A exposição “Quem conta um conto…”, de Paula Rego (1935-2022), é uma viagem entre 1975 e 2004 através de 21 obras, que exploram temas como a condição feminina, violência e aborto, e que foi inaugurada em Serralves, no Porto, esta sexta-feira.

“É uma viagem, porque permite ver o percurso da Paula Rego. Temos obras desde 1975 até 2004, portanto o período é suficientemente abrangente para conseguirmos ver o percurso da artista”, resumiu aos jornalistas Isabel Braga, curadora da exposição “Quem conta um conto… Paula Rego na Coleção de Serralves”, formalmente inaugurada no Museu de Serralves, apesar de já estar aberta ao público desde o final de outubro.

À margem de uma visita para a imprensa, Isabel Braga disse que a mostra tem 21 obras, sendo 20 do acervo de Serralves, algumas delas depósitos, e uma de um colecionador privado.

“O título da exposição fala justamente de quem conta um conto, acrescenta um ponto e é um pouco isso. Por um lado, a Paula Rego vai buscar os seus temas a contos populares tradicionais, a temas literários, a histórias da sua infância e com essas informações ela vai-nos contar várias histórias. Cada quadro dela é uma história, ou seja, ela vai acrescentar algo ao conto original. Para além disso, todos nós vamos também acrescentar a nossa própria interpretação e vamos dar a nossa própria leitura das coisas com base no nosso conhecimento”, afirmou a curadora.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A exposição revela a “linguagem extremamente singular” que Paula Rego foi construindo desde o início da sua carreira, acrescentou Isabel Braga.

“Desde o início da carreira [de Paula Rego] que há crítica ao regime político da altura e depois ao longo de todo o seu trabalho até às obras mais recentes, que é precisamente essa crítica ao poder, ao totalitarismo. Ela é uma pessoa que teve sempre o seu modo de pensar muito livre, que era caracterizada por uma certa desobediência aos padrões”, realçou.

Isabel Braga explicou que a exposição não é “oficialmente uma celebração do 25 de Abril”, mas mostra as críticas ao Estado Novo que Paula Rego fez pela arte ao longo de toda a sua carreira.

“Muitas das suas obras fazem referência justamente aos anos de infância em que ela viveu num Portugal cinzento, e de onde saiu aos 17 anos, porque o pai, que era uma pessoa liberal e proveniente de uma classe social alta, foi capaz de perceber que o Portugal daquela época não era um país para uma mulher e, portanto, Rego foi estudar para Inglaterra, onde estudou artes em Londres, e onde teve a possibilidade de fazer uma carreira e de viver uma vida bastante diferente daquela que teria vivido se ficasse em Portugal”, frisou a curadora.

Organizada no ano em que Paula Rego morreu, a exposição mostra um conjunto de gravuras em torno do tema “Menina e cão” e que foram executadas em 1987, como a “Menina sentada num cão”, “Menina com homem pequeno e cão”, “Quatro meninas a brincar com um cão” e “Menina com a mãe e um cão” ou “Histórias de embalar”, sobre uma cena de violência em que o cão ataca um homem, sob as ordens da menina.

O universo dos contos infantis pode, por exemplo, ser apreciado com a obra “Children and their Stories” (1989), que conta a história de um grupo de crianças que dança de mãos dadas, numa roda.

“Quem conta um conto…” fica patente em Serralves até 30 de abril de 2023.