A cabeça já só pensa no Mundial do Qatar mas antes era tempo de o coração bater pela Liga das Nações. Antes de virar completamente o foco para o Campeonato do Mundo, a Seleção Nacional disputava a dupla jornada decisiva para chegar a uma final four onde não conseguiu marcar presença no ano passado e onde pretendia voltar a disputar uma competição em que foi a primeira vencedora. Para isso, e antes de receber Espanha em Braga, era preciso obrigatoriamente pontuar com a República Checa em Praga.

Ainda assim, a semana esteve longe de ser pacífica. Rafa, que foi convocado para a Seleção cerca de um ano depois, apresentou a renúncia e mostrou-se indisponível para representar Portugal e acabou substituído por Gonçalo Ramos. Dias depois, Raphael Guerreiro e Pepe foram ambos dispensado por problemas físicos, sendo que Fernando Santos chamou Mário para substituir o lateral e não chamou ninguém para substituir o central. Nada que, segundo o selecionador nacional, afetasse a preparação da equipa para um dos encontros mais importantes do ano.

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

República Checa-Portugal, 0-4

Fase de grupos da Liga das Nações

Fortuna Arena, em Praga (República Checa)

Árbitro: Srđan Jovanović (Sérvia)

República Checa: Vaclík, Zima, Brabec (Kúdela, 22′), Jemelka, Coufal, Soucek (Kuchta, 77′), Kral, Zeleny (Vlkanova, 63′), Barák (Sevcik, 63′), Hlozek (Černý, 63′), Patrik Schick

Suplentes não utilizados: Stanek, Pavlenka, Kalvach, Havel, Tecl

Treinador: Jaroslav Šilhavý

Portugal: Diogo Costa, Diogo Dalot, Rúben Dias, Danilo (João Mário, 84′), Mário Rui, Rúben Neves, William Carvalho (João Palhinha, 77′), Bruno Fernandes (Matheus Nunes, 77′), Bernardo Silva (Ricardo Horta, 67′), Rafael Leão (Diogo Jota, 67′), Cristiano Ronaldo

Suplentes não utilizados: Rui Patrício, José Sá, Tiago Djaló, Nuno Mendes, Gonçalo Ramos, Vitinha, Pedro Neto

Treinador: Fernando Santos

Golos: Diogo Dalot (33′ e 52′), Bruno Fernandes (45+2′), Diogo Jota (82′)

Ação disciplinar: nada a registar

“A República Checa vale pelo seu todo, pela sua qualidade. Todos os selecionadores querem ter os melhores e o selecionador checo deve estar satisfeito por ter o Patrik Schick, que é um jogador com qualidade. Mas não vamos preocupar-nos em excesso. Portugal entra em todas as provas para vencer, sempre dissemos que o próximo jogo é o mais importante e agora é contra a República Checa. Não podemos pensar no jogo com Espanha. Entramos em todos os jogos para ganhar e foi para isso que preparámos a equipa. Nem sei que outra mensagem poderia passar. A mensagem é clara e sempre foi: foco total, vencer e confiança e nas nossas capacidades. As decisões que tomar têm a ver com aquilo que achar melhor para o jogo, não têm a ver com mais nada”, disse o selecionador nacional na antevisão da partida.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Assim, em Praga, Fernando Santos não levava grandes novidades para o onze inicial. O treinador não podia contar nem com João Cancelo nem com João Félix, o primeiro por castigo e o segundo por lesão, e colocava Danilo a fazer dupla com Rúben Dias no eixo defensivo, enquanto que Diogo Dalot era o lateral direito. William, Rúben Neves e Bruno Fernandes ocupavam o meio-campo e Bernardo e Rafael Leão faziam companhia a Ronaldo no ataque, sendo que Mário Rui era talvez a maior surpresa sendo titular em detrimento de Nuno Mendes na esquerda da defesa. Do outro lado, tal como o selecionador nacional havia antecipado, Patrik Schick aparecia no ataque dos checos.

A República Checa começou algo melhor, obrigando Portugal a desistir da saída curta e com base no jogo de pés de Diogo Costa devido a uma pressão alta que empurrava a defesa portuguesa para o último terço. Jemelka fez o primeiro remate mas não acertou na baliza (4′), Patrik Schick também atirou ao lado (5′) e a Seleção Nacional ia demonstrando algumas dificuldades para sair a jogar de forma apoiada. Ainda assim, Rúben Neves teve o primeiro remate português, ao atirar ao lado de fora de área (9′), e ficava claro que a equipa de Fernando Santos tinha capacidade para criar desequilíbrios facilmente, bastando acelerar o jogo e construir situações de exploração da profundidade e de superioridade numérica em relação ao trio defensivo checo.

Rúben Dias ficou perto de abrir o marcador, ao atirar à malha lateral após um ressalto na área adversária (11′), e Cristiano Ronaldo ficou em dificuldades físicas após chocar com o guarda-redes Vaclík. O jogo entrou numa fase algo incaracterística nesta altura, com Jaroslav Šilhavý a ser forçado a fazer a primeira substituição do jogo para trocar o lesionado Brabec por Kúdela, e nenhuma das duas seleções parecia demonstrar clarividência ou criatividade para fazer mexer o marcador ou até criar oportunidades de golo. À passagem da meia-hora, porém, Diogo Dalot decidiu contrariar essa evidência.

Pouco depois de Barák ter o primeiro golo da partida na cabeça, ao atirar ao lado na sequência de um cruzamento vindo da esquerda (31′), Dalot acelerou, soltou em Bruno Fernandes na direita e viu o colega de equipa do Manchester United cruzar para a área. A bola atravessou toda a grande área e encontrou Rafael Leão no lado contrário, que colocou atrasado para Dalot aparecer novamente e encostar para abrir o marcador e estrear-se a marcar pela Seleção Nacional (33′). Král ficou perto de empatar logo depois, ao atirar cruzado para defesa atenta de Diogo Costa (35′), mas a história da primeira parte ficaria escrita já nos descontos.

Portugal assumiu uma clara superioridade depois de chegar à vantagem, conquistando a maioria da posse de bola de forma notória e jogando com tranquilidade dentro do meio-campo adversário — muito graças à mobilidade motivada por Bruno Fernandes e Bernardo, que trocavam de posição e ofereciam novas dinâmicas. Já no tempo extra, a Seleção conseguiu capitalizar esse ascendente: William soltou Mário Rui na esquerda e o lateral do Nápoles cruzou tenso e rasteiro para a pequena área, onde Bruno Fernandes fugiu aos centrais checos para aumentar a vantagem portuguesa (45+2′). Ainda antes do intervalo, Cristiano Ronaldo fez grande penalidade ao intercetar um cruzamento com a mão mas Patrik Schick, chamado a converter, atirou por cima e manteve intacta a vantagem de Portugal (45+6′).

Nenhum dos selecionadores fez alterações ao intervalo e Portugal manteve uma superioridade clara, começando a construir na zona do meio-campo e trocando a bola durante largos segundos sem ser propriamente incomodado pela República Checa. Nessa lógica, sem que estivessem cumpridos dez minutos do segundo tempo, a Seleção Nacional aumentou a vantagem: Diogo Dalot recebeu à entrada da grande área, puxou da direita para dentro e atirou forte e colocado, junto ao poste, para bisar na partida e aumentar a vantagem portuguesa (52′).

O encontro entrou em velocidade cruzeiro depois do terceiro golo, com Portugal a permitir mais posse de bola à República Checa e a gerir a vantagem com tranquilidade. Jaroslav Šilhavý voltou a mexer já depois da hora de jogo, motivando uma tripla alteração, e Fernando Santos respondeu com as entradas de Ricardo Horta e Diogo Jota para os lugares de Bernardo e Rafael Leão, trocando depois Bruno Fernandes e William por Matheus Nunes e João Palhinha.

Jota ainda carimbou a goleada nos últimos dez minutos, ao aparecer ao segundo poste a desviar de cabeça na sequência de um canto cobrado na esquerda (84′), e já pouco aconteceu até ao apito final. Portugal goleou a República Checa em Praga e beneficiou da derrota de Espanha frente à Suíça para saltar para a liderança isolada do Grupo 3 da Liga A — ou seja, só precisa de empatar com os espanhóis em Braga, na próxima terça-feira, para garantir a presença na final four da Liga das Nações. Num dia em que a Seleção Nacional foi claramente superior, Diogo Dalot foi titular e evidenciou-se com uma exibição acima da média em que fez os dois primeiros golos pela equipa portuguesa. E se já fosse nascido em 1978, quando os Gemini venceram o Festival da Canção, de certeza que a letra da música seria “Dai Li Dalot, Diogo voa”.