A Câmara de Torres Vedras tem previsto gastar 100 mil euros do seu orçamento para 2023 com as comemorações do centenário do Carnaval, que vão realizar-se entre 17 de fevereiro de 2023 e 14 de fevereiro de 2024.
O orçamento de 100 mil euros para o programa comemorativo do centenário do Carnaval foi revelado nas normas para a apresentação de propostas de programação, que foram aprovadas na segunda-feira pelo executivo municipal e a que a agência Lusa teve esta terça-feira acesso.
As normas estabelecem as condições pelas quais cidadãos e entidades coletivas podem apresentar iniciativas que venham a constar do programa comemorativo.
As comemorações devem integrar manifestações culturais e momentos festivos, com caráter diversificado, capazes de congregar os cidadãos, mobilizar a participação da sociedade torriense, desde as gerações mais jovens aos mais idosos, fomentar e apoiar as iniciativas promovidas a nível local pela sociedade civil”, refere a autarquia no documento aprovado.
Além disso, o município espera que o programa comemorativo “deixe uma marca física para o futuro, dotada de grande visibilidade pública” e um “testemunho da herança do Carnaval”.
Cada projeto candidato poderá vir a ter um financiamento máximo de 10 mil euros, segundo as normas aprovadas.
Em novembro, durante 15 dias, o município vai recolher propostas através do site das comemorações do Carnaval, a criar, cabendo depois à comissão executiva das comemorações do centenário analisá-las.
Os projetos selecionados vão ser depois submetidos à votação dos cidadãos, através do mesmo site, vencendo os que recolherem maior número de votos.
Em março, o Carnaval de Torres Vedras foi inscrito no Património Cultural Imaterial Nacional, depois da candidatura apresentada em 2016 à Direção-Geral do Património Cultural.
São características deste Carnaval dois homens locais desempenharem os papéis de rei e rainha, a existência de uma “dinastia” dos títulos dos reis, as ‘matrafonas’ (homens com roupas e acessórios habitualmente usados por mulheres) e as celebrações da chegada e entronização dos reis.
O Carnaval de Torres Vedras insere-se nas tradições do Entrudo português, cujas raízes remontam às festas pagãs relacionadas com as festas de inverno e com os cultos de fertilidade e da abundância no início da primavera, incluídos pelo Cristianismo no calendário litúrgico.
As manifestações do Carnaval espontâneo em Torres Vedras, característica que persiste até hoje, remontam ao século XIX, mas foi em 1923 que uma elite local republicana e um grupo social comercial/industrial emergente iniciou os festejos organizados nas ruas.
Os primeiros reis, dois homens, e a comitiva régia, composta por ministros, embaixadores e ‘matrafonas’ surgiram em 1924.
Em 1941 e 1945, os festejos foram interrompidos com a 2ª Guerra Mundial, e voltaram a ser interrompidos em 1953, 1954 e 1956, no período do pós-guerra, mas foram revitalizados nas décadas de 60 e 70 do século passado, tendo aí aparecido as figuras dos Zés Pereiras, os carros alegóricos e o primeiro passeio trapalhão, que permaneceram até hoje.
Nas décadas de 80 e 90, o Carnaval ganhou dimensão graças à sua mediatização, tendo a organização passado para a câmara municipal e para uma comissão.
A partir de 1999 passou a ser erguido no centro da cidade um monumento alusivo ao Carnaval e, em 2000, a organização do evento foi entregue à empresa municipal Promotorres.
Nos últimos anos, o evento passou a atrair meio milhão de visitantes nos cinco dias em que ocorre e gera receitas de cerca de 10 milhões de euros na economia local.