É o mais emotivo dos excertos da entrevista de Cristiano Ronaldo a Piers Morgan, que vai ser divulgada na íntegra esta quarta e quinta-feira. O futebol fica de fora e o avançado português fala pela primeira vez (e apenas) da perda do filho em abril: o bebé gémeo que terá morrido no parto, só sobrevivendo a filha, Bella Esmeralda.

“Foi provavelmente o momento mais duro que vivi na minha vida depois da morte do meu pai”, começa por dizer Ronaldo neste excerto de apenas um minutos e 45 segundos, em que está quase sempre prestes a chorar e com a voz embargada. “Quando temos uma criança esperamos que tudo corra normalmente, quando há um problema é duro”, explica ao apresentador, insistindo que foi uma das piores fases da sua vida. “Como seres humanos, eu e a Georgina passámos momentos muito difíceis: não percebemos porque nos estava a acontecer a nós”.

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Ronaldo diz depois que teve dificuldade em assimilar a realidade. “Foi difícil, muito difícil, perceber o que se estava a passar nas nossas vidas”. E também em conciliar a perda do bebé com a sua carreira. “No futebol tudo é muito rápido, há muitas competições, muitos jogos, nunca se pára, e eu e a minha família estávamos a passar pelo momento mais duro das nossas vidas, em especial a Gio. Foi duro”.

Piers Morgan pergunta-lhe também como foi lidar com a morte de um bebé e a felicidade do nascimento do outro e também aí Ronaldo conta que teve dificuldades em lidar com as duas realidades. “Tentei explicar muitas vezes à minha família e aos meus amigos mais próximos, mas é muito difícil explicar isso, sentir-me feliz e triste ao mesmo tempo, foi tão difícil, não sabia se ria ou se chorava. Não sabemos como reagir, na verdade não sabemos o que fazer”.

Ao tablóide The Sun, que revela esta parte da entrevista, Ronaldo revela que guarda as cinzas do filho, junto às do pai, José Dinis Aveiro, que morreu em 2005 por insuficiência hepática, tendo erguido uma capela na cave da casa. “As cinzas dele estão comigo, como as do meu papá, estão aqui em casa. É algo que quero guardar o resto da minha vida e não atirar ao mar. Guardo-o comigo. Está ao lado do meu pai. Tenho uma igrejinha no andar de baixo, uma capela, e guardo o meu pai e o meu filho lá.”

Quando Piers Morgan lhe pergunta se fala com eles, responde que sim: “Falo. Muitas vezes e eles estão Ao meu lado. Ajudam-me a ser um homem melhor, uma pessoa melhor, um melhor pai. É algo que me deixa muito orgulhoso… a mensagem que eles me passam, especialmente o meu filho.”

Ronaldo revela ainda o terrível momento em que chegou a casa só com Bella Esmeralda e os filhos mais novos — Eva e Mateo, de cinco anos, e Alana Martina, de quatro — perceberam  que Angel não tinha sobrevivido. “Gio chegou em casa e as crianças começaram a perguntar ‘onde está o outro bebé, onde está o outro bebé? mãe’, ao redor da mesa”, e que ao fim de uma semana combinou contar então o que tinha acontecido em linguagem que entendessem: ‘Dizemos que é um anjo, que é o nome dele, e que ele vai para o céu’.”

CR7 contou ainda que com filho mais velho, Cristiano Jr., de 12 anos, foi mais difícil, e que quando lhe foi dar a notícia ao quarto, chorou com ele.

Agora, seis meses depois, Ronaldo diz que Angel continua a fazer parte da sua vida quotidiana. “As crianças entendem, há gritos à volta da mesa e eles dizem ‘Papá, eu fiz isto pelo Angel’ e apontam para o céu. Eu gosto, porque faz parte da vida deles. Não vou mentir aos meus filhos, digo a verdade, porque foi um processo difícil”.