O Millennium BCP fechou os primeiros nove meses do ano com lucros de 97,2 milhões, o que traduz um aumento de 63% face aos 59,5 milhões de euros de resultado líquido no mesmo período de 2021. Os resultados voltaram a ser muito penalizados pelas perdas no Bank Millennium da Polónia, que nestes nove meses ascenderam a 393 milhões de euros, e por provisões para moratórias de crédito (também na Polónia) que subtraíram 305 milhões de euros (antes de impostos).

A informação foi indicada, esta segunda-feira, pelo banco em comunicação à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e apresentada pelo presidente-executivo, Miguel Maya, em conferência de imprensa, nas instalações do banco no Tagus Park, em Oeiras.

Na conferência de imprensa, Miguel Maya comentou, além dos resultados, a possibilidade de nos próximos dias o Governo lançar um novo enquadramento para as renegociações de crédito para os clientes em maiores dificuldades devido à subida das taxas de juro. O presidente do BCP diz que a “floresta está bem” mas “de certeza” que alguns clientes irão ter problemas e para isso o banco deve procurar “soluções” – “e para isso não precisamos do Governo“.

Mas Miguel Maya sublinha, garantindo que não conhece o diploma que sairá nos próximos dias, que existe o risco de se “criarem incentivos errados, se tiverem implícito que uma reestruturação não tem custos”. “Tem sempre custos, não é uma questão de marcar os clientes mas há um estigma“, alertou o presidente da comissão executiva do BCP, avisando os clientes que não podem achar que “é tudo de graça”.

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Se é pedido um empréstimo, este empréstimo é analisado com rigor, é simulada uma taxa de juro de teste de esforço (com taxas a subir 3%) e a pessoa toma essa decisão, se as taxas subirem para este valor e as pessoas têm de pedir uma reestruturação, quando voltarem a pedir um empréstimo houve alguma coisa que falhou. Não é irrelevante, na avaliação do histórico do cliente, que ele tenha tido de fazer uma reestruturação num cenário em que as taxas de juro estava, como estão hoje, em níveis ainda assim historicamente baixos”.

“Isto fica marcado como o cliente ter necessitado de uma reestruturação”, por isso, o “conselho” de Miguel Maya é que os clientes “só solicitem  uma reestruturação se for estritamente necessário“.

O primeiro-ministro, António Costa, indicou que na próxima reunião do conselho de ministros – prevista para esta quinta-feira – poderá haver acordo para o chamado “diploma específico” para a banca, que irá incluir medidas para enquadrar reestruturações de crédito que os clientes mais endividados queiram fazer devido à subida das taxas de juro.

Resultados em Portugal duplicam mas Polónia continua a pesar

Os resultados do banco foram penalizados pelos custos relacionados com o Bank Millennium na Polónia, que há vários anos causa uma hemorragia no desempenho da casa-mãe devido aos problemas relacionados com os créditos que foram concedidos na Polónia e indexados a francos suíços. O sistema judicial polaco começou, há alguns anos, a decidir quase sempre em favor dos clientes “lesados”, o que levou a que o banco tenha de fazer imparidades todos os trimestres para este problema.

Sem o impacto da Polónia, os lucros teriam mais do que duplicado para 536 milhões de euros, diz o banco, que deixou de fazer créditos em francos suíços na Polónia em 2008 mas nos últimos anos tem perdido largas centenas de milhões de euros – aliás, uma contabilização feita pelo banco estima que já se tenham perdido mais de mil milhões de euros devido ao que Miguel Maya chama de risco “político-legal” na Polónia. E “não sabemos onde isto vai parar”, disse Miguel Maya.

Em Portugal, o banco conseguiu um resultado líquido de 295,7 milhões, com um aumento de 32,7% na margem financeira para 1.546 milhões de euros – sendo este o indicador que compara aquilo que os bancos pagam para se financiar, incluindo nos depósitos, e aquilo que cobra em juros nos empréstimos que concede.

Nos primeiros nove meses de 2021 o BCP tinha tido em Portugal um resultado de 115,2 milhões, ou seja, os lucros na operação portuguesa mais do que duplicaram.

A cobrança de comissões aumentou em 7,3%, para 573,8 milhões de euros, no Millennium BCP como um todo. Só na operação portuguesa, as comissões subiram quase 11%.

O grupo bancário está, neste momento, com um retorno dos capitais investidos (return on equity) de 2,5%, o que fica muito abaixo dos cerca de 10% que são o objetivo do plano estratégico para 2024.