Com um ar mais descontraído do que quando se senta em frente de um computador nas corridas de Fórmula 1, Toto Wolff, diretor executivo da equipa da Mercedes AMG-Petronas esteve esta quinta-feira, 3 de novembro, na Web Summit para assumir que a época tinha sido desafiante. A Mercedes perdeu para a Red Bull o campeonato de construtores, tendo também perdido o de pilotos para Max Verstappen.

Uma rivalidade de outros tempos, a quebra da Ferrari, um culto inesperado: Verstappen conseguiu outra vez. Mas como?

Toto Wolff gostou de ouvir uma plateia da Web Summit a assumir-se fã de Fórmula 1 — “podia ter havido apupos” — e ainda ouviu aplausos quando falou das oito vitórias consecutivas da Mercedes… mas isso foi no passado. Este ano perdeu para a Red Bull o campeonato de pilotos e de construtores, onde se instalou na terceira posição atrás da Ferrari. Ainda que o segundo lugar de Lewis Hamilton no México tenha deixado os fãs a pensar se seria um acaso da pista ou se a Mercedes estava de volta ao topo. À temporada ainda restam duas corridas — no Brasil e em Abu Dhabi — que Toto assumiu tratarem-se de mais dois testes e clarificar se “estamos no caminho certo para o próximo ano”, se os problemas “estão mais ou menos resolvidos”, senão “temos de aprofundar e analisar mais”, “mas é muito importante para nós”.

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“A época está a ser difícil. Ganhámos o campeonato oito vezes consecutivas… mas isso foi no passado. Penso que temos de olhar para o amanhã”, assumiu o “patrão” da equipa da Mercedes, para explicar que “a física esteve errada; não há místicas na F1. O conceito do carro não estava no sítio certo e na F1 leva muito tempo a desfazer o que está no interior do carro. Nesse aspeto, a época foi uma aprendizagem para nós. Esperamos poder desafiar os Red Bull e os Ferrari, mas está tudo a ser preparado para o próximo ano”.

A participação do diretor da Mercedes na Web Summit foi dividida, em palco, com o presidente da tecnológica Teamviewer, com quem a equipa da F1 fez uma parceria há um ano. Oliver Steil assumiu estar “muitíssimo satisfeito com a parceria. É um sítio fascinante para aplicar tecnologia. E há tantas mudanças ao longo da temporada — novos pilotos, novas tecnologias — que vemos emoção, crescimento pessoal e tecnologia a trabalhar simultaneamente”. “É muito interessante ver o quanto está a acontecer, quanta engenharia e quão rápidos temos de ser”.

A parceria foi assinada em 2021. Durante a pandemia houve mudanças na forma como tiveram de trabalhar, até porque na F1 há muito trabalho de campo. O pessoal core é de 19 engenheiros e nas fábricas são 200 pessoas (100 no chassis e 100 nos motores). “Podem imaginar o que é trabalhar no terreno, fazer cirurgia no terreno nem sempre é trivial. Se abrimos o motor ou um complicado sistema de refrigeração temos de ter os recursos. A Teamviewer permite-nos ter a pessoa à distância a olhar pelo mesmo boroscópio e verificar o cilindro tal como o mecânico no terreno. Temos um conjunto mais vasto de recursos disponíveis do que teríamos porque temos limites no número de engenheiros e mecânicos que podemos levar para as corridas”. Essa ajuda remota permite “contornar as regras”, deixou escapar a jornalista que moderava a sessão, para logo ser corrigida: “não pode dizer contornar as regras”, atirou Toto Wolff com um sorriso.

A Fórmula 1 é, assim, um laboratório, assume Oliver Steil, assumindo que o primeiro pensamento é na ajuda remota. “Temos todo o tipo de equipamentos”, diz o responsável da Teamviewer, que assume como ideia da empresa de que tudo o que tem sistema operativo tem de ser possível aceder remotamente. Se os dados estão disponíveis para quem está no exterior, a Teamviewer assume que quer levar todas essas possibilidades a quem está no terreno, que podem ser pilotos (num vídeo apresentado antes do debate via-se Hamilton com uns óculos de realidade aumentada), ou mecânicos, para quem tenham toda a informação disponível e “temos de ter um feedback muito rápido”.

É uma questão de desempenho, mas também de sustentabilidade, já que esta operação “cirúrgica” à distância permite reduzir deslocações e quantidade de equipamento a viajar de um lado para o outro. “Vai permitir-nos fazer muita coisa remotamente na engenharia e mecânica”, assume Wolff, dizendo que a F1 tem um papel nesse campo. Havendo 1,5 mil milhões de espetadores em todo o mundo, a “F1 tem de demonstrar que se nós conseguimos toda a gente consegue. É nossa responsabilidade”.

“É super importante assumirmos a nossa responsabilidade e demonstrá-lo”, acrescentando que “quanto mais conseguirmos fazer remotamente, menos precisamos de transportar; quantos mais recursos qualificados tivermos a apoiar-nos [por detrás] melhor são as operações no terreno. É uma questão de sustentabilidade mas também de vantagem operacional. Se conseguir utilizar 10 dos meus melhores engenheiros em Oxford, que é onde está a fábrica, em vez de um único que posso levar para o terreno… isto tem a ver com desempenho e de bater os concorrentes”.

A aliança entre a Teamviewer e a Mercedes é “um casamento exclusivo”, disse Toto Wolff, para acrescentar de seguida: do ponto de vista profissional, declarou, informando que a sua mulher estava a assistir ao debate.