O candidato derrotado nas eleições presidenciais da Guiné Equatorial disse este sábado que os votos que reelegeram Teodoro Obiang foram “abertamente roubados” e não se mostrou surpreendido com a votação de 94,9% anunciada esta tarde pela Junta Eleitoral Nacional.
“Já sabíamos que Obiang ia fazê-lo, nem ele próprio acredita que 100% dos equatoguineenses o amam, por isso tem que roubar abertamente os votos, porque não acredita na vontade popular, só na força das armas com que chegou ao poder”, disse ao telefone Andrés Esono à agência de notícias espanhola EFE, na sequência do anúncio de mais um mandato do mais duradouro Presidente a nível mundial.
Teodoro Obiang, ganhou as eleições presidenciais, tendo recolhido 405.910 dos 411.081 votos, ou seja, 94,9% anunciou este sábado a Junta Eleitoral Nacional, avançando para o sexto mandato de sete anos.
Obiang é, assim, “solenemente presidente eleito da República da Guiné Equatorial por um novo mandato de sete anos”, disse o ministro do Interior, que é também o presidente da Junta Eleitoral Nacional, Faustino Ndong Esono Ayang.
Em declarações à Lusa antes do anúncio dos resultados finais, Andrés Esono afirmou que as eleições no passado domingo foram “uma fraude total” e os relatórios das missões de observadores eleitorais da União Africana e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) são, respetivamente, “falso” e “ambíguo”.
“Não espero nada de uma missão de observação eleitoral que represente governos”, afirmou o líder do único partido da oposição que pôde concorrer às eleições presidenciais, legislativas — câmaras alta e baixa do Parlamento – e municipais, Andrés Esono Ondo, secretário-geral da Convergência para a Democracia Social (CPDS).
As “eleições foram totalmente irregulares, o voto foi público em toda a periferia do país, com exceção da capital, Malabo”, criticou o líder da oposição.
“No resto do país, o voto foi público e múltiplo, com muitas pessoas a votarem várias vezes; com pessoas que votaram por outras pessoas; expulsaram os nossos representantes nas mesas eleitorais; as atas do escrutínio feitas por cada colégio eleitoral foram ocultadas, não temos nenhuma cópia delas porque não quiseram dar-nos nada”, acrescentou o político equato-guineense.
Andrés Esono ficou em segundo lugar na votação, com 9.684 votos, e na terceira posição ficou o líder do Partido da Coligação Social Democrata (PCSD), também na oposição mas próximo do partido do Presidente, Buenaventura Monsuy Asumu, com 2.855 votos.
Para além da votação presidencial, os equatoguineenses escolheram também os representantes no Parlamento, tendo o partido de Obiang ficado com todos os lugares, para além dos 55 do Senado, o mesmo acontecendo com os 58 lugares em disputa nos municípios, que foram todos para membros do Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE).
Os resultados definitivos têm agora de ser validados pelo Tribunal Constitucional, disse o ministro do Interior, que colocou a participação eleitoral nos 98%.
Dos 419.807 eleitores equatoguineenses, houve 413.148 que exerceram o seu direito de voto em 1.533 mesas de voto, o que significa que houve 411.081 votos válidos, para além dos nulos e dos colocados em branco, de acordo com a agência espanhola de notícias, a Efe.
Teodoro Obiang, atualmente com 80 anos, governa com “punho de ferro” um pequeno país rico em petróleo desde 1979, na sequência de um golpe de Estado em que derrubou o seu tio e ditador sanguinário Francisco Macias Nguema, e é o Presidente há mais tempo no poder em todo o mundo, somando agora mais aos cinco mandatos que já cumpriu.
A Guiné Equatorial é o país africano com o maior Produto Interno Bruto (PIB) ‘per capita’, e o terceiro maior exportador de petróleo do continente, mas a maior parte da sua riqueza continua concentrada nas mãos de poucas famílias, entre as quais, à cabeça e de longe, as da família Obiang Nguema. A larga maioria dos equato-guineenses vive em condições de pobreza extrema, apesar de o país registar um PIB per capita de 11 264 dólares em 2022, que o coloca em 70º lugar no mundo, à frente de países como o México, Turquia e África do Sul.
A antiga colónia espanhola aderiu à CPLP em 2014, mediante um roteiro de adesão, que incluía a abolição da pena de morte – o que aconteceu em setembro passado – e a disseminação da língua portuguesa, que declarou como língua oficial, a par do espanhol e do francês.