publicação mais recente.

“Carrie”

1974

Foi o início de uma longa e imparável jornada. Através daquele que foi o seu primeiro romance publicado, numa época em que ainda lecionava aulas de inglês, o norte-americano alcançou um sucesso estrondoso que lhe valeu mais contratos de publicação. O livro conta a história de Carrie White, uma adolescente tímida e solitária, oprimida pela mãe, uma cristã fervorosa que vê pecado em tudo. A rotina na escola não alivia o dia a dia em casa. Para os colegas e professores, Carrie é considerada uma jovem estranha, que não se encaixa, e é alvo constante de bullying. Após um incidente no baile de finalistas da escola, Carrie descobre os seus poderes telecinéticos e resolve vingar-se daqueles que a atormentaram. Depois da publicação do livro seguiram-se várias adaptações cinematográficas, a primeira delas logo em 1976 pela mão do realizador Brian De Palma.

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“The Body”

1982

Na adaptação ao cinema foi um filme marcante para a geração que cresceu nos anos 80. Um dos primeiro grandes papéis de River Phoenix, numa longa-metragem assinada por Rob Reiner, cujo título, “Stand By Me” (em português “Conta Comigo”), é influenciado diretamente pela canção de Ben. E. King. Mas a origem da história é o livro The Body, que acompanha a epopeia de quatro adolescentes que partem em busca de um quinto rapaz desaparecido, ao longo de uma linha comboio. Nessa viagem, ganha protagonismo a vida de cada um dos quatro, os dilemas, as dificuldades mas também as vitórias; e as relações que se estabelecem entre todos. Uma das melhores histórias de “coming of age”, dores de crescimento em estado puro.

“It (A Coisa)”

1986

Uma verdadeira questão da influência: deve-se muito provavelmente a Stephen King o medo que muitos miúdos e graúdos têm de palhaços, e tudo por causa do seu 17.º romance. Publicado em 1986, It passa-se em 1958, numa pequena cidade do Maine, Derry, e acompanha as experiências de sete crianças aterrorizadas por uma entidade maligna que explora os medos das suas vítimas. A Coisa (tal como aparece no título da tradução portuguesa) surge principalmente na forma do palhaço Pennywise para mais facilmente atrair as vítimas preferidas: jovens crianças. E mesmo aparentemente derrotado, o palhaço volta a aparecer 30 anos depois para enfrentar o grupo, entretanto já de adultos. É uma das histórias mais célebres de King, adaptada ao cinema em 1990 e, mais recentemente em 2017 e 2019, numa obra cinematográfica em duas partes.

“The Shining”

1977

Embora muitos pensem que, neste caso, tenha sido o cinema a ajudar à popularidade do livro, a história não foi bem assim. Se é verdade que a adaptação cinematográfica de 1980, assinada pelo realizador Stanley Kubrick, tornaria a obra numa das mais icónicas do género de terror, a verdade é que este foi o primeiro best-seller de King, aquando da sua publicação em 1977. Conta a história de Jack Torrance, contratado como zelador no Hotel Overlook durante o inverno. Ele e a sua família mudam-se para o majestoso edifício para que Jack largue o alcoolismo e acessos de raiva. Com o passar dos meses, o lugar torna-se cada vez mais sinistro e marcado por forças sobrenaturais, que ditam o destino final da família. Mais recentemente, em 2013, King decidiu continuar a história com a publicação de Doctor Sleep.

“Misery”

1987

É terror psicológico puro. Publicado em 1987, esta obra narra a história de Paul Sheldon, um famoso escritor que criou a série protagonizada por Misery Chastain. Após escrever um novo manuscrito, sai para comemorar, mas sofre um acidente. É resgatado pela enfermeira Annie Wilkes que o isola num quarto em sua casa e se autoproclama fã número um do seu trabalho. Depois de revelar que está desapontada com o curso da história escrita pelo escritor, começa a ameaçar Paul, caso este não escreva um final mais apropriado. Três anos depois, em 1990, o romance foi adaptado ao cinema, num filme realizado por Rob Reiner e protagonizado por James Caan e Kathy Bates, que venceria mesmo o Óscar de Melhor Atriz pelo seu desempenho.

“Rita Hayworth e a Redenção de Shawshank”

1982

No campo da ficção policial, esta é uma das obras que mais se destaca no percurso de Stephen King. Publicada em 1982, o livro conta a história de um homem injustamente condenado por assassinar a sua esposa e o amante, Andy Dufresne e sua tentativa de redenção. Narrada pela perspetiva de seu bom amigo Red, recluso na prisão de Shawshank há décadas, trata-se de um livro sobre a vivência na prisão, mas também como questionamento do sistema judicial e a sua possível falência. Foi adaptado com grande sucesso ao cinema em 1994, na longa-metragem “Os Condenados de Shawshank”, protagonizada por Tim Robbins como Andy Dusfrene e Morgan Freeman no papel de Red.

“The Stand”

1978

Romance pós-apocalíptico, é considerado um dos livros preferidos entre os grandes fãs da obra de Stephen King. Levado à estampa em 1978, o livro assume a velha premissa da batalha entre o bem e o mal, tendo como mote principal o fim de uma civilização. Numa instalação de testes biológicos, surge uma estirpe modificada de supergripe que destruirá 99% da população mundial em algumas semanas. Os que sobrevivem estão assustados, confusos e precisam de um líder, numa história sobre relações de poder e sobre quem pode decidir o destino da humanidade. Foi adaptada como minissérie pela ABC em 1994 e novamente em 2020

“Salem’s Lot”

1975

Publicado em 1975, Salem’s Lot foi o segundo livro publicado do escritor e rapidamente ganhou um culto de seguidores. Para um mestre do terror, o seu tema era clássico: vampiros. O livro conta a história do escritor Ben Mears, que regressa à pequena cidade de Salem’s Lot, onde passou sua infância, para escrever um novo livro, onde rapidamente começa a perceber que vários residentes e vizinhos se estão a transformar em vampiros. Entre várias nomeações de prémios, Stephen King chegou a afirmar que se tratava do seu livro preferido e foi, por diversas ocasiões, adaptado tanto ao pequeno como ao grande ecrã.

“The Green Mile”

1996

Estamos no período da Grande Depressão, também conhecida como Crise de 1929. Na prisão de Cold Mountain, os presidiários aguardam pela sua sentença de morte. É nesse contexto que o guarda Paul Edgecombe conhece o recluso John Coffey, um homem acusado de assassinar duas jovens raparigas. Aos poucos, desenvolve-se entre as duas personagens uma relação incomum, baseada na descoberta de que o prisioneiro possui um dom mágico que é, ao mesmo tempo, misterioso e milagroso, o que leva o guarda a ter um conflito mora entre o cumprimento do dever e a consciência de que o prisioneiro que deverá morrer pelas suas mãos pode não ser o culpado de um crime tão brutal. Publicado em 1996, foi adaptado ao cinema em 1999, com Tom Hanks no papel do guarda Edgecombe Michael Clarke Duncan, no papel de Coffey.

“11/22/63”

2011

Além do terror e dos policiais, Stephen King também já se aventurou pela ficção científica. Publicado em 2011, 11/22/63 conta a história de um viajante do tempo que tenta impedir o assassinato do presidente norte-americano John F. Kennedy, ocorrido a 22 de novembro de 1963. O romance ganhou o prémio de Melhor Mistério/Thriller pelo Los Angeles Times e foi indicada como Melhor Romance pelo Prémio British Fiction. Segundo o próprio autor, esta era uma das histórias que mais desejava ver publicada e para a qual tinha mesmo começado a trabalhar ainda no princípio da década de 1970.

“Fairy Tale”

2022

É a obra mais recente do autor. Publicada neste mês de setembro, Fairy Tale (ainda sem edição portuguesa) é um romance de fantasia, cuja narrativa segue a personagem de Charlie Reade, um jovem de 17 anos que herda as chaves de um reino oculto e sobrenatural, e se encontra na posição de liderança numa batalha entre as forças do bem e do mal. Segundo King, o livro é um produto da pandemia de Covid-19 e de acordo com o site Deadline Hollywood já estará na calha para uma adaptação cinematográfica, por parte do realizador britânico Paul Greengrass. É, nada mais, nada menos, do que o 64.º romance de Stephen King e que, estamos certos, rapidamente chegará às livrarias nacionais com tradução portuguesa.