De um lado, uma geração inteira à procura de voltar à glória de outros tempos. Do outro, um país inteiro à procura de se apaixonar por um futebol em que a bola é redonda e não oval. Países Baixos e Estados Unidos davam o pontapé de saída nos oitavos de final do Mundial do Qatar, depois de os primeiros terem sido líderes no Grupo A e os segundos terem ficado na segunda posição do Grupo B, e definiam a primeira seleção apurada para os quartos de final.
Os Países Baixos venceram Senegal e Qatar na fase de grupos, empatando apenas com o Equador, enquanto que os Estados Unidos empataram com o País de Gales e Inglaterra antes de vencer o Irão. No Estádio Internacional Khalifa, este sábado e apenas um dia depois de terem ficado decididos os últimos emparelhamentos dos oitavos de final, encontravam-se — e tanto Van Gaal como Gregg Berhalter tinham noção da dificuldade do obstáculo.
Os ????????EUA estão em desvantagem no marcador pela 1.ª vez neste Campeonato do Mundo#Qatar2022 #FIFAWorldCup #NED #USA #MundialnaSportTv pic.twitter.com/ntdZmqx7hj
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“Eles têm uma equipa excelente, diria até que têm uma das melhores equipas. Vai ser um jogo difícil mas não é nada que não possamos ultrapassar, também temos uma boa equipa. Mas não quero subestimar os Estados Unidos. Acho que são um exemplo daquilo que é uma boa equipa. Existem várias seleções que se apuraram que não são boas equipas mas que têm qualidade individual”, explicou o selecionador neerlandês.
Já Gregg Berhalter, que reencontrava um futebol que bem conhece — jogou seis anos nos Países Baixos nos anos 90 –, olhava para a eliminatória como uma “boa oportunidade”. “Mas não é uma coisa para a qual olhamos como se fosse uma grande honra. Merecemos estar na posição em que estamos. E queremos continuar. Não queremos voltar para casa no sábado. A partir daqui, tudo pode acontecer. Tudo o que temos de fazer é jogar um jogo de cada vez. Nem sequer existe a necessidade de projetar até onde é que esta equipa pode ir”, indicou o treinador norte-americano.
Depay ultrapassa Huntelaar e isola-se como 2.º melhor marcador de sempre da seleção ????????
+ golos pela seleção ????????:
50 van Persie????
43 Depay⬆
42 Huntelaar
40 Kluivert
37 Bergkamp
37 Robben#Qatar2022 #FIFAWorldCup #NED #USA #MundialnaSportTv pic.twitter.com/vpqXrzBuiA— Playmaker (@playmaker_PT) December 3, 2022
Ora, neste contexto, Van Gaal voltava a dar a titularidade a Depay e colocava Klaassen e Gakpo também no ataque, deixando Berghuis e Bergwijn no banco. Já Berhalter, que tinha Pulisic recuperado depois de um susto no último jogo da fase de grupos, lançava o avançado do Chelsea e também Jesús Ferreira e Tim Weah na ausência de Josh Sargent, que se lesionou. Pulisic teve a primeira grande oportunidade do jogo, ao aparecer a rematar na cara de Noppert mas permitindo a defesa do guarda-redes do Heerenveen (3′), mas depressa a eficácia neerlandesa foi colocada em prática.
Na conclusão de uma grande jogada de transição ofensiva, com Dumfries a receber no corredor direito para depois cruzar atrasado para a grande área, Depay apareceu sem oposição a rematar de primeira para abrir o marcador (10′). Os Estados Unidos procuraram reagir à desvantagem ao longo de toda a primeira parte, com Weah a ter a melhor ocasião com um pontapé forte de fora de área que Noppert afastou (43′), mas a frieza dos Países Baixos regressou já nos descontos. Dumfries voltou a desequilibrar na direita, voltou a cruzar rasteiro e atrasado e Blind, também de primeira, atirou para aumentar a vantagem (45+1′) e colocar os neerlandeses a vencer confortavelmente ao intervalo.
1.ª vez que Dumfries fez 2 assistências no mesmo jogo ao serviço da seleção ????????
⚠Há 2 anos que Dumfries não fazia 2 assistências no mesmo jogo: novembro 2020, ainda pelo PSV#Qatar2022 #FIFAWorldCup #NED #USA #MundialnaSportTv pic.twitter.com/9RPYDcIDx2
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Van Gaal lançou Bergwijn e Koopmeiners ao intervalo, Berhalter apostou em Gio Reyna e o resultado — entre a insistência norte-americana e o calculismo neerlandês, que tinha como objetivo jogar no erro do adversário e aproveitar deslizes para soltar o contra-ataque — só voltou a alterar-se já no último quarto de hora. Os Estados Unidos reduziram por intermédio de Wright, que desviou um cruzamento de Pulisic (76′), e Dumfries acrescentou um golo às duas assistências para fechar as contas já perto do fim (81′).
Os Países Baixos venceram os Estados Unidos e tornaram-se a primeira seleção apurada para os quartos de final do Mundial do Qatar, ficando agora à espera do vencedor do duelo entre Argentina e Austrália para saber quem encontram na próxima ronda. Já os norte-americanos apresentaram ao mundo uma nova geração que vai estar no próximo Campeonato do Mundo, disputado em casa, no Canadá e no México, e deixaram claro que este país já conhece melhor o futebol que se joga com a bola redonda e não com a bola oval.
Os ????????Países Baixos estão nos quartos de final do Campeonato do Mundo pela 5.ª vez (1994, 1998, 2010, 2014, 2022)
⚠Em 1974 e 1978, os ???????? chegaram à final, mas não existiam quartos de final – havia uma 2.ª fase de grupos#Qatar2022 #FIFAWorldCup #NED #USA #MundialnaSportTv pic.twitter.com/ZwqVvXBT6K
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A pérola
- De forma quase inevitável, Denzel Dumfries. O lateral do Inter Milão, que tem passagens pelo Sparta Roterdão, pelo Heerenveen e pelo PSV, fez as duas assistências para os dois primeiros golos dos Países Baixos com movimentos semelhantes pelo corredor direito e ainda colocou a cereja no topo do bolo com o terceiro golo que fechou as contas. Aos 26 anos, Dumfries tem sido dos elementos mais constantes da seleção de Louis van Gaal e foi o principal desequilibrador a desmontar a defesa norte-americana.
O joker
- Mais uma vez, Memphis Depay. O avançado do Barcelona, que já tinha sido titular contra o Qatar, voltou a integrar o onze inicial dos Países Baixos contra os Estados Unidos e regressou aos golos três meses depois para se tornar o segundo melhor marcador da história neerlandesa. Depay chegou ao Mundial limitado fisicamente, foi apenas suplente utilizado nas duas primeiras jornadas da fase de grupos mas parece estar a recuperar ritmo, intensidade e até o golo — e é claramente um reforço para as próximas eliminatórias.
A sentença
- O sonho teria de chegar ao fim e o fim foi nos oitavos de final. Depois de uma fase de grupos muito positiva, com a conquista do apuramento em detrimento do Irão e do País de Gales, os Estados Unidos não conseguiram responder à superioridade dos Países Baixos e caíram ao quarto jogo no Qatar. A seleção de Gregg Berhalter, que nunca desistiu do resultado e sofreu o terceiro golo numa altura em que procurava o empate, demonstrou algum do melhor futebol que se viu no Campeonato do Mundo e é um conjunto a ter em conta nos próximos anos.
A mentira
- Van Gaal foi acusado pelos jornalistas dos Países Baixos de produzir um futebol “aborrecido” e a partida dos oitavos de final contra os Estados Unidos mostrou que esta seleção é tudo menos aborrecida. Os neerlandeses têm vertigem, principalmente pelos corredores e através da velocidade de Dumfries da direita e da profundidade de Gakpo, e chegam muito perto da perfeição sempre que lançam o contra-ataque. Jogam no erro do adversário quando em vantagem, é certo — mas a qualidade demonstrada do meio-campo para a frente não aborrece ninguém.