Ainda nem sequer tinha entrado em palco e já estava a ser aplaudido. Bastou um vídeo reproduzido nos ecrãs da Altice Arena, onde contava como começou e o império que construiu, para haver manifestações dos compatriotas brasileiros que participam na Web Summit este ano.

Chama-se Konrad Dantas mas é mais conhecido por KondZilla, o mesmo nome que o canal de YouTube que criou e a editora de música. Só no YouTube tem 66,1 milhões de subscritores, o que lhe dá o título de maior canal do Brasil na plataforma da Google; a nível mundial é o 18.º. Passou pelo palco principal da Web Summit para partilhar como se cria um ecossistema a partir do funk, “honrando”, “respeitando a comunidade” e valorizando a favela.

Através da editora já foram lançados outros artistas, que atravessaram o Atlântico, com Kevinho entre o maior exemplo.

KondZilla esteve na cimeira de tecnologia para contar, sobretudo, como conseguiu criar um ecossistema que ataca três vertentes: a música, os projetos audiovisuais e a publicidade. KondZilla também é nome de site de informação, onde são produzidos conteúdos para uma faixa etária mais jovem. “Gosto de produzir conteúdos que gostaria de ver se tivesse 15 anos”, contou.

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KondZilla cresceu na favela e assumiu que foi o desafio que o fez crescer. “Achava que era impossível chegar ao objetivo porque não tinha dinheiro, não falava inglês. Acho que foi o desafio que me fez mexer.” Tudo começou pela gravação de vídeos com câmaras de cinema. “A minha comunidade gosta de consumir bom conteúdo.”

Na Web Summit partilhou os vários planos que tem e o que anda a fazer. Por agora, sabe-se que não há vontade de trabalhar com a gigante de streaming Netflix. “Não gosto de trabalhar com a Netflix, agora”, afirmou com convicção. Apesar de ter sido responsável pela autoria da série “Sintonia”, que conta a história de três jovens numa favela de São Paulo. A série, que já vai na terceira temporada, estreou em 2019 e chegou a ser a mais vista do Brasil no serviço de streaming nesse ano.

Também partilhou que não tem vontade de enveredar pelos vídeos curtos, algo que agrada às gerações mais jovens e ganhou força devido ao TikTok. “Toda a gente queria que eu trabalhasse com vídeos curtos para a Geração Z. Fui por outro lado, porque acho que tem menos concorrência.”

Não abriu o jogo sobre se vê os planos da empresa que criou a passar por outros países. Mas disse que tem claramente a vontade de chegar a outras comunidades. Além do funk, KondZilla é também investidor da POPline, “a maior plataforma de pop para a comunidade LGBT+”, explicou. Ainda tem na visão a vontade de chegar a outras comunidades, que têm ficado mais esquecidas. “Tenho a ambição de chegar à faixa dos 50+”, explicou, referindo-se a pessoas com mais de 50 anos. Disse que vê quem trabalhe para os utilizadores da geração Z e dos millennials, mas nem tanto na faixa acima dos 50. “Não vejo ninguém a pensar em como trabalhar para essa comunidade.”

Também está nos planos intensificar os trabalhos na área da educação. “Tenho o sonho de trabalhar com a educação, porque foi isso que mudou a minha vida” foi a frase de KondZilla que mais aplausos mereceu na plateia. “Na favela costuma dizer-se que todas as pessoas querem ser jogador de futebol ou músicos. E não é assim”, considerou. Por enquanto já tem algum trabalho feito na área da educação: lançou o Instituto KondZilla, uma iniciativa “para ajudar os jovens da favela a estudar na audiovisual”. Há muito talento, reconheceu, frisando a necessidade de “amplificar essas vozes”.

Mas nem sempre é fácil ser KondZilla, que até já é descrito no Brasil como o “magnata” do funk. “É muito difícil, é pesado”, contou ao moderador da conversa sobre a ideia de “todos quererem ser o KondZilla”.  “Quero ser o agente transformador das pessoas das favelas do Brasil.”