Enviado especial do Observador em Doha, no Qatar

O tom mais baixo, um timbre mais sério, a predisposição para responder ao que sabia que ia ser perguntado. A imagem daquele Fernando Santos mais sorridente do que é costume que se viu por exemplo em vésperas do início de Mundial com o Gana foi-se desvanecendo com o passar dos dias de competição. Ainda houve momentos de boa disposição, como quando lhe perguntaram quem seria a melhor seleção além de Portugal e respondeu por três vezes Portugal, mas foi uma conferência apesar de tudo mais séria e sobretudo com essa nota de não ter deixado nada por esclarecer. Nada incluindo a situação de Cristiano Ronaldo, claro.

Este domingo, antes do jogo com a Coreia do Sul, Tite, selecionador do Brasil, repetiu duas vezes a conversa da confiança. Ou seja, aquilo que o experiente técnico explicou (com outras palavras e expressões) foi que nunca passa informações falsas aos jornalistas, podendo é muitas vezes, como acontece com a equipa inicial, não revelar a informação que todos querem saber antes. Agora, Fernando Santos não necessitou de estar a propagar essa ideia mas passou da teoria aos atos a propósito do momento da substituição do capitão.

“Gostava de dividir a resposta a essa questão em dois momentos. Quando acabou o jogo, fui primeiro à flash e depois logo para a conferência. Disse e repito: lá no campo não ouvi nada, ele estava muito longe e só ouvi a discutir com o jogador da Coreia. Depois sim, vi as imagens. Já vi. Se gostei? Nada, não gostei mesmo nada. Mas isso a partir daí é uma situação que tem de ser resolvida em casa e depois temos é de pensar no jogo com a Suíça para ter aí o foco, assunto encerrado”, salientou o técnico nacional, sem querer nesta altura dizer se o capitão vai ou não manter-se como titular: “Só dou a equipa aos jogadores no estádio, sempre foi assim desde que cheguei. De resto, o assunto está terminado, resolveu-se em casa e todos estão disponíveis”.

Ou seja, e pela primeira vez talvez a nível de Seleção desde que se assumiu como titular a partir do Europeu de 2004 para a frente, não é Ronaldo e mais dez pelo menos no lançamento do encontro. No entanto, Santos passou ao lado de uma pergunta de um jornalista brasileiro sobre sondagens que davam conta de haver mais pessoas a não querer o número 7 como titular, bem como do acordo que terá fechado com o Al Nassr da Arábia Saudita. “Tenho muita pena, respeito o trabalho mas não leio isso, não vejo notícias… Em consciência, coloco sempre a equipa que considero melhor. Se acerto ou não, é outra coisa, depois até posso pensar que podia ter sido diferente”, referiu. “Ronaldo no Al Nassr? Não falei com ele sobre isso, nem sabia, quando cheguei é que ouvi dizer. É uma decisão dele, está focado no Mundial, o resto não sei…”, acrescentou.

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Poderá Ronaldo ficar no banco? Para já, ainda ninguém consegue dar esse salto para uma realidade nunca antes vista. No entanto, passa a ser no mínimo uma possibilidade, com Gonçalo Ramos e André Silva a serem as alternativas mais fortes para a posição numa equipa que deverá contar do meio-campo com três regressos: Bruno Fernandes, Bernardo Silva e João Félix. Já no centro estão as maiores dúvidas, com duas posições a serem discutidas entre João Palhinha, Rúben Neves, William Carvalho, Vitinha, Matheus Nunes, Otávio e João Mário. Pelas últimas apostas, Rúben Neves e William Carvalho seriam os eleitos mas tudo dependerá da ideia que o selecionador terá para o encontro mantendo a mesma filosofia de jogo.

“Somos favoritos mas para alguns, o adjunto da Suíça disse que eles eram favoritos… Com toda a autoridade entende isso, que tem capacidade. Nós também achamos que sim mas é um jogo. Acreditamos que é possível. Se agora passámos de candidatos a favoritos nesta fase? Cada jogo que passa somos mais favoritos mas isso é tudo no papel, obrigação temos sempre porque jogamos por Portugal. É bom sentir isso, queremos muito ganhar. Os confrontos com a Suíça são duros. É uma equipa muito bem organizada, sabe bem o que quer do jogo, estando a perder por 2-1 jogou sempre mesma forma. Nunca perde o foco. Não é uma equipa defensiva, manteve a mesma estrutura”, adiantou ainda o selecionador após a derrota com a Coreia do Sul.

“O gozo de preparar um jogo destes é sempre o mesmo, se não tivéssemos preparado bem antes não estávamos aqui. Quando revi o jogo depois cheguei à conclusão que na primeira parte a equipa de Portugal jogou mesmo bem. Se não fosse aquele detalhe da Coreia, tivemos também cinco ou seis oportunidades… Na segunda parte não conseguimos estar tão assertivos mas voltámos a ser penalizados num detalhe. Nos três jogos que fizemos, os detalhes é que fizeram a diferença”, concluiu Fernando Santos.