Está a circular nas redes sociais brasileiras o vídeo do momento em que um polícia, agente do Grupo de Apoio Preventivo da Divisão de Trânsito de Itajaí, no estado de Santa Catarina, se dirige aos manifestantes pró-Bolsonaro reunidos junto a uma estrada e lhes pede que não desmobilizem e continuem a resistir. Serão precisas pelo menos 72 horas de contestação, explica, para que o ainda Presidente Jair Bolsonaro possa “tomar uma atitude”.

Depois de este domingo à noite ter sido derrotado na segunda volta das presidenciais por Lula da Silva, Bolsonaro mantém-se em silêncio, não tendo ainda comentado publicamente os resultados das eleições — nem tão pouco reconhecido a derrota face ao candidato do PT.

https://twitter.com/gchahal/status/1587261364564676615

“Pessoal, nós temos de resistir 72 horas pró presidente poder tomar uma atitude. Por isso é que ele não se manifestou até agora. Ele não pode se manifestar até agora. Por isso é que tem que esperar 72 horas”, pode ouvir-se dizer o agente da polícia, entretanto citado pelo Estado de São Paulo. “Nós não podemos comparar-nos aos bandidos. Nós somos brasileiros, somos cidadãos de bem e nós vamos trabalhar dentro da lei”, acrescenta, para gáudio dos manifestantes, que o aplaudem efusivamente.

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Questionado pelo jornal, a Divisão de Trânsito de Itajaí garantiu que o agente, que apareceu na manifestação fardado e num carro oficial da polícia, não recebeu ordens para se deslocar ao local, e revelou que lhe irá ser movido um processo-administrativo já esta terça-feira.

Supremo Tribunal Federal ordena que manifestantes pró-Bolsonaro sejam “imediatamente” retirados das estradas

Entretanto, o Supremo Tribunal Federal já tinha confirmado esta segunda-feira ao final da noite, madrugada em Portugal, a ordem do seu ministro, Alexandre de Moraes, para que os milhares de manifestantes pró-Bolsonaro que desde domingo bloqueiam centenas de estradas em todo o país sejam “imediatamente” retirados.

A ordem é para que a Polícia Rodoviária Federal e as Polícias Militares tomem “todas as medidas necessárias e suficientes” para retirar os manifestantes, que esta segunda-feira ao fim da tarde tinham 321 bloqueios ativos em 25 estados brasileiros e no Distrito Federal.

Para além de ter definido multas de 100 mil reais (cerca de 19 mil euros) por hora para os camiões que se recusem a sair, Moraes, que acusa a PRF de “omissão e inércia” na resolução dos bloqueios, determinou ainda que caso Silvinei Vasques, o diretor-geral da PRF, não acate e faça cumprir estas ordens, poderá ser multado, afastado do cargo e até preso, por crime de desobediência.

Ao longo das últimas horas, surgiram nas redes sociais brasileiras vídeos de agentes da PRF a demonstrar apoio aos manifestantes. O Estado de São Paulo relatou o exemplo de Ricardo Torres, agente da PRF em Rio do Sul no estado de Santa Catarina (“Sou Ricardo Torres e voto Bolsonaro 22”, é como se apresenta no Instagram), que foi filmado esta segunda-feira a discursar ao microfone em pleno bloqueio de estrada.

“Nenhum veículo que está aqui na manifestação será alvo de qualquer notificação. Eu não vou fazer multa nenhuma”, começou por dizer o polícia, para depois pedir “bom senso e serenidade” e garantir que não agirá pela força.

“Qualquer manifestação que vier da minha chefia ou determinação judicial, eu vou chegar para vocês para conversar e dizer: ‘Olha, chegou essa ordem, o que eu faço da vida? O que vocês me orientam para a gente interagir e encontrar a melhor solução?’”.

À Folha de São Paulo, por intermédio do coordenador-geral de comunicação, a PRF garantiu que o cenário de desobediência não se coloca e que as ordens superiores têm sido e serão cumpridas.

“Em momento algum nós tivemos determinação para não desmobilização das manifestações. Desde o começo, nós estamos trabalhando incansavelmente para desobstruir todos os pontos com bloqueio nas rodovias federais. E a ordem do nosso diretor-geral é para nós desobstruirmos todos os pontos o mais rápido possível, imediatamente”.

Governador de São Paulo, pró-Bolsonaro: “As eleições acabaram, vivemos num país democrático. Não vai ser bloqueio que vai impedir o resultado das urnas”

Rodrigo Garcia, o governador de São Paulo, avisou esta terça-feira de manhã os manifestantes pró-Bolsonaro que continuam a obstruir estradas no Estado: a partir de agora a polícia vai começar a cumprir as determinações do Supremo Tribunal Federal (STF) e multar todos os motoristas que se recusem a desmobilizar.

Para além das multas de 100 mil reais por cada hora de incumprimento, disse o governador em conferência de imprensa, a polícia também tem luz verde para fazer “uso de força” e para deter os cidadãos que lhe desobedeçam.

“Agora pela manhã, em virtude da decisão do STF, as negociações se encerraram e, a partir de agora, nós vamos aplicar o que determina a decisão judicial, iniciando com multas de 100 mil reais por hora para cada veículo que esteja contribuindo com a obstrução, a partir daí fichando e eventualmente prendendo aqueles manifestantes que, porventura, resistirem a desobstruir as vias e, se necessário, o emprego de uso de força.”

“As eleições acabaram, vivemos num país democrático”, disse Rodrigo Garcia, apoiante de Jair Bolsonaro, revelando ainda que, esta terça-feira de manhã, subsistiam 90 bloqueios em São Paulo, tendo outros 40 já sido terminados. “São Paulo respeita o resultado das urnas e nenhuma manifestação vai fazer com que o Brasil retroceda. Não vai ser bloqueio que vai impedir o resultado das urnas.”

De manhã, no Twitter, Rodrigo Garcia já tinha considerado o bloqueio de estradas “inadmissível”. Romeu Zema, o governador de Minas Gerais, também ele apoiante do ainda Presidente Jair Bolsonaro, recorreu ao Instagram para dizer o mesmo e apelar também ao fim dos cortes de estradas: “Eleição já acabou e a lei precisa ser cumprida: todos têm direito a ir e vir e o abastecimento não pode ser prejudicado”.