O Santander Portugal suspendeu a comercialização de crédito à habitação em taxa fixa, já desde o início deste mês, uma decisão que esta quarta-feira foi tema da audição parlamentar da DECO e da Associação Portuguesa de Bancos, sobre o impacto da subida recente das taxas de juro (nos créditos a taxa variável). O banco, que também esta quarta-feira anunciou que os lucros mais do que duplicaram nos primeiros nove meses de 2022, justifica a decisão dizendo que a oferta em taxa fixa seria “desadequada ao atual enquadramento macro económico”.

“É entendimento do Banco Santander que a oferta de novo crédito à habitação em regime de taxa fixa é desadequada ao atual enquadramento macro económico, dada a volatilidade da taxa Euribor e um prognóstico de comportamento que se configura pouco sustentado no médio e longo prazo“, indicou fonte oficial do banco.

“Adicionalmente, as taxas fixas de longo prazo existentes nos mercados financeiros encontram-se a valores superiores à Euribor de curto prazo, pelo que a opção por esse regime não resultaria num benefício para os clientes, uma vez que as prestações do regime de taxa variável são mais baixas quando comparado com o regime da taxa fixa”.

Na Assembleia da República, Vítor Bento, líder da APB remeteu as explicações para a decisão para o próprio banco, salientando que a banca opera num ambiente concorrencial e, por isso, as instituições devem ser livres de tomar políticas como esta.

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Santander mais do que duplicou lucros

No final de setembro de 2022, o resultado líquido da Santander Totta, SGPS ascendeu a 385,1 milhões de euros, que compara com 172,2 milhões no período homólogo, indicou o banco em comunicado de imprensa divulgado esta quarta-feira. A comparação entre os resultados dos primeiros nove meses de 2022 e 2021 é influenciada pelo facto de o Santander ter registado um “encargo extraordinário, no valor de 164,5 milhões de euros (líquido de impostos)”, que impactou as contas no primeiro trimestre de 2021, para “fazer face ao plano de transformação em curso, com a otimização da rede de agências e investimentos em processos e tecnologia”.

O indicador do produto bancário caiu 9% para 933,6 milhões de euros nestes primeiros nove meses de 2022, um recuo que o banco explica “em grande medida com a evolução dos resultados em operações financeiras, que se reduziram em 80% face ao período homólogo, quando tinham atingido um valor muito elevado, fruto da gestão da carteira de títulos”. Ou seja, nos primeiros nove meses de 2021 o banco tinha obtido resultados muito positivos com a venda de títulos de dívida pública e outros ativos, que por não se ter repetido prejudicou o produto bancário nos primeiros nove meses de 2022.

A margem financeira, no montante de 547,9 milhões de euros, registou um decréscimo de 1,9% face aos primeiros nove meses de 2021, refletindo, por um lado, o contexto concorrencial competitivo, que continuou a pressionar em baixa os spreads de crédito, e, por outro lado, a alteração da composição relativa da carteira de crédito, fruto do maior dinamismo do crédito hipotecário. A subida das taxas de juro é ainda recente para produzir um impacto material nesta rubrica das receitas”, diz o banco.

Já a cobrança de comissões subiu quase 14% para 358,6 milhões de euros. Os custos operacionais caíram na mesma medida: 13,6% para 364,5 milhões de euros.

O banco reduziu em 759 o número de trabalhadores: eram 5.397 no final de setembro de 2021 e passaram para 4.638 no final do mês passado. Ao longo do mesmo período, reduziu-se em 10 o número de agências, para 340.

Banco diz ter lançado medidas de apoio financeiro aos colaboradores

Nesta atualização ao mercado, sobre o desempenho do banco até ao momento, o Santander Portugal diz relativamente à incerteza económica que está a “acompanhar a situação atual de perto”. “Dispomos de uma estrutura sólida, próxima e de mecanismos apropriados para gerir os impactos da incerteza económica global, e com uma preocupação particular para com os nossos colaboradores, tendo lançado já este mês um conjunto de medidas de apoio financeiro com vista a mitigar os impactos da inflação na perda de rendimento disponível dos seus agregados familiares”, indica o banco.

Que medidas foram essas? Questionada pelo Observador, fonte oficial do banco indicou que os apoios se focaram “nas pessoas que têm um salário mais baixo, através do pagamento de um valor extraordinário e suplementar de 750 euros para quem tenha um vencimento até 30 mil euros anuais”.

“As medidas incluem também a possibilidade de todos os colaboradores anteciparem em 2023 até 50% do subsídio de Natal; o aumento do limite de crédito disponível para os trabalhadores para 200 mil euros em novas operações de crédito; e o alargamento do acesso às medidas EFR (Empresa Familiarmente Responsável), como a comparticipação do passe social em 50% ou o apoio a propinas no valor de 310 euros por ano por filho ou enteado”, indica o banco.

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