Enviado especial do Observador em Doha, no Qatar

Em condições normais, este seria aquele início de dia com Ronaldo, por Ronaldo e para Ronaldo onde não se falaria de outra coisa que não fosse a condição de suplente em que o capitão da Seleção foi colocado no jogo com a Suíça. Ao invés, e tendo já passado o impacto da decisão que surpreendeu meio mundo hora e meia antes do apito inicial do último encontro dos oitavos do Campeonato do Mundo, não houve propriamente a enxurrada de notícias em torno do avançado que se esperava. Também houve o aparecimento do fenómeno Ramos, a goleada em si ou a eliminação da Espanha a desviar em parte os holofotes mas a decisão de Fernando Santos deixou de ter o peso que teria noutros tempos – e isso também se nota na imprensa.

“Cristiano Ronaldo foi reduzido ao papel da super estrela que ninguém quer depois de Portugal ter seguido o papel do Manchester United ao decidir que poderiam ser melhores sem contar com ele”, escreve a BBC num resumo da perceção transversal por estes dias do papel a que o capitão foi colocado esta época. Já Gary Neville, antigo companheiro do Manchester United com quem admitiu estas zangado por críticas que o ex-defesa fez publicamente, alinhou pelo mesmo diapasão no que toca à atual posição do número 7.

“Quando aconteceu no Manchester United, diziam que era o Ten Hag estava a tentar estabelecer autoridade. Fernando Santos é um treinador que tem uma relação inacreditável com Ronaldo há oito anos mas há muitos adeptos que não estão dispostos a dizer a verdade. Ele precisa de ouvir a verdade, que lhe digam que esta reta final de carreira está desalinhada. Não seria surpresa se ele hoje [ontem] entrasse e marcasse o golo da vitória, mas o andar dele, o mau humor… São coisas que têm de parar, não lhe ficam nada bem”, começou por apontar o antigo internacional inglês em declarações à ITV.

“O seu legado a longo prazo já está definido. É um dos melhores de todos os tempos. Mas a curto prazo, tem de fazer muito melhor. O treinador da Juventus estava errado? O treinador do Manchester United estava errado? E agora, o de Portugal também está errado? Há três que fizeram a mesma coisa”, completou.

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“Não há nenhum problema entre o Fernando Santos e o capitão da Seleção nacional, somos amigos há muitos anos. Os jogadores tomam decisões. As coisas não nos afetam. Já expliquei, essa parte ficou completamente sanada e ele deu um grande exemplo de grande capitão”, tinha destacado o técnico depois do jogo, colocando de parte ainda qualquer vestígio de castigo pelo que se passou na altura da substituição no encontro com a Coreia do Sul e reforçando sempre que se tratava de uma opção técnica.

Nesse contexto, a única “notícia” que saiu da partida com a Suíça (além do desejo de melhoras para Pelé, que deixou em dois momentos distintos), nomeadamente da passagem pela zona mista após o encontro no Estádio Lusail, foi mesmo a recusa de um cenário de transferências para o Al Nassr da Arábia Saudita a troco de 500 milhões de euros. “Não, não é verdade”, atirou. Com isso, o avançado abriu outra questão: se na verdade não existe essa possibilidade de rumar ao Médio Oriente a partir de 1 de janeiro com um contrato de dois anos e meio, por onde passará o futuro do capitão da Seleção quando acabar o Mundial sendo um jogador livre e com o passe na mão depois de ter chegado à rescisão de contrato com o Manchester United?

Em defesa de Ronaldo, Kátia Aveiro, irmã do jogador, voltou a apontar a mira aos críticos do avançado. “Portugal ganhou. Graças a Deus. Novos talentos brilharam. Maravilhoso. Vamos ganhar isto? Eu acredito que sim! No campo gritaram por Ronaldo. Não foi por Portugal estar a ganhar… E não sou eu que digo isto. O mundo assistiu. Porque será? E nem isto invalida a pequenez de grande parte do povo português. E isto é o que não está bem, porque continuam a maldizer, continuam a insistir na ofensa e na ingratidão (…) Queria tanto que ele viesse para casa, deixasse a Seleção e se sentasse do nosso lado para o abraçarmos e dizermos que está tudo bem, lhe fazer lembrar o que ele conquistou e de que casa ele veio, queria tanto que ele não fosse mais para lá, já sofremos que chegue (eles nunca irão saber o quanto). Tu és grande e os pequenos não percebem o quão enorme tu és… Vem para a tua casa. Que é onde te compreendem, onde te abraçam. Como sempre foi. Onde tens toda a gratidão. E não ingratidão. Obrigada Ronaldo”, escreveu.

Já esta manhã, no regresso da equipa aos trabalhos para um treino diferente do que é habitual por ser após um jogo, Cristiano Ronaldo acabou por ficar longe dos olhares de tudo e todos. Diogo Costa, Diogo Dalot, Pepe, Rúben Dias, Raphael Guerreiro, William Carvalho, Otávio, Bernardo Silva, Bruno Fernandes, João Félix e Gonçalo Ramos fizeram apenas trabalho de recuperação, tendo também o capitão em trabalho de ginásio como tinha acontecido na semana passada. Rui Patrício, José Sá, António Silva, João Cancelo, Rúben Neves, João Palhinha, Vitinha, João Mário, Matheus Nunes, Ricardo Horta, Rafael Leão e André Silva estiveram no relvado, ao passo que Nuno Mendes e Danilo continuam a recuperar de lesão.