É a primeira vez, nos 50 anos de história, que a União Nacional (Rassemblement National) — anteriormente conhecida como Frente Nacional — não é liderada por alguém da família Le Pen. Jordan Bardella, de 27 anos, foi eleito este sábado novo líder do partido francês de extrema-direita.

De acordo com o jornal The Guardian, Jordan Bardella, protegido de Le Pen, obteve 85% dos votos e venceu Louis Alito, presidente da câmara de Perpignan e histórico do partido, que obteve 15% dos votos.

O eurodeputado, que já assegurava a presidência interina há um ano, assume o testemunho de Marine Le Pen, que se vai concentrar na liderança do bloco parlamentar do partido, que elegeu, em junho, 89 deputados.

No congresso do partido, este sábado, Marine Le Pen dirigiu-se aos militantes para deixar claro que não está a deixar a União Nacional “para ir de férias”. “Vou estar onde o país precisar de mim”, afirmou a política, que deverá ser candidata nas próximas eleições presidenciais francesas, em 2027.

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Marine Le Pen tinha renunciado ao cargo de líder do partido, que liderava desde 2011, no ano passado para se concentrar na candidatura às eleições presidenciais, que acabou por perder em abril na segunda volta para o Presidente Emmanuel Macron.

Visto como leal a Le Pen, Jordan Bardella dirigiu-se aos militantes da União Nacional para dizer, aqui citado pela BBC, que a França “será sempre uma prioridade” e que não pretende “desistir de servir” o povo em “primeiro lugar”.

Jordan Bardella juntou-se ao partido aos 16 anos. Filho de pai francês e mãe italiana, emigrante que se fixou num subúrbio de Paris depois do divórcio, subiu rapidamente na hierarquia da União Nacional, ganhando destaque quando em 2017 foi convidado para ser porta-voz. Em 2019 foi escolhido para cabeça de lista do partido nas eleições europeias, das quais saiu vencedor.

As posições públicas de Bardella sobre os desafios colocados pela migração têm motivado duras críticas em França. O novo líder da Frente Nacional já acusou a União Europeia permitir a entrada de “armas, migrantes e terroristas”, é um defensor convicto da teoria de conspiração da “Grande Substituição“, em que se alega que que há um plano em curso para substituir a população branca por outras raças e etnias, e já chegou a defender abertamente o fecho das mesquitas em França, alegando que o país estava em “guerra” e que a comunidade islâmica era um inimigo do Estado.

Em fevereiro, Jordan Bardella foi investigado após descrever Trappes, cidade com uma grande comunidade de imigrantes nos subúrbios de Paris, como uma “República Islâmica” dentro de França.

É também um admirador confesso de Éric Zemmour, líder do partido de extrema-direita Reconquista que tentou desafiar a hegemonia de Le Pen nessa área política nas últimas eleições e chegou a comparar-se com Napoleão Bonaparte, como recorda a Bloomberg. “Ouço os críticos internos a dizerem que sou demasiado jovem, mas isso não me vai parar. Napoleão disse que crescemos depressa no campo de batalha e eu herdei a resiliência de Marine Le Pen”, disse Bardella.

Apesar de não ser um Le Pen, Jordan Bardella faz praticamente parte da família, uma vez que namora com Nolwenn Olivier (sobrinha de Marine Le Pen).

O The Guardian recorda que, meses depois, em setembro, quando Giorgia Meloni, de extrema-direita, venceu as eleições italianas, Jordan Bardella descreveu a vitória como “uma lição de humildade para a União Europeia”. O político acusou ainda Bruxelas de tentar influenciar as eleições e disse que “nenhuma ameaça pode parar a democracia”.

Apesar de agora se afastar da liderança da Frente Nacional, a influência de Le Pen não vai desaparecer. A garantia foi dada pelo agora novo líder em entrevista à Reuters, onde reconheceu a verdadeira presidente do partido seria a mulher que o conduziu até agora e que ele seria apenas o “comandante do exército”.